Capítulo 2

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O jogo foi bom. Foi o que passou pela cabeça de Richarlison assim que o árbitro apitou. Contudo, provoca a si mesmo sabendo que poderia ter sido melhor o seu desempenho. Cometeu dois erros por mera bobagem de cálculo. Estava tão próximo do gol e, por duas vezes, conseguiu cometer desvios. Enquanto mantinha-se preso em sua cabeça, comprimentava os seus oponentes. No todo, foi um jogo fácil, mas não o suficiente para desmoralizar o esforço do outro time. Enquanto caminhava entre as camisas vermelhas e amarelas, avista um jogador em específico que ele mal se lembrava de quando gravou cada detalhe. Son estava apoiando ambas as mãos nos joelhos, cabeça abaixada. 

Saindo de sua própria bolha de crítica, se aproxima do amigo que rapidamente sente a sua presença. Son, como usual, puxa-o para si, uma das mão na nuca de Richarlison, acariciando gentilmente.

- Parabéns, pombinho. Você foi muito bem! - Son sussurra próximo ao ouvido de Richarlison, antes de pressioná-lo um pouco mais contra si e aproximar o nariz do pescoço do mais novo. 

Son Heung-Min 

Richarlison estava tenso. Embora sentia-se decepcionado consigo mesmo, não pode deixar de reparar no quanto o mais novo se cobrava. O tempo que compartilharam foi o suficiente para apreender como Richarlison demorava para deixar ir certas coisas relacionadas aos jogos. Provavelmente, imaginou, o outro estava se cobrando por algum erro técnico de sua execução. 

Se fosse em qualquer outro momento, sorriria. Mas estava abatido e chateado. Ao menos o cheiro do rapaz, como sempre, o acalmou e o consolou pelos segundos que o teve em seus braços. Ao se afastar, surpreende-se quando Richarlison enfia os dedos em seu cabelo. 

- Você foi muito bem também. Sustentou até o fim, esteja orgulhoso de si mesmo. 

Dessa vez, diante do comentário dito com uma expressão séria, Son sorriu. O garoto tinha dificuldade em demonstrar sentimentos, Son culpava a língua estrangeira a qual eles tinham que usar como intermediária. Richarlison não pronunciava exemplarmente e, com isso, encontrava dificuldades em expressar os seus pensamentos. Mas as suas palavras acalentaram um pouco mais o seu coração. 

- Vê se ganha. 

Richarlison sorri levemente, sem muita emoção. Compartilhando um meio abraço, os dois se afastam. 

=

Era doloroso para Son a perda. Lutou muito para chegar ao nível em que chegou e, infelizmente, não conseguiu alcançar o seu objetivo. Não culparia o seu time, eles deram e fizeram o seu melhor. Competições eram assim mesmo, só havia um vencedor. O Brasil era um time excelente e invejável, Richarlison era um bom atacante e fez conforme vem mostrando nos jogos com o Tottenham. 

A caminho para o hotel pensa, involuntariamente, em Richarlison. Não admitiria para ninguém, porém sabia que havia mais chances do Brasil ganhar do que a Coreia. Todos sabiam. Mas a esperança mantinha-se ali, já que eles chegaram nas oitavas passando por grandes times como a Alemanha. Jogar contra Richarlison foi a primeira vez, se desconsiderar os treinos. Em poucos meses o mais novo se mostrou uma pessoa de bom coração e, até certo ponto, ingênuo. Richarlison carregava uma aura positiva e tanta energia que era perceptível aos olhos mais céticos. O seu meio de comunicação, acima da linguagem truncada, eram as brincadeiras e as dancinhas aleatórias. Son gostava do jeito dele de ser, pôs na conta da cultura brasileira visto que era bastante pautada na musicalidade.

Infelizmente, o seu sonho de levar a taça para a Coreia acabou, mas torcia, em seu íntimo, para que Richarlison fosse até as finais. Sabia que ele tinha cacife para tal. 

Son ajeitava as suas coisas enquanto o seu colega de quarto, Kim Min-jae, se trancava no banheiro. Seu telefone toca e surpreende-se ao ver o nome de Charlie. Ele não gostava do encurtamento do nome, mas sempre deixava com que Son utilizasse o apelido. 

- Ei, estou te ligando para desejar que tenha uma volta tranquila para casa. Também para dizer que foi muito bom jogar com você. Perdedor. 

Son sorri, seu aborrecimento decrescendo notavelmente. 

- Obrigado. Agora faça a sua parte e elimine os outros times também. Não fique apenas se gabando. 

Richarlison faz o seu habitual estalar de língua, ele fazia demasiado som quando queria ignorar algo. 

- Mas é sério, você já é um guerreiro, cara. Não consigo dizer muito porque você sabe que meu inglês é ruim. Só consigo lembrar da palavra magnífico. 

- Eu sei que sou magnífico. 

- Fala sério, ou! - Richarlison murmura em português, mas Son reconhecia aquela sequência de palavras, ele repetia com frequência. - Boa noite. Vou comemorar. - Son percebe que não havia tanta animosidade no tom do outro. 

- Pare de se culpar, você fez o seu melhor. Vai lá, agora eu tenho que ir embora daqui. Pelo menos vou descansar por um tempo antes dos treinos retornarem. 

- Não sinta minha falta, estarei ganhando o Hexa pro Brasil. 

Finalmente a alegria e a risada boba estavam ascendendo na voz de Richarlison. Son sorri, sentindo-se infinitamente melhor que minutos atrás. Ele se sentia um idiota às vezes. 

Ao desligar, percebe que Kim Min-jae estava o encarando, um semblante franzido, mas nada diz. 

Agora teria que encarar os entrevistadores, mais do que já havia feito horas atrás. Sabia que alguns de seu país estavam decepcionados com ele. Teria de lidar com isso, não estava mais em sua alçada mudar o rumo da seleção. 

O conflito em seu peito era novo. Ao mesmo tempo em que se sentia triste pela sua grande perda, conseguia identificar o orgulho de Richarlison. Queria poder assistir o sorriso que saía sempre de maneira boba pessoalmente… refreando seus pensamentos fecha sua mala e faz o caminho da vergonha. 

Gol no seu coração (2son fanfic)Where stories live. Discover now