Capítulo 52

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A manhã fria não amedrontou os atacantes do Tottenham, que estavam na varanda de Richarlison, sentados na grama, em frente a trave de gol que o rapaz tem no quintal. Os dois mantinham certa distância, como se ainda houvesse algo indeliberado entre eles, embora tenham passado a noite com as mãos um no outro. Richarlison observa Son passar os dedos no pelo do cachorro distraidamente, rindo suave quando o bichano demonstrava gostar da atenção do coreano.

- Qual o nome mesmo? - Son pergunta acariciando gentilmente as orelhas do animal.

Acerola. - Richarlison pronuncia tal qual sua língua materna exigia, o que fez Son franzir a testa. - Acerola. - Repete, mais lentamente.

- O que significa? - Quando Son o olha, o rapaz levanta os ombros.

- É uma fruta no Brasil e também é o nome de um personagem de um filme. Cidade dos homens. - A expressão de Son permanecia incerta. Richarlison suspira, apoiando o seu peso em um dos braços, ocupa-se em brincar com a grama com a outra mão. - Cidade dos homens é um filme. Vou te mandar para você ver como funciona as favelas de lá.

Acerola? - A pronúncia de Son poderia ser pior, mas arrancou um sorriso surpreendido do brasileiro. Com um aceno de Richarlison, o mais velho encara o cachorro com um sorriso. - Você é fofo, Acerola. É um pouco difícil pronunciar.

- É, não é um problema meu. - Richarlison ignora a linha expressiva de desgosto que perpassou a face de Son; deitando-se no chão, encara o atacante mais velho.

- O que é? É melhor você dizer o que está pensando para não explodir. - O tom de Son saiu calmo, contudo Richarlison pode escutar a inquietação por trás.

O brasileiro estava certo de que se deixou levar na noite passada, com isso não foi capaz de pensar acerca da situação como o todo, até porque ele geralmente nunca fazia isso. Só que, durante a noite, quando Son dormiu, o rapaz pegou-se reparando nos traços do mais velho, questionando-se se deveria seguir por aquele caminho. Não poderia enganar-se a ponto de dissimular que não sentiu falta de Son, de tocá-lo, de beijá-lo e tê-lo ao seu lado. Nem ao menos sabia dizer quando esse sentimento começou, apenas reconhecia que estava ali. No entanto, observando o mais velho descansar, uma dúvida surgiu vigorosa.

Son poderia deixá-lo de novo dentro de alguns dias.

Embora não soubesse muito sobre a relação do coreano com o pai, Richarlison tinha certa ideia da pressão que o mais velho sofria por parte paterna. Inclusive, o suficiente para forçá-lo a deixar o brasileiro sem pensar duas vezes. Quem garantia que assim que Son visse o pai, que poderia convencê-lo a manter-se distante, não cederia?

A verdade era que Richarlison não acreditava inteiramente em Son. Ele desejava poder dizer que sim, mas a situação parecia maior que os dois. Por mais que doesse imaginar tal cenário, o rapaz chegou a conclusão de que talvez Son não compartilhasse do mesmo sentimento que ele. Richarlison tinha noção de que Son gostava dele, entretanto, era possível que no meio do caminho o mais velho tenha estagnado. Por isso pode ter sido mais fácil para ele apenas ir embora. Não adiantava lembrar que Son disse que o amava dias atrás, porque - no fim - ele estava bêbado, e Richarlison não era crente da falácia de que todo embriagado era fiel à verdade, já que a bebida também poderia ser enganosa.

Ele não queria pensar assim, pois causava-lhe um sentimento doloroso e uma insana vontade de sair correndo.

Então, juntando o seu corpo ao de Son, foi com essas ideias em mente que o rapaz obrigou-se a dormir.

Richarlison repara na forma como o cabelo escuro pendia leve e solto sobre a testa de Son, bem  diferente de quando ele estava em campo. A postura aparentava relaxada, ainda que ressoasse estar cansado. A claridade permite-o notar os detalhes que tentou esquecer ou mal entendia que sabia de cor. Os olhos pareciam mais cautelosos do que na noite passada quando repousam em Richarlison. 

Gol no seu coração (2son fanfic)Where stories live. Discover now