Capítulo 15

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Voltei!
 
Divirtam-se (ou não)!!
 
 
 
 
Quando o oitavo mês de gravidez estava para chegar, as coisas ficaram um pouco mais complicadas na relação entre Kara e Lena. Kara ainda continuava com todo cuidado e preocupação do mundo para cuidar da namorada e da filha. No entanto, Lena estava em um mês de muitas mudanças, principalmente as de humor, e acabava descontando tudo em Kara.
 
A princípio, muitas vezes que Lena falava algo que chateava Kara, ela voltava, pedia desculpas e ela conversavam sobre aquilo. A loira entendia, lia incansavelmente sobre gravidez e tinha noção que o oitavo mês era bem complicado para muitas mulheres. Só que fazia alguns bons dias que Lena não se dava conta que havia deixado Kara chateada e estava se tornando uma pessoa difícil de lidar.
 
Havia muita coisa se passando com Lena. Ela não estava contente com o seu corpo, seus seios vazavam, sentia um desconforto generalizado por causa do tamanho da barriga e várias outras coisas que variavam dependendo do dia. Sem contar que já estava com trinta e poucas semanas e havia um medo horrível de conseguir de não manter seu bebê na barriga até o nono mês.
 
Tudo isso foram fatores que contribuíram para que ela e Kara se afastassem. A fase de lua de mel da relação havia passado e agora estavam na parte da provação. Estavam em um período delicado de tudo. Kara constantemente se sentia pisando em ovos. Queria fazer de tudo para Lena ter uma gestação saudável e longe de preocupações desnecessárias, porém já não estava conseguindo mais. O afastamento não permitia que ela continuasse fazendo o que vinha fazendo.
 
Como era domingo, o casal tinha ido até a fazenda para o almoço em família. Todas da casa tinham reparado que algo não andava muito bem. Kara vivia ao lado de Lena, a abraçando, beijando, a elogiando e agora estavam de lados opostos da sala e mal conversavam entre si.
 
Kara mantinha seus olhos em Lena com um fundo de chateação. Queria que a morena dissesse a ela tudo o que se passava na sua cabeça, mas já tinha tentado e teve como resposta uma má resposta ou o silêncio. Não sabia qual era pior.
 
Por uns bons minutos, ficou tentando pensar quais eram os motivos de Lena estar agindo tão duramente com ela. Não era a primeira vez que tentava chegar em alguma conclusão e não conseguia. Esperar uma explicação estava a torturando.
 
Assim que viu a morena se levantar do sofá com ajuda de Sam e ir para a cozinha, Kara foi atrás dela. Ali na casa da família não era o melhor lugar para conversar, mas ela parecia estar mais bem humorada do que quando saíram de casa, talvez fosse bom tentar.
 
— Está tudo bem, Lena? — perguntou assim que entrou na cozinha. — Se queria água porque não me pediu? Eu teria vindo buscar pra você.
 
— Não pedi porque ainda sei fazer as coisas sozinha — se serviu um copo d’água e começou a beber.
 
— Você está brava comigo?
 
— Não, Kara, eu não estou brava com você — respondeu brava.
 
— Porque está agindo assim? O que eu fiz?
 
— Nada, Kara, você nunca faz nada.
 
— Devo ter feito algo porque tudo o que você tem feito é me tratar mal.
 
Sem responder e sem olhar para Kara, Lena saiu da cozinha a deixando sozinha.
 
Aquilo doeu. Kara sentiu a tristeza invadir seu peito instantaneamente. Seria tão mais fácil se conversassem como tinham feito durante todos os últimos meses. Até então, tinham conseguido superar qualquer coisa que podia interferir na relação delas. Agora, parecia muito mais que Lena não estava disposta a resolver nada, e Kara já não tinha tanta certeza se o motivo eram os hormônios da gravidez.
 
— O que está acontecendo entre vocês?
 
Se virando, Kara viu Kelly se aproximar.
 
— Eu também não sei — suspirou baixo. — Ela não me diz o que tem de errado.
 
— A gravidez não é uma mar de rosas como muita gente gosta de dizer — parou ao lado de Kara que deitou a cabeça em seu ombro. — Nem toda mulher age bem a algumas situações. Ela deve ser uma dessas mulheres. Ela pode querer muito o bebê, mas há coisas que são difíceis de lidar. São muitas mudanças repentinas.
 
— Eu sei que não é fácil. Eu vi como Sam ficou muitas vezes. Só que eu estou aqui, sabe? Desde o começo eu decidi ficar, e parece que ela não quer mais que eu fique — contorceu os lábios pensando nos últimos dias. —Eu também fiz mudanças na minha vida por causa da minha filha. Por causa dela. Sei que não dá para comparar, mas agora eu sinto que se não tivesse feito nada certo.
 
— E se ela não quiser que você fique? Se está falando isso é porque já pensou nessa possibilidade.
 
Sim, essa isso vinha martelando em sua cabeça, mas sempre tentava se livrar toda vez.
 
— Não sei — sua voz saiu baixa e trêmula. Era horrível só cogitar essa possibilidade. — Estamos morando na nossa casa nova. Estava tudo muito bem. Eu continuo cuidando dela com todo o carinho que tenho a oferecer e faço isso porque a amo. Eu a amo tanto, mas tanto, que até dói. Eu... eu nem sei o fazer se ela desistir de tudo.
 
Kelly a abraçou com cuidado. Enfrentar uma gestação tinha as suas dificuldades. O casal ainda tinha o fato de que foi durante a gravidez que começaram a namorar. Lena podia não estar conseguindo conciliar nesse momento as duas coisas que aconteceram ao mesmo tempo.
 
— Ela não vai te deixar — afirmou o que realmente achava. — Ela te ama demais pra isso. É só uma fase.
 
— Eu sei que ela ama. Eu nunca duvidei disso — se afastou do abraço e olhou a cunhada. — Mas pessoas que se amam também se separam.
 
— Não pense nisso. Tenta falar com ela de novo. Só conversando que vocês vão conseguir superar esse mal estar da relação.
 
— Eu acabei de tentar. Ela me deu um gelo.
 
Boa parte do dia, Lena continuou apenas ignorando Kara.  Por causa disso, enquanto a morena continuava a conversar com todas da casa, Kara decidiu ir até o estábulo.
 
Desde que começou a morar com Lena — antes mesmo de comprar a casa — pouco dava atenção ao seu cavalo. Como Lena não queria sua atenção, decidiu que ir ficar com quem tinha certeza que queria ficar com ela.
 
Ao entrar no estábulo, mexeu com os outros cavalos que pareciam ter ficado animados com sua presença. Mais distante estava Amis que começou a balançar a cabeça assim que a viu.
 
— Oi, garotão — começou a passar a mão nele. — Estão cuidando bem de você? — ficou um minuto em silêncio como se esperasse o cavalo responder. — É, você está certo, Amis, eu não ando muito bem. Você sabe que eu vou ser mãe, não é? A outra mãe da minha filha não tem gostado muito da minha companhia. Eu só queria que ela se abrisse comigo. Você é um ótimo ouvinte, Amis. Que tal darmos uma volta? Faz algum tempo que não nos divertimos juntos, não é?
 
Na cabeça de Kara, Amis havia adorado a sua sugestão, então logo tratou de colocar a cela nele. Ela fez tudo com muita calma e com muito jeito. Não tinha pressa nenhuma para nada. Lena estava dentro da casa e estava sendo bem tratada, então não precisava se preocupar.
 
Assim que saiu do estábulo, Kara correu por todo o campo verde da fazenda. O vento batendo em seus cabelos a dava a sensação de liberdade. Não que estivesse presa a alguma coisa, mas estava sendo bom se desfazer de todos pensamentos ruins e preocupações por alguns instantes.
 
Por umas duas horas ela cavalgou com Amis se esquecendo que havia um mundo inteiro a sua volta. Queria ter esse tempo para ela. Precisava desse tempo. Embora fosse Lena que estivesse grávida e tentava não preocupá-la com nada, tinha frequentemente vários questionamentos que a amedrontavam.
 
Ser mãe era sim algo que pensava em ser uma dia e isso também contribuiu para que fosse tão afundo nessa história com Lena. Em nenhum momento se arrependeu da decisão que tomou de permanecer na vida de Lena e do bebê. Seu amor por ela e pela cerejinha só crescia a cada dia. Poderia até parecer uma pessoa muito forte e que estava lidando otimamente bem com tudo, mas morria de medo de fazer algo errado. Assim como morria de medo de Lena acabar desistindo dos planos que haviam feito juntas.
 
Até o sexto mês de gravidez, tudo foi tranquilo. Nunca tinha passado pela sua cabeça Lena querer novamente fazer tudo sozinha. Porém, desde que a morena começou a ignorá-la, ficava se perguntando se isso não era um mecanismo de Lena para afastá-la e faze-la desistir. Então nesses momentos sentia que havia falhado em alguma coisa na relação delas, logo a chateação a preenchia.
 
Mais uma vez tentaria conversar com Lena quando chegassem em casa. Não dava para ficar no escuro sobre isso. Elas eram um casal, iriam ser mães, eram adultas, tinham que arranjar um jeito de resolver as coisas.
 
Depois que colocou Amis de novo no estábulo, Kara foi em direção a casa. Já passava das quatros da tarde e Lena precisava repousar. Era mais menos nessa hora que seus pés sempre ficam bastante inchados e queria evitar.
 
Assim que passou pela porta de enteada, encontrou Lena sozinha no sofá. Meio receosa, se aproximou e sentou ao seu lado.
 
— Onde está todo mundo?
 
— Sua mãe e Sam estão na cozinha. Kelly e Alex saíram com as meninas — a respondeu olhando para o celular.
 
— Quer ir embora? Seus pés estão ficando inchados.
 
— Faz tempo que quero ir, mas você resolveu sumir.
 
— Vou me despedir da minha mãe — foi o que disse antes de se levantar.
 
Entrando na cozinha, viu que Sam estava cortando alguns pedaços de bolo. Rapidamente tratou de pegar um pedaço e encher a boca. Pelo menos a comida a fazia ficar mais feliz e não a tratava com frieza.
 
— Problemas no paraíso? — Sam perguntou sem desviar a atenção do bolo que cortava.
 
— É bem por aí — pegou mais um pedaço de bolo começando a comer rapidamente. — Se a Elsa morreu, o espírito entrou na minha mulher.
 
— Isso é normal, Kara — disse Eliza se aproximando com uma bandeja de copos de suco. Kara também pegou um copo e virou garganta a baixo. — Logo vocês se acertam e nem vão se lembrar que desse mês ruim que estão tendo. Acontece com os melhores casais, só depende deles mesmos resolverem.
 
— E se não nos acertarmos? E se eu quiser, mas a outra parte envolvida não?
 
Sam e Eliza trocaram olhares, achavam fora da realidade o casal não se acertar, mas não dava para prometer nada. As duas tinham que querer resolver o que naquele momento as deixavam distantes.
 
— É normal — voltou a repetir para filha na tentativa de que ela não ficasse tão aflita quanto a estava vendo.
 
— Não é normal, não. Eu entendo tudo. Sou compreensiva em tudo. O jeito que ela vem me tratando é que não entendo. Ela comentou algo com vocês? — olhou para a prima e a mãe.
 
— Não — a morena negou com a cabeça. — Não disse nada. Se não conhecêssemos você e se não tivéssemos visto como realmente são, nem iríamos saber que estão em um momento delicado.
 
— Odeio essa situação — choramingou. — Eu vim me despedir de vocês. Ela já está querendo ir embora.
 
— Só vão depois que comerem o bolo. Quer dizer, você já quase comeu metade, mas ainda dá pra dividir o que sobrou.
 
— Há há há — fez uma careta mostrando a língua para Sam. — Estou morrendo de rir.
 
— Vai, mamãe do ano. Leve essa bandeja para sala — Eliza entregou para a filha a bandeja. — Vou levar os guardanapos. Vocês não vão fazer essa desfeita de não comerem o que fizemos.
 
— Kara nunca faz desfeita nenhuma se tem comida no meio.
 
— Dormiu com palhaço do lado hoje? — perguntou a Sam já saindo da cozinha. — Está engraçadinha demais para meu gosto.
 
Como se nem tivesse dito que queria ir embora há muito tempo, Lena comeu tranquilamente seu pedaço de bolo. Além disso, até conversou mais um pouco com Sam e com Eliza. Kara não conseguia entender o que era tudo aquilo. Até compreendia as mudanças de humor e tudo mais, só que a cada minuto tinha certeza que não era só isso.
 
Quase uma hora depois, o casal estava voltando para casa. No caminho inteiro Lena ficou calada apenas olhando a paisagem do lado de fora. Kara não a queria pressionar a nada, tinha muito medo do que podia acontecer com o bebê se Lena ficasse nervosa, mas não via outra saída. Tinha passado da hora de Lena dizer o que estava errado.
 
Assim que entraram em casa, Lena subiu lentamente as escadas indo em direção ao quarto. Kara não perdeu tempo e a seguiu. Entrando no quarto, viu Lena começando a tirar o camisão que usava. Com um pouco de coragem se aproximou a abraçando por trás colocando delicadamente suas mãos na barriga.
 
— O que está acontecendo? — começou a beijar o pescoço de Lena bem onde ela gostava de ser beijada.
 
— Nada — se afastou indo para o closet.
 
— Me diz o que há de errado, Lena — a seguiu, mas a morena não respondeu — O que eu fiz de errado? Não tenho te tratado como minha mulher? Não tenho dado atenção a minha filha? Não estou sendo atenciosa o suficiente com vocês? Você está agindo assim porque quer mudar a decoração ou... ou quer voltar para seu apartamento? Quer morar mais perto da cidade?
 
— Eu já disse que não é nada.
 
Passou por Kara, e a loira novamente a seguiu.
 
— Se não é nada porque vem me tratando como se eu não existisse? E quando nota a minha existência me trata com frieza? — entrou na frente de Lena a impedindo de entrar no banheiro. — Dá pra contar nos dedos de uma mão quantas vezes você falou comigo hoje. Eu ainda não sei ler mentes, e você já é bem grandinha pra saber usar as palavras. Se não me disser o que está errado, eu não vou saber reparar o erro.
 
Essa era a primeira vez que realmente sentia vontade de alterar sua voz com Lena, mas não fez. Queria consertar seja lá o que estivesse errado, não piorar. E jamais trataria de forma rude a mulher que amava e mãe de sua filha.
 
A tensão invadiu todo o ambiente quando o olhar duas se encontraram .
 
— É tão difícil me dá uma explicação? Não confia em mim mais? Não me ama mais? Nós sempre conseguimos resolver tudo juntas. Eu sei que os hormônios não ajudam, mas sinto que não são só eles que está nos afastando. Você está me afastando e eu quero entender o porquê. Acho que eu mereço mais do que seu silêncio e respostas curtas.
 
— É claro que te amo. Só não sei se isso é algo que podemos resolver — respondeu depois de um tempo em silêncio.
 
— Diz o que é — levou as suas mãos até o rosto de Lena. — Sempre fomos sinceras uma com a outra, é isso que nós faz ser um casal nota dez. Não isso que você diz sobre a gente? Não somos um casal no...
 
— Eu quero fazer isso sozinha — disse sem titubear.
 
— O que você quer fazer sozinha?
 
— Eu quero voltar para o meu plano inicial.
 
O queixo de Kara caiu com o que ouviu. Cogitar aquela hipótese era uma coisa, ouvir isso de Lena era outra coisa totalmente diferente.
 
— Você não está falando isso sério — tirou as mãos do rosto de Lena.
 
— Estou.
 
— Não está, não. Você está deixando seu medo falar mais alto. Eu estou aqui — falou mais forte, mas não o suficiente para gritar ou assustar Lena. — Estou aqui por você e pela cerejinha. Não precisa ter medo. Eu não vou a lugar nenhum. Te amo demais para ir pra qualquer lugar e não te levar junto.
 
— Não — negou com a cabeça. — Não estou deixando o medo falar mais alto.
 
— Não vou levar a sério o que você está dizendo. Mas já que me quer longe, eu vou dormir no quarto de hóspedes — pegou o seu pijama que estava dobrado em cima da cama. — Amanhã a gente volta nesse assunto. Se você ainda estiver com essa mesma ideia, eu aceito a sua decisão e sumo da sua vida.
 
Antes de sair do quarto, Kara a olhou por alguns segundos. Queria abraçá-la, beijá-la, fazer mil declarações de amor, mas sabia que nesse momento nada adiantaria.
 
A noite seria longa sem ter Lena ao seu lado. Esperava do fundo do coração que só fosse o medo a fazendo dizer algo daquele tipo. Amava demais para ficar sem ela do dia para a noite.
 
 
 
 
 
Será que Lena vai adiante com que o falou ou é só medo?
 
 
 
Odeio autores que fazem casais felizes discutirem e se afastarem (autocrítica)
 
 
:)

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