Capítulo 88

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Anne

Era horrível ter de ver o meu pai chorar. Ele era sempre tão forte e calmo em relação a tudo. E sempre que aquela força parecia desabar, eu me desmoronava junto a ela...

—— Eu não sei como fazer isso. Eu não sei se posso vencer o medo pai. – Gaguejo ainda torcendo para que tudo não passasse de um sonho bobo.

— Você vai ter ajuda, ta legal ? Eu procurei os melhores especialistas por cada canto do mundo. Eu vou ficar aqui do seu lado o tempo que for necessário se você aceitar continuar. – Ele enchuga algumas de suas lágrimas do rosto se sentindo um pouco esperançoso outra vez. — Por favor pequena Stark dê um chance pra si mesma, uma chance de vencer isso tudo.

Antes que eu pudesse responder com total precisão, ouço a porta ser aberta mais uma vez. Por onde uma moça alta de expressão pacífica e serena entrou junto a um rapaz um pouco mais jovem, carregando um grande bloco de notas.

— Bom dia! – Falam em coro.

— Pai... – Me aperto sob o ombro de Tony um pouco assustada com os dois.

— Tá tudo bem, eu tô aqui com você, não vou sair do seu lado.

— Não precisa ter medo Anne, nós não vamos te fazer nenhum mal. Eu sou especialista em cuidados com a mente, e estou aqui unicamente para te ajudar a superar os seus medos, vencer os traumas, e te devolver a sua vida outra vez. – Apesar da moça ter uma expressão extremamente simpática, eu não conseguia acreditar que tal coisa séria possível. Afinal de contas, eu nem ao menos me lembrava mais de qual era a sensação de uma vida tranquila, uma vida sem medo...

— Este rapaz aqui é o meu filho, e ele não vai encostar, nem ao menos falar com você. A função dele é anotar nesse bloco de notas todas as coisas que você nos descrever, e todos os seus comportamentos durante as regressões.

— Regressões ? – Começo a tremer a cada vez mais, sentindo um forte impulso de correr por aquela porta.

— Para se vencer um medo, é preciso ter noção do tamanho do problema. Acessar o seu inconsciente, e expulsar de lá cada memória ruim que possa estar te prendendo ao seu passado. E trazer de volta as coisas boas que você esqueceu por conta disso. – Explica pausadamente. — Me diga, você pode listar recordações felizes da sua infância ?

— Eu... Eu. – Aperto os olhos pouco a pouco, notando que nada vinha a minha cabeça. — Talvez, a escola. Antes de sair de lá, eu tinha amigos.

— E quais eram os nomes deles ? –
Tony coloca a mão sob meu rosto que ainda soava frio. Ele conseguiu notar a minha dificuldade em processar as palavras, por mais idiota que aquela pergunta fosse. — Anne, tá tudo bem ? Você não consegue se lembrar ?

— Sim, eu me lembro deles, eu sei os nomes. Acontece que estou muito nervosa agora. – Minto. — Podemos só ir embora daqui ? Isso não vai nos levar a lugar algum.

Eu sabia que meu pai estava ainda mais preocupado agora que havia percebido o quão grave aquela situação poderia ser. Afinal de contas, nem eu poderia imaginar que aquele trauma, seria responsável por tantas coisas ruins em minha vida, coisas que eu nem ao menos sabia que existia.

— Eu sei que você está assutada. É normal se sentir assim. – A moça se recosta sob a parede me direcionando um olhar compassivo. — Mas eu estou aqui para lhe ajudar. E se sair por essa porta, se não der uma chance para si mesma, você nunca vai conseguir se livrar desse peso em seus ombros, nunca vai conseguir se dar uma segunda chance. E eu sei que não é isso que você quer.

Ela estava certa, eu realmente não queria ter de passar por aquela porta. Assim como eu não queira ficar. Era complicado, um misto de sentimentos e desejos, e eu não tinha a menor ideia do que fazer. Sair daquele lugar, e continuar a viver com medo, mas sem ter de passar por uma experiência terrível outra vez. Ou ficar naquela sala, enfrentar meu passado, e finalmente ser livre novamente.

— Promete que não vai sair do meu lado ? – pergunto rouca.

— Eu prometo. – Tony segura firme em minhas mãos me transmitindo toda coragem que eu iria necessitar. – Vou estar aqui o tempo todo. E se você sentir medo, se sentir que não pode continuar. Então nós vamos pra casa. Tudo bem ?

— Tudo bem. – Fungo.

Talvez eu me arrependesse amargamente dessa decisão, e talvez fosse a melhor escolha que já poderia ter feito. Era impossível saber... Mas eu queria acreditar, queria pensar que aquilo poderia finalmente ser o início da minha nova vida. E talvez eu até me transformasse de fato em outra garota, uma em que não precisaria mais se esconder, que não sentiria mais medo sempre que alguém desconhecido se aproximasse. Alguém que poderia sorrir em uma roda de amigos, e contar abertamente sob seu passado, sem derramar rios de lágrimas para isso.

— Esses aparelhos vão medir a intensidade das suas memórias, e sempre que eu perceber que está em um ambiente hostil, te trago de volta em segurança. –  Ela cola sob meu rosto alguns pequenos fios coloridos, que seguiam direto para uma grande tela de computador. Como se estivesse marcando meus batimentos cardíacos, mas de uma forma totalmente diferente.

— O que eu tenho que fazer ? – Pergunto ainda tensa.

— preciso que você se deite, que feche os olhos e esqueça de tudo que está a sua volta. Se esqueça que está nessa clínica, se esqueça de tudo que não for importante. E se concentre apenas no som da minha voz.

— O que é isso na seringa ?

— É um medicamento específico, vai te ajudar a entrar em um estado de transe. Você vai dormir, mas vai continuar ouvindo a minha voz, e é isso que vai te ajudar a enfrentar o seu passado. – Explica. — Não vai doer nadinha.

Antes que eu pudesse piscar os olhos, sinto o líquido ser injetado direto em minha veia, provocando um efeito de fraqueza instantâneo, deixando minhas pálpebras tão pesadas, a ponto de parecer estarem cobertas com uma cola forte. As coisas foram perdendo a cor, e os sons diminuindo, tanto que eu já podia mais ouvir o correr da água, nem mesmo o cantar dos pássaros.

O meu pai é o Tony Stark Onde as histórias ganham vida. Descobre agora