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Raniely

— Teu pai já fez tanta coisa errada nessa vida, Rafinha, tchá! — Fabrício diz, estralando a língua, do jeito que faz quando tá nervoso

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— Teu pai já fez tanta coisa errada nessa vida, Rafinha, tchá! — Fabrício diz, estralando a língua, do jeito que faz quando tá nervoso. — Mas tu é a coisa mais certa que eu já fiz, mesmo eu só tendo descoberto que tinha feito há menos de um dia.

Observo a mão dele dentro da incubadora e tocando nossa filha que tem a cabeça inclinada em direção a ele, quase como se entendesse o que ele tá lhe contando.

— Eu já tanto você que dói meu peito e olhe que nem sabia que queria ser pais — continua, alheio a sua plateia. — Num tive os melhores exemplos de pai, mas eu lhe juro que não vou ser como eles, tu vai me ter na tua vida, mesmo que ... — pigarreia. — Eu vou ser o melhor pai que tu poderia ter, lhe juro, filha.

A enfermeira olha pra mim e vejo as lágrimas empoçando os olhos dela, pisco notando uma ardência nos meus e percebo que é as lagrimas que voltaram. Fungo e isso chama atenção dele, Fabrício vira e nos pega o observando a distância.

— E-eu, eh, a pedi a pediatra pra ver ela antes de ir pro hotel — ele fala, já voltando o olhar pra filha.

Toco na mão da enfermeira pedindo em silencio que me leve até minha pequena, ela compreende e me leva, colocando a cadeira bem ao lado de Fabrício, meus olhos vão para onde está a mão dele vejo que seu dedo indicador está envolto pela minúscula mão de Rafaela. Um nó se forma na minha garganta, o soluço me escapa antes que eu controle, essa cena foi imaginada por mim tantas vezes que perdi a conta.

— Querida, ficaremos só cinco minutinhos, tá bom? — a enfermeira me informa e com isso, Fabricio afasta um pouco para que eu consiga colocar a mão livre da intravenosa dentro da incubadora e tocar minha filha.

A pele dela me parece tão sensível que tenho medo de acariciar e acabar machucando ela, seus dedos não largam o do pai, nem quando eu toco sua outra mão. Eu bem sei como é ter as mãos de Fabrício como ancora, ele me segurou tantas vezes, foi meu confidente tarde da noite quando eu lhe falava sobre meus sonhos e planos, essas foi umas das dores mais profundas para mim, perdi meu melhor amigo junto com o amor da minha vida.

— Fale com ela, há quem acredite que recém-nascidos reconheçam a voz da mãe — diz a enfermeira diante da minha falta de reação. Balanço a cabeça e mesmo com a voz tremida falo com minha filha.

— Oi, filha... — as lágrimas deslizam pelo meu rosto livremente. — Eu tô tão feliz que você nasceu bem e saudável, tu mais linda do que eu esperava, te amo tanto, visse? Um amor que faz meu coração doer de tão grande que ele é.

Uma mão toca minha bochecha e quando olho pra cima vejo que é Fabrício secando minhas lágrimas, as deles também se desprenderam e rolam sem parar. Pisca os olhos daquele jeito que me diz que compreende o que estou de dizendo e assim continuo.

— Não vejo a hora de lhe ter nos meu braços de uma vez por todas, mas tu precisa ficar aqui um cadinho mais de tempo, até eles terem certeza de que é saudável e tá mais do que pronta pra enfrentar o mundo com a mamãe... — Meus olhos encontram o de Fabrício e vejo a promessa dele de antes pra nossa filha estampada neles. — E o papai. Vamos lhe amar muito, nunca vai sentir solidão.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Where stories live. Discover now