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Raniely

Sento na cama, olho pros lados, mas logo tô em pé outra vez, e isso já se repetiu unas trocentas vezes

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Sento na cama, olho pros lados, mas logo tô em pé outra vez, e isso já se repetiu unas trocentas vezes. Tem um nó preso na minha garganta, um desespero apertando meu peito e uma tremedeira nas minhas mãos, que não me deixam ter os cinco minutos de descanso que eu pedi a Fabrício. Como é que eu podia descansar com esse monte de informações que tão povoando meu juízo? Sem contar nos detalhes que tavam escondidas na minha cabeça e que vem corroborar com tudo que me foi dito.

Como meu pai teve coragem de fazer isso comigo? O quão pouco ele me quer bem, pra usar uma situação vexatória que eu fui envolvida como moeda de troca e arrancar dinheiro do pai de Fabrício? Isso me faz pensar que talvez papai soubesse das falcatruas envolvendo o Sonar. Será se é possível? Mas cause de quê ele precisava chantagear Onofre? Até onde sei ele num precisa de dinheiro, vive arrotando por aí que nossa confecção é a maior do Norte e Nordeste, que ele elevou o nome da família a um patamar muito mais alto do que o meu vô poderia imaginar chegar. Nada faz muito sentido pra mim, essa misturaiada toda de coisas que Fabrício me contou é grave demais, porém falta alguma coisa, sinto que tem um fio que se nós puxar vai jogar ainda mais lama sobre nossas cabeças.

— Arri égua! — Fico em pé outra vez, o juízo fervendo com as perguntas, passo as mãos na frente da camiseta pra diminuir um pouco da suadeira e resolvo ir atrás de Fabrício e saber logo o resto da história.

Saio pro corredor notando como a casa tá em silêncio, abro a porta do quarto de Rafaela e vejo que ela não tá no berço. Continuo a andar nas pontas dos pés, sei nem porque faço isso, apesar de eu tá descalça é notável que o chão tá limpo, chego na sala de estar e encontro Romena com Rafaela, a senhora me sorri sem graça e eu fico com o rosto queimando em brasa.

— Menina, achei que tu tava dormindo? — indaga, colocando minha filha no bebê conforto. — Posso lhe preparar alguma coisinha pra forrar o bucho.

— Quero não, dona Romena, obrigada! — digo, indo me sentar perto dela. — Só quero ficar com minha menina um pouquinho, enquanto penso no que vou fazer agora.

— A menina pensa em ir embora? — Os olhos dela se arregalam, quando dou de ombros.

Romena veio pra casa de Marcelo a pedido de Graziela, ela morava em Escada e num pensou duas vezes, antes de atender a amiga de longa data. Não faço ideia de como elas se conheceram, mas é certo que largou tudo e foi pra Bezerros, provavelmente tá com medo de perder o emprego.

— Eu num posso lhe garantir que vou lhe pagar a mesma quantia que dona Graziela tava lhe pagando, mas se eu for, lhe levo comigo, afinal vou precisar de alguém de confiança pra cuidar de Rafinha, enquanto eu trabalho — falo, pegando Rafaela no colo e já começando a pensar nos possíveis destinos que eu poderia tomar.

Ajeito minha filha no colo, sua mão gordinha se estica, quase agarrando meu cabelo, mas graças à Deus ela num consegue, essa fase ainda não chegou. Trago ela até perto do meu rosto e cheiro o cangotinho, esse perfume dela é como jogar água fria numa queimadura, alivia na hora o peso sobre o meu peito. Por isso repito algumas vezes, fazendo ela se contorcer, quase rindo e clareando um pouco da nuvem de tempestade que se formou no meu estado de espirito.

Fabrício- O arrependido (Homens do Sertão- Livro 4)Where stories live. Discover now