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Raniely

— Niely, já terminou? — Margarete pergunta colocando só a cabeça pra dentro da sala que divido com Joene

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— Niely, já terminou? — Margarete pergunta colocando só a cabeça pra dentro da sala que divido com Joene.

— Quase — respondo rindo.

Ela e Ana se tornaram boas amigas para mim, diferente de Joene que parece ver em toda mulher que se aproxima de Dagoberto uma ameaça velada a ela. Se ela soubesse que apesar da cara de cachorro largado na chuva que o chefe tem, meus olhos sempre estiveram voltados para o outro sócio, ela nem se preocuparia comigo.

— Quer ir num barzinho que inaugurou perto da Universidade lá em Maceió? Tem uns universitários bem bonitinhos por lá — diz, beijando as pontas dos dedos como se fosse um daqueles cozinheiros de filmes, pra demonstrar o quão bons os carinhas são.

— Hoje não, quero ficar em casa e pensar como vou falar com os pescadores e barqueiros amanhã.

Faço uma careta imaginando que não será nada amistosa a reunião, provavelmente igual da última vez, eles achando que meu objetivo é acabar com o ganha pão deles, sendo que o que desejo é que possamos coexistir e ajudar eles a trabalharem sem prejudicarem o meio ambiente. Essa tem sido minha grande missão desde que vim trabalhar aqui há quatro meses e até agora não tenho me saído muito bem.

— Ah, bora lá, todo mundo vai, quer dizer, menos o Dagoberto, mas ele nunca vai mesmo. — Dá de ombros, mas é nítido o pesar ao falar do chefe. — Mas então, vem com a gente, tu toma umas, dá unas amassos e aposto que vai pensar numa solução, hum? — Margarete mexe as sobrancelhas sugestivamente e caio na risada.

— Vai ficar pra próxima, mas obrigada pelo convite.

Sorrio, sentindo um frio no meu estomago. Há quatro meses quando cheguei aqui pensei que enfim Fabrício e eu desencantaríamos do chove e não molha que viemos protagonizando desde que eu tinha catorze anos. Me enganei bunito, ele tem mantido uma distância segura de mim, sempre saindo com os amigos nos fins de semana que não está escalado para o trabalho e mesmo que moremos no mesmo apartamento, não trocamos mais do que meia dúzia de palavras quando estamos em casa no mesmo horário. Acho que preciso repetir a pergunta que fiz a ele na sua festa de formatura, a de se eu dou choque, porque só assim pra explicar essa distância toda.

Suspiro lembrando daquela noite, quando eu tive o primeiro beijo que esperei tanto e meu pai amado, foi melhor do que imaginei, o homi me deixou rendidinha, se ele me pede o brióco eu dava sem culpa, mas depois que nos beijamos por sei lá quanto tempo ele me disse que até eu ter idade suficiente pra ele não ser preso, eu devia pegar uns carinhas e quando se tivesse no nosso destino nos encontraríamos e eu teria ele todinho pra mim pelo tempo que durasse. Bom, ele mentiu e eu posso ter mentido também nas vezes que trocamos mensagens ao longos dos anos. Quando Fabrício me perguntava sobre os caras da faculdade e dizia que tava aproveitando, como ele disse pra eu fazer, mas a verdade é que conto nos dedos da mão as bocas que eu beijei. Naquela noite ele me estragou para outra bocas, ninguém conseguia me fazer sentir um milésimo do que aquele fi de uma quenga me fez.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Where stories live. Discover now