CAPÍTULO 1 - Cecília e Alberto

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O despertador toca pela segunda vez. Cecília finalmente toma coragem para levantar. Não tinha tido uma noite muito boa. Estava cheia de preocupações, rolava para os lados sem conseguir dormir. Entretanto, a vida de quem é professora não permitia mais nenhum cochilo. É preciso estar na escola antes que os alunos cheguem. Ela é professora do quarto ano do ensino fundamental em uma escola particular tradicional e bem cara, São Pio de Pietrelcina. Somente filhos de pais abastados a frequentavam. A direção era bastante exigente com o corpo docente. A pontualidade era imprescindível.

Ela levanta apressada e vai direto se arrumar. Não teria tempo para o café. Comeria alguma coisa no intervalo entre as aulas. Ela põe a primeira roupa que encontra em seu armário, arruma o cabelo em um rabo de cavalo e sai. Entra no carro e segue para o trabalho.

***

Do outro lado da cidade, Alberto acorda com um susto. Alguma buzina do lado de fora da janela o despertara. Ele ainda está meio grogue. Bebera além da conta no dia anterior. Não lembrava bem como fora parar naquele apartamento. Ele procura o celular, estava no chão. Confere a hora. "Droga! Estou atrasado!" pensou ele. Tinha uma reunião no escritório dali a meia hora. Olhou para o lado e uma moça loira dormia nua ao seu lado. Não lembrava bem o nome dela. Marina... Marisa... Maísa... Não lembrava. Enfim, de qualquer forma, não fazia a mínima diferença.

Ele levanta de supetão, veste suas roupas o mais rápido que pode e sai porta afora sem se despedir e sem saber ao certo nome da moça. Muito provavelmente não voltaria a ver aquela pessoa mesmo. Ele pega um táxi e segue direto para seu compromisso.

***

Enquanto isso, Cecília para o carro no estacionamento da escola de qualquer jeito. "Espero não ter feito nenhuma barbeiragem com nenhum pai de aluno, dirigindo assim feito louca! Vai pegar muito mal!" Pensa ela. Não podia perder o emprego sob nenhuma hipótese. O salário não era ruim. Dava para cobrir suas despesas com folga. Contudo, ela havia feito uma dívida pesada, não tinha como guardar um centavo até quitar toda ela. Estava sendo pressionada por seu credor.

Ela caminha apressada até a sala dos professores.

- Bom dia, professora Cecília! - saúda a atendente da secretaria da escola ao vê-la passar.

- Bom dia, Sara! - responde Cecília, caminhando apressada.

Ela finalmente abre a porta da sala dos professores. Parece um tanto esbaforida.

- Bom dia, amiga! - cumprimenta Elisa, sua melhor amiga, também professora da escola. - Tá com uma cara de cansada! Você está bem?

- Dormi mal à noite... Pensando naquela dívida que te falei... Pra completar, acordei atrasada...

- Cecília, já te disse, você tem que falar com alguém que entenda dessas coisas para que possa te ajudar.

- Eu sei, Elisa, já marquei uma consultoria com um advogado para ver o que é possível ser feito... - responde ela.

- É, minha amiga, vê se resolve logo esse problema, pois está te deixando pirada... - diz Elisa.

- Sim... Sem dúvidas... Tenho que resolver tudo isso o mais rápido possível... - concorda ela.

***

Alberto arruma o cabelo pelo espelho do táxi, a caminho de seu escritório. O telefone toca. É Caio, seu sócio e melhor amigo. Ele atende.

- Fala, Caio.

- Alberto, por onde você anda, cara? Já são quase nove e meia. Esqueceu do nosso compromisso?

- Não esqueci. Estarei aí em, no máximo, dez minutos.

- Ok. Te aguardo - responde Caio.

***

Cecília dispensa os alunos, que correm para o recreio. Ela se encontra com Elisa e ambas caminham em direção à cantina quando Cecília recebe uma mensagem pelo celular.

- Droga! De novo! - reclama Cecília.

- Não me diga que é mais uma mensagem de cobrança! - diz Elisa.

- Sim, mais uma. São várias durante o dia. Sem parar, sempre de números de telefone aleatórios. Quase nunca se repetem.

- Quando é mesmo essa conversa que você marcou com o advogado?

- Depois de amanhã - responde Cecília.

- Então esteja presente na hora marcada, Cecília. Sem falta! Isso tem que ter um fim! - reforça a amiga.

- Com certeza, minha amiga... Isso já está me enlouquecendo!

***

Alberto chega às pressas em seu escritório. A Callegari & Lorenzoni Advocacia e Consultoria é um dos escritórios de advocacia mais bem sucedidos da cidade. Ele mal cumprimenta a secretária e já entra à procura de Caio.

- Sua cara tá um lixo - diz Caio.

- Bom dia pra você também, meu caro sócio - responde Alberto.

- Alberto Callegari, me diz que você não tava metido em confusão.

- Depende do que você considera 'confusão'...

- Do tipo de confusão do mês passado, quando você resolveu transar com a filha de um cliente.

- Pra seu governo, ela não era nenhuma adolescente. A 'criança' tinha mais de trinta.

- Ainda assim, meu caro sócio, não sei se você se recorda, mas deu uma merda do caramba.

- Então relaxa, que dessa vez eu não estava metido em confusão nenhuma.

- E vamos logo, que já estamos atrasados - reclama Caio.

Os dois seguem batendo boca até a sala de reuniões.

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