Capítulo 5

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LARA BRACHMANN

Não é um lugar para pessoas como você.

Qual seria o lugar adequado para pessoas como eu? As pessoas me aguentam na Orgnização pela posição do meu pai e do meu tio, não por gostarem de mim. Eles pensam que são discretos, mas eu já ouvi todos os comentários e fofocas ácidas possíveis sobre as circuntâncias do meu nascimento.

Sou filha de uma prostituta, o que mais deveria esperar?

Acusações de ser fruto de um golpe? De a minha mãe ter aproveitado sua gestação para obrigar o meu pai a se casar? Já ouvi tantas versões diferentes sobre o meu passado que nada mais poderia me surpreender quanto a isso.

No início da adolescência, quando comecei a frequentar os eventos da Organização, tive uma crise de indentidade ao ouvir esse tipo de conversa. Meu pai precisou se trancar comigo na biblioteca para termos uma conversa sincera e aberta. Eu pude perguntar tudo o que queria e ele me respondeu sem ressalvas. Foi aí que descobri sobre minha mãe ser uma profissional do sexo antes de se casar com o meu pai. Ele gostava dela, mas o sentimento não era tão recríproco assim, já que ela começou um caso com o meu avô.

Meu avô a matou, como represália por ser uma prostituta interesseira e meu pai o matou, como vingança por ele ser um ser humano deplorável. Claro que essa parte da história eu só soube anos depois.

Meu pai foi a maior vítima de toda essa história. Se encantou por uma mulher interesseira e mentirosa e tinha um pai abusador e violento que ousou manter um caso com a prórpia nora para "provar o seu ponto". Uma longa sequência de infelicidades. Felizmente isso não afetou sua relação comigo. Luke Brachmann é um ótimo pai e sempre cuidou muito bem de mim.

Coisas ruins acontecem com pessoas boas. Mesmo que meu pai não se considere uma boa pessoa e suas atividades sejam bastante questionáveis no viés legal e moral, ele é um pai excelente. Posso não aprovar seu hábito de falar palavras feias, suas habilidades musicais podem ser horríveis, se estressa com extrema facilidade e ele não é capaz de desenhar uma linha reta com um pincel e uma tela, mas são esses detalhes que o tornam incrível.

Apesar de tudo, tenho uma família feliz e próxima à sua maneira. Claro que tia Melissa e minha mãe, Ellie, fizeram algumas intervenções para melhorar nossas relações pessoais, mas hoje estamos bem.

Nunca fui inconsequente ao ponto de fazer loucuras para me provar certa, mas a fala de Sebastian feriu algum lugar na minha mente que exige algum tipo de reparação. Se até o chefe de segurança sabe que Sebastian frequenta lutas ilegais, e certamente as assistiu em algum momento, por que eu deveria me manter na caixinha que ele está me impondo?

Não sei se são meus sentimentos platônicos despertando o desejo de provar que ele estava errado ou uma necessidade de mostrar a mim mesma que posso ir aonde quiser, quando quiser e fazer o que tiver vontade sem me preocupar com os estereótipos impostos sobre a minha pessoa. Eu me afastei dos eventos da Organização, me afastei da vida pública e de qualquer tipo de lugar que possa me taxar de alguma forma, mas até quando precisarei fugir para me sentir bem ao invés de enfrentar o problema?

Não quero soar como uma adolescente conflituosa fazendo loucuras para chamar a atenção. Sou uma mulher adulta tentando enfrentar suas questões internas, seus medos e inseguranças. Eu sei qual é o meu problema e agora preciso decidir o que fazer quanto a isso.

— O que é isso? 

Sua voz grossa e muito próxima me desperta do meu estopor. Salto da poltrona em que estou para encontrar Sebastian de pé atrás do móvel, com o tronco inclinado em minha direção e as mãos unidas em suas costas. Hoje ele está vestindo uma camisa branca que destaca bastante a tinta em sua pele. As tatuagens estão por toda a parte, pescoço, braços e até nos dedos. Ele ainda tem o corte no nariz, em processo de cicatrização, que certamente ganhou em uma de suas lutas.

— Você me assustou!

— Desculpe, senhorita. Não foi a minha intenção. — Engulo em seco e aceno em concordância, sentindo-me tímida por tê-lo tão próximo a mim em um momento de distração. — Você parece se distrair com muita facilidade.

— Quando não estou nervosa, costumo pensar mais que falar.

— Está fazendo algum tipo de arte abstrata? — Sinaliza com o queixo para o meu caderno de esboços. Olho a folha que estava rabiscando enquanto me perdia em pensamentos e faço uma careta ao ver o emaranhado de linhas e círculos sem qualquer sentido.

— Deveria ser o esboço de um quadro. — Arranco a folha, a amasso e a jogo próximo das outras que fiz anteriormente na mesa de centro. Preciso arrumar toda a bagunça, de qualquer maneira. — Quero fazer um quadro signifcativo, mas ainda não encontrei o que quero pintar.

— Você quer algo significativo sem saber o que significa? — Arqueia uma sobrancelha para mim.

— A arte é complicada. — Passo a mão nervosamente por meu rabo de cavalo, sentindo meus dedos roçarem na fita de cetim rosa que usei para prender meu penteado. — O que está fazendo aqui?

— Ronda interna.

— Quantas vezes precisa fazer essa ronda?

— A cada hora. Seu pai me designou para fazer a sua segurança e é nisso que estou trabalhando.

— Não há necessidade de tantas averiguações. Nada de emocionante acontece por aqui e apesar de saber que meu pai e meu tio confiam em você, haveria um batalhão de seguranças aqui se a ameaça fosse realmente preocupante.

Isso é um fato! O que meu pai tem de amoroso tem de protetor e se houvesse uma ameaça séria acontecendo ele não mandaria o Executor fazer a segurança, não sem um pequeno exército para ajudá-lo e garantir que haja brechas que comprometam nosso resguardo. É um dos motivos para eu não ter emergência em contatá-lo para esclarecimentos. O farei em breve, mas não hoje.

— Eu prefiro ser eficiente no meu trabalho e rondas constantes garantem maior segurança e menor margem para erros evitáveis, senhorita.

— Não pedi que me chamasse pelo meu nome?

— Sim, senhorita.

A Artista - Série Mafiosos 0.5Where stories live. Discover now