02 de janeiro, 2019 - Quarta (18h47)→ (parte 3 de 3)

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Enquanto o arrepio passava por minhas costas, o Claus se afastou com ela. Antes de entrarem no quarto, a voz da Sônia me alcançou:

"Eu dei para o Nicolas algo que você nunca vai conseguir, moleque".

Ouvi o Claus mandando ela ficar quieta, mas o ácido já estava correndo por minhas veias. Ela provavelmente falava do Lucas. E, de fato, eu nunca poderei dar ao Nicolas um filho caso ele resolva dar um irmão para o Pinguinho. Ele é um ai tão incrível que chega a ser fácil imaginá-lo com mais crianças, sorrindo e brincando com elas.

E eu não entro nessa equação.

"Zak, olha pra mim", ele pediu, me puxando para fora daquele devaneio amargo. "Não de ouvidos a ela, ok? Não precisa ficar assim."

Ele passou o polegar em minha bochecha, e só então percebi que havia lágrimas ali. Fique com raiva de mim mesmo por dois motivos: primeiro, por permitir que aquela mulher me levasse àquele estado deprimente diante de todos. Segundo, por sequer ter percebido que eu estava chorando. Mas não era um choro pra valer. Foram só aquelas lágrimas intrusas, e depois parei. Respirei fundo e pedi licença, indo até o banheiro limpar o rosto. A sorte é que não tinha ficado vermelho.

Assim que voltei, a Dona Rosa estava sendo consolada por meu primo e pelo Nicolas. A Jaqueline ainda estava com o Lucas num dos quartos, e o Claus logo veio ficar conosco.

"Aêêê, mãe... Ela apagou que nem criança".

Dona Rosa continuava secando as lágrimas que continuavam a cair.

"Desculpem por vocês terem visto isso... Eu achei que ela ficaria na cama o tempo todo, mas ela quebrou a promessa... Ah, desculpem de verdade! Ela não era assim antes. Minha menina sempre foi uma princesinha tão doce! Não sei nem dizer quando foi que essas coisas começaram a acontecer..."

"Xiii, nada a veeer, mãe... A senhora que não enxergaaava, mas ela era terrííível desde seeempre, hein! É que depois de aduuulta ela parou de fingiiir, tá ligado? Comigo ela não era docinha nããão..."

Fiquei sentado na mesa da cozinha enquanto a Dona Rosa se acalmava. Eles ficavam falando coisas genéricas do tipo: "Não fica assim, logo ela melhora", e também: "Pede para ela falar sobre isso ao psicólogo semana que vem". Do canto onde eu estava, apenas os espiei, quieto.

Depois disso não ficamos muito tempo lá. No carro, o Lucas assisti a um desenho no celular da Jaqueline. Ele usava fones de ouvido, e estava com uma expressão serena, mas era evidente que estava amuado. Ela contou que ouviu tudo do quarto, mas que o Lucas não ouviu nada. Ele percebeu que havia algo acontecendo, mas ela fez de tudo para distraí-lo.

"Fiquei chocada com as coisas que ela disse", comentou quando chegamos no Pântano dos Mosquitos. "O motivo de ela ter engravidado... Nicolas, como você foi capaz de cair numa armadilha tão besta e trepar com aquela demônia?"

Ele ouviu a pergunta com a expressão séria, apoiando as muletas na parede enquanto se sentava com cuidado.

"Vem cá Lu", chamou, pegando o filho no colo. Recolocou os fones no filho, e deu play em outra coisa. "Esse é o único erro do meu passado do qual não me arrependo".

Dizendo isso, beijou o topo da cabeça loira do Lucas.

"Eu sei, Nick. Não foi isso que eu quis dizer. O Lucas também foi uma luz na minha vida depois que nossos pais se foram". Ela olhou para mim. "Desculpa, Dáki... Acho que tá todo mundo meio exaltado, hoje. Acabei falando o que não devia na sua frente..."

O Monotono Diario de Isaac [BETA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora