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Fabrício

— Como tu tá lidando com tudo? — Dagoberto pergunta, olhando pela tela do celular com preocupação

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— Como tu tá lidando com tudo? — Dagoberto pergunta, olhando pela tela do celular com preocupação. No outro quadrado, Paulo Sérgio, primo do meu sócio e um bom amigo, parece compartilhar a preocupação do outro. — Cá pra nós, difícil acreditar que tu seja pai e de uma menina, vai pagar todos os teus pecados, fila da puta!

— Eu num sei disso! — respondo, puxando o ar com força derrotado. — Que sou pai da Rafaela é a única coisa certa nos meus pensamentos. Faz dois dias que não consigo pensar direito. Sempre que busco uma explicação pra essa bagunça, nada faz sentido. Por que Raniely ia me esconder uma coisa tão importante quanto isso? É muita doideira, irmão! Ela devia saber que eu jamais ia abandonar ela num momento como esse, se tivesse ido ao meu encontro quando voltou da sua viagem...

Paro de falar quando o sufoco chega a goela, abro a porta da casa que um dia foi de minha mãe, mas que poucas pessoas sabem da sua existência, pois era aqui, na cidade vizinha que ela encontrava com meu pai na época que aceitou ser a manteúda dele. Entro acendendo as luzes, olho para o espaço minúsculo, mas até aconchegante do quarto e sala menor que a sala do apartamento onde vivo, nas vilas dos Biólogos em Paripueira.

— Já tá em casa? — Paulo indaga, esticando o pescoço, como se conseguisse ver alguma coisa além de mim. — Isso parece mais uma toca de rato.

Sei que a provocação é só pra desmanchar a tromba de elefante em minha cara, não consigo evitar quando tô desgostoso com alguma coisa.

— Acabei de chegar, só vou tomar um banho e voltar pro hospital — informo indo sentar no sofá, ainda coberto por um lençol branco. — Se tudo estiver ok, Rafaela deve ir pro quarto no fim da tarde.

— Rapaz, tá que eu sei que milagres são possíveis! Quem diria que nosso rebelde sem causa e tá tão derretido por uma garota — Paulo brinca.

— E uma com que ele num vai trepar! — Dagoberto complementa, mostro o dedo do meio pros dois, só pra eles riem ainda mais. — É um marco, devemos agendar uma entrevista com essas revistas que noticiam acontecimentos sobrenaturais.

— Vão os dois se lascar, antes que eu me esqueça! — Afasto o telefone, pra que eles não vejam que tô rindo, dois fi da puta!

— Tá, tá, parei! — Paulo diz, segurando o riso. — Agora vamo falar de um baguio sério. Como vai ficar a situação da criança? Já registrou como tua, num foi?

— Assim que o cartório do hospital abriu, ela é minha e ninguém vai tirar meus direitos de pai — afirmo, com um queimar novo no peito. Sinto como se pudesse enfrentar o mundo por aquela pessoinha minúscula que adora segurar meu dedo, não importa se tá no berço ou nos meus braços.

— Isso daí descendo do teu olho é um lágrima? — Dagoberto implica, mesmo sabendo que é só sacanagem dele, levo a mão e ela volta molhada.

— Ahhhh, nosso rebelde agora é um coração mole... — Paulo entra na gozação.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Where stories live. Discover now