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Fabrício

Não sei dizer quanto tempo faz que tô sentado ao lado da cama de mãe, mas em algum momento o sol tomou o céu e fez algumas frestas entrarem pelas bordas da cortina que cobre a janela do quarto

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Não sei dizer quanto tempo faz que tô sentado ao lado da cama de mãe, mas em algum momento o sol tomou o céu e fez algumas frestas entrarem pelas bordas da cortina que cobre a janela do quarto. Pisco, sentindo as pálpebras pesarem uma tonelada, mas não me permito dormir, não ainda, não sem ver os olhos dela abertos. Movo a cabeça de um lado ao outro, sentindo alivio quando ouço os estalos nas articulações.

O telefone que Wesley deixou aqui em algum momento da noite começa a vibrar, pego ele mais para evitar que acorde mãe, do que esteja com vontade de atender. O número no visor indica que é desconhecido, inclusive o ID da chamada é de fora do país, atendo, já ficando em pé e cruzando o quarto.

— Alô! — saúdo quem quer que seja do outro lado.

— Fabrício, graças a Deus! — pai diz do outro lado da linha. — Eu soube do que aconteceu por aí e temi que tivesse se ferido.

— Pai? — Afasto o telefone, tentando lembrar de onde vi esse número de ID. — Onde o senhor tá?

— Até parece que eu vou lhe contar — diz com desdém. — Como teve coragem de me jogar no fogo assim, menino? Num percebeu que na hora que eu caísse tu e teu instituto ia junto?

O tom dele é de pesar, muito mais do que pensei que ia tá.

— Nem mesmo em Alagoas tu tava na hora que fiquei sabendo, pra que lhe tirasse de lá as pressas — ralha comigo. — Que imprudência, Fabrício, que imprudência!

— Como ficou sabendo das investigações? — indago, controlando o volume da minha voz, assim não perturbo sono de mãe.

— Ah, Fabrício, o que dinheiro e peia não resolver é porque foi pouco, no instante que meu nome apareceu no meio dos possíveis visitados pela Polícia Federal, um alerta chegou até mim e já faz mais de ano que venho esperando que a operação seja deflagrada, pude arrumar tudo pra nossa fuga facim-facim, mas tu como sempre fode com meus planos ao não me ouvir — diz, enraivecido ao final.

— Eu num fujo das minhas responsabilidades — rebato.

— Claro que não, é por isso que quase foi morto porque zé bostinha do filho do Gilmar, faltou muito pouco pra eu não pegar um avião de volta e estourar os miolos desse infeliz. Quem ele pensa que é pra se meter com meu filho, meu único filho!

Apesar da severidade, tem um toque de orgulho inesperado na voz dele.

— Eu num foi o melhor pai do mundo, tenho consciência disso, mas jamais quis lhe ver numa situação ruim, sabe disso não sabe?

— Depois da sujeira toda que me envolveu e a meu instituto, é meio difícil acreditar — sou honesto.

— Acredita que os empresários teriam ajudado vocês se não tivesse um esquema? Acorde pra vida, garoto, essa balela de preocupação com o meio ambiente que alguns pintam por aí é só isso, uma pintura, uma demonstração de virtude pra enganar trouxa. Tu sabe quanto pode se cobrar mais caro se temos um selo de amigos do meio ambiente?

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Where stories live. Discover now