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Raniely

Vou abrindo os olhos devagar, depois de sei lá quantas horas dormindo, por hábito levo a mão a minha barriga, sentindo ela penas inchada, não mais arredondada pelos oito meses de gestação

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Vou abrindo os olhos devagar, depois de sei lá quantas horas dormindo, por hábito levo a mão a minha barriga, sentindo ela penas inchada, não mais arredondada pelos oito meses de gestação. Puxo meu corpo pra cima, de olhos arregalados esquadrinho o quarto vendo um momento de balões e flores, eu detesto flores. Quem teve essa ideia de jerico de encher meu quarto com elas? Quando viro um pouco mais a cabeça encontro a última pessoa que esperava, Fabrício deitado no sofá e ressona baixinho, a mesma posição que o vi dormir no sofá do apartamento que dividimos em Paripueira: cabeça jogada pra trás, deixando o pomo de Adão a vista, braços largados ao lado do corpo e as pernas abertas. Pisco ainda confusa e as imagens das horas que antecederam meu sono me voltam.

Eu dei entrada no hospital após minha bolsa estourar e contrações espaçadas, mas devido a posição da nenê, o parto normal não foi possível, precisei então esperar algumas horas para que fosse possível o procedimento. Estava certa de que viveria aquele momento sozinha, pois mesmo se Marcelo estivesse aqui, aquela experiencia não o pertencia, a pessoa que deveria estar ali era o pai da minha filha e justamente quando esse pensamento me passava pela cabeça, Fabrício apareceu e viveu aquela emoção de ter nossa Rafaela chegando ao mundo. No instante que ele apareceu diante de mim com ela em seu colo meu coração pareceu que ia parar, sonhei com aquela imagem tantas vezes ao longo dos últimos meses que até pensei que tava sonhando, mas o ali tava minha filha, meu pequeno milagre, com seus olhos redondos me encarando e sabia que não pudia ser sonho, ela era real.

— Hu-hum — pigarreio, para tirar o nó que se instalou na minha goela.

O som faz Fabrício da um pulo assustado, seu sono continua leve pelo jeito. Sorrio sem conseguir controlar o fluxo de lembranças do tempo que moramos juntos.

— Tá tudo bem? — pergunta, ficando em pé.

— Eu... hum... Sim, tô bem. — Olho para o lado oposto do quarto vendo a ruma de flores e balanço a cabeça me perguntando quem envia flores para um quarto onde uma recém-nascida ficará, isso pode desencadear uma alergia nela.

— Não fui eu quem comprei — Fabrício diz, chegando perto o suficiente para fazer os pelos do meu corpo traidor se eriçarem.

— Claro que não foi tu — digo, olhando pra ele de rabo de olho.

— Por que eu sei que tu não gosta de flores — se defende. — Por que eu lhe daria algo que sei que não gosta?

— E se eu tiver começado a gostar? — retruco, encarando ele colocando os olhos pra um lado e a boca pro outro, do jeito petulante que ele uma vez disse que essa minha cara é.

— Tenho certeza de que não — diz, segurando o riso.

— Tu não sabe de nada, não mais — respondo, cortando o ar brincalhão dele. — O que ainda tá fazendo aqui?

— O que mais eu estaria fazendo aqui? Eu não vou redar o pé daqui sem você e minha filha — diz com uma convicção tão ferrenha que meu coração sofre um pequeno solavanco, então lembro de tudo que passei até aqui e me emputeço.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Onde histórias criam vida. Descubra agora