Capítulo 50

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Richarlison encarava o chão firmemente. As mãos entre as pernas, os dedos travando uma disputa informal. Seu rosto nada deletava. Durante todo o monólogo de Son, que tentou ao máximo ser sincero, mesmo que a azucrinante vergonha debatesse-se com cada palavra dita. O atacante mais novo, no entanto, parecia alheio ao desespero nos olhos de Son, que torcia para que o outro entendesse e o desculpasse. Minutos atrás, o beijo o surpreendeu ao mesmo tempo que o deu esperanças. Após ver Richarlison com a mulher mais cedo, sentiu que havia perdido-o. O que o motivou a continuar e tentar se aproximar foi a insistente verdade, afinal, mesmo que o rapaz seguisse em frente, Son ainda desejava romper com a distância que foi criada entre eles a partir de sua omissão.

Mas a forma como Richarlison olhou-o minutos atrás, disse exatamente o que o seu coração queria escutar. Agora, ele torcia para que o mais novo compreendesse. Son reconhecia que errou ao deixá-lo de lado. Hayun em muito somou para chegar a essa concepção, a qual, se fosse verdadeiro consigo mesmo, não teria a alcançado tão cedo sem ela.

- Você está bem? - Son queria poder dizer que sabia lê-lo, contudo seria enganar-se. Richarlison franze a testa, sem desviar seus olhos do ponto cego o qual limitava-se.

To, pô. Só tô pensando. - Murmura, sem parecer notar que a língua que falava, embora fosse foneticamente reconhecível para Son, não reconhecia a sintaxe ou os significados por detrás das palavras que a formavam.

- Você está falando em português. - Son engole em seco, desconfortável em não saber exatamente o que se passava pela cabeça do rapaz.

Foi mal. Eu estou bem. - A troca de idiomas levou Son a acenar.

Richarlison não parecia tão chateado conforme minutos atrás. O mais velho ficou atento a toda mudança fisionômica conforme foi contando-lhe o enredo avarento que os separou. Richarlison parecia incrédulo quando Son começou a falar, em questão de segundos todo o ar de enfurecimento esvaziou-se para dar lugar a um olhar fugaz. Richarlison, então, focava em muitas coisas na sala, menos em Son. Sua testa franziu e, por diversas vezes, ele abriu a boca, como se fosse interpelar o detalhado monólogo, mas nunca o fez. Até que assentou-se e fixou seus olhos confusos no chão liso.

- Eu sei que eu errei. Eu deveria ter te contado, compartilhado essa situação para que pudéssemos, pelo menos, encontrar um jeito em que nós dois concordássemos. - Respirando fundo, Son pressiona seus dedos contra o tecido do sofá. As batidas da música do lado de fora eram estarrecedoras, como uma sombra do coração ansioso do mais velho. - Me desculpe, eu errei. Eu admito. O jeito que eu fiz as coisas e terminei...Eu me arrependo disso. Espero que você possa me perdoar. Eu nunca quis te machucar, eu juro. Naquele momento, na minha cabeça, essa era a única saída Para falar a verdade, eu entendo que nunca foi a saída.

Em nenhum momento, Son tirou seus olhos de Richarlison, que processava - provavelmente - o que escutava.

- Essa música...eu conheço. - Richarlison retorna a murmurar. - Amanda gosta dessa.

Como um delicado item de porcelana, Son quase conseguia assistir em câmera lenta a sua esperança estilhaçar-se no chão. Ele não sabia quem era Amanda, mas desconfiava.

- Ela gosta do The Weekend? A garota que você estava beijando? - Trocando turno, a testa de Richarlison relaxa enquanto a de Son franze diante da própria pergunta.

- Sim. - O rapaz resume, deixando Son sem saber se a afirmação era em relação aos dois questionamentos ou apenas direcionado a um. - Die for you. Você conhece?

O suave tom que chegou aos ouvidos de Son quase podia ser tocado. Contrariando o arranjo espinhoso de antes, Richarlison pronuncia as palavras como se estivesse com medo de errá-las.

Inclinando a sua cabeça para trás, o rapaz apoia-se no sofá. Son reflete os seus movimentos. Os dois respeitando o silêncio um do outro. No fundo, a letra da música que Richarlison conheceu através da Amanda alcança-os e abraça a confusão dos sentimentos de ambos. Por mais desconhecida que Amanda fosse para Son, a sua existência condensou sentimentos que ele não desejava, no entanto não conseguia evitar e, durante quase cinco minutos, ele odiou mesquinhamente aquela música.

- Não. - Responde minutos depois em pura birra, embora ele conhecesse e tivesse dado a indicação de que sim ao dizer o nome do grupo, mas Richarlison não pareceu notar. 

- Eu entendo. - Son demorou alguns segundos para ajustar-se à resposta de Richarlison. Virando o rosto para o rapaz, encontra-o já o olhando. Son queria desesperadamente poder tocá-lo. O espaço físico entre eles parecia tão pouco, mas o medo de ser afastado amarrava seus braços unidos ao seu corpo. - Eu...eu não consigo pensar. Eu preciso... - Richarlison fecha os olhos e então os reabre. - Eu preciso pensar.

- Você acredita em mim? - O medo não se escondeu, saindo junto às vibrações vocálicas de Son.

- Sim. Eu acredito em você. - Os olhos de Richarlison recaem sobre a boca de Son, que não se importaria se o rapaz fizesse exatamente o mesmo de quando entraram naquela sala. - Eu preciso ir embora.

Richarlison solta um suspiro alto; movendo-se pelo o que parecia horas, quebra o contato visual com Son, apoia seus cotovelos nos joelhos e cobre o rosto com as mãos. Son podia escutar a sua respiração, o ato de inspirar e expirar; as costas do rapaz pareciam tensas e, mesmo que a raiva tivesse ido embora sem olhar para trás, tomou o seu lugar algo como um forte receio.

- Eu posso te levar, se não se importar. Eu não bebi. - Se Richarlison conseguia ouvir o desespero na voz de Son, não o denunciou. O mais velho só queria estender o máximo que podia estar com o rapaz. Talvez, quem sabe, convencê-lo de que os dois ainda poderiam funcionar juntos e, se não do modo romântico, que fosse do modo platônico. Naquele momento, Son não seria exigente. Ele precisava que Richarlison o perdoasse. Esse era o passo um.

- Seu pai tem nossas fotos? - Como se não pudesse escutá-lo e estivesse preso em seus próprios pensamentos, o que não seria nenhuma surpresa, Richarlison vira-se para Son, preocupação estampada em sua face.

- Sim. - Por enquanto.

Son tinha um plano. Ou Hayun tinha e passou para ele. O importante era a execução, mas tudo começava por Richarlison.

Resmungando algo incompreensível para os ouvidos do atacante mais velho, o brasileiro balança a cabeça de um lado para o outro, quase como se estivesse em uma conversa privada e discordando do argumento de seu oponente.

- Ok. - Richarlison diz repentinamente e levanta-se. Son, surpreso, observa-o caminhar até a porta, quando o rapaz toca a maçaneta vira-se para o coreano. - Você... - Richarlison volta a fechar os olhos e Son entendeu que ele estava tentando traduzir a frase para o inglês na sua cabeça. - Você me ofereceu carona. Eu aceito.

Son levanta-se rapidamente. O seu peito recolhe os cacos de porcelana e os guarda para si. O modo como Richarlison o olhou dos pés a cabeça não passou despercebido por Son, que ao parar na frente do rapaz confirma, em uma confissão interna e privada, que enquanto Charli continuasse a demonstrar que ainda retribuia parte dos sentimentos de Son, o mais velho não desistiria de tê-lo para si.

Ele finalmente estava pronto. 

Gol no seu coração (2son fanfic)Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu