Capítulo 16

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Voltei!
 
Divirtam-se(ou não)!!
 
 

Por grande parte da noite, Kara ficou revirando na cama sem conseguir pregar os olhos. Tentava de todas as formas não deixar o medo de perder tudo a consumir. Era difícil, pois as palavras ‘eu quero fazer isso sozinha’ e ‘eu quero voltar para meu plano inicial’, ficavam ecoando em sua mente sem parar. Seu estômago embrulhava só de pensar em Lena a mandando ir embora da sua vida e da vida do bebê. Não conseguia se imaginar mais sem ela. Muito menos seguir a vida sem a criança que tanto amava e que mal via a hora de chamá-la filha.
 
Esperava no fundo do coração que tudo não passasse de uma fase um pouco mais difícil do relacionamento. Casais sempre tinham fases complicadas, e as duas estavam lidando com mudanças muito rápidas. Para Lena podia estar sendo difícil dirigir tantas coisas. Até então, ela era sozinha, queria ter um filho sozinha e depois passou a fazer tudo em conjunto.
 
Mudar todo um plano para encaixar alguém não é nada fácil, Kara sabia disso, pois também havia feito uma reviravolta em sua vida para ir além na relação. Só queria que quando Lena fosse colocar tudo na balança para tomar a sua decisão definitiva, considerasse tudo e não visse apenas o lado dela.
 
Às 7h30 da manhã, já não aguentava mais ficar na cama. Se tivesse dormido ao lado de Lena, muito provavelmente, perderia alguns minutos mexendo em seus cabelos e a observando dormir tranquilamente, mas como não a tinha ao seu lado, preferiu levantar e ir fazer o café da manhã.
 
Lena sempre descia para tomar seu café às 8h15 em ponto, como fazia todos os dias, preparou as torradas com manteiga que ela gostava, cortou todas as frutas que ela comia pela manhã, colocou em um copo o suco de laranja que ela não ficava sem e separou suas vitaminas matinais. Assim que colocou tudo na bancada da cozinha, não demorou muito para Lena aparecer.
 
Embora quisesse muito a abraçar, continuou de costas para ela terminando de fazer panquecas chocolate. Nem estava com fome, mas cozinhar a deixava mais relaxada e precisava fazer algo para se livrar da tensão que irradiava seu corpo por Lena estar próxima e pelo que poderia vir a seguir.
 
O silêncio que tomou conta do local era quase ensurdecedor, mas dessa vez não iria dar o primeiro passo para quebrar o gelo, Lena que teria que fazer isso.
 
Pegando o prato com as panquecas, o colocou em frente ao seu lugar — que era ao lado de Lena — e deu a volta na bancada da cozinha para ir se sentar, mas antes de fazer isso, seu braço esquerdo foi puxado a fazendo se aproximar de Lena.
 
— Você me acha um idiota? — apoiou a cabeça sobre o peito de Kara passando os braços por sua cintura. A barriga incomodava um pouco, pois não estava em uma posição confortável, mas mesmo assim não a soltou.
 
— Não é legal falar esse tipo de coisa para uma mulher grávida, mas você vem agindo comigo como se fosse uma — se segurou para não abraçar a morena como tanto queria.
 
— Você está brava comigo?
 
— Não. Só acho que você vem agindo muito errado com uma pessoa que só quer seu bem — apertou os lábios pensando um pouco. — Eu não mereço o tratamento que você tem me dado, muito menos a sua indecisão sobre me querer ou não. Eu tenho certeza onde quero chegar com você, mas pelo jeito eu não sou uma certeza pra você. Eu tenho feito de tudo para que você fique bem, que passe por uma gestação tranquila. Eu venho tentando te fazer feliz, mas parece que não está sendo o suficiente.
 
— Me desculpa, Kara — pediu com sinceridade. — Você estava certa quando disse que eu só estava dizendo aquilo por medo. Eu estou assustada com tudo. Eu me assusto com a velocidade em que fizemos as coisas. Eu não sou boa com relacionamentos, eu nunca fui tão longe e tão a fundo com alguém. Nós praticamente nos casamos e eu nem tivemos tempo de aproveitar um namoro antes.
 
— Eu entendo tudo isso, eu também me assusto, ainda mais por termos feito tudo ao contrário. A gente pensa numa filha, moramos na mesma casa e fazemos planos enquanto nos conhecemos. Mesmo assim, em nenhum momento eu pensei ou penso em te deixar. Saber que você pensou nisso me magoa. Eu mudei minha vida para te encaixar nela, encaixar a nossa filha, porque eu te amo e te quero comigo. Só que você está sendo egoísta em não pensar em mim e em não ver que assim como você, eu também tinha um plano que só incluía a mim e eu o deixei de lado.
 
Kara não queria brigar com Lena, muito menos convence-la de alguma coisa — ainda mais se ela já tivesse tomado uma decisão, sabia que não haveria volta — apenas queria que ela visse que estava chateada e que como um casal, Lena acabou a excluindo no último mês e suas ações foram egoístas.
 
Em todos esses meses juntas, sempre prezou resolverem qualquer situação de uma forma mais simples para não se ter um desgaste rápido numa relação recente. Tudo bem que agora a questão era bem mais delicada, pois envolvia uma grande decisão que mudaria novamente a vida delas. Ainda assim, não iria agir com imaturidade. Se fosse para se resolverem, que fosse a base de conversa e com cada uma mostrando seu lado.
 
No fim de todo o diálogo que estava prestes a continuar, elas poderiam até não estarem mais juntas e cada uma seguir sua vida por caminhos diferentes, mas pelo menos teria a consciência tranquila de que fez o melhor que pode e que estava aberta para que pudessem desfazerem esse mal-estar.
 
— Eu sei que errei — disse em um tom baixo e culposo. — Eu percebi isso no minuto seguinte que você saiu do quarto. Eu te amo, Kara. Eu te amo muito. Eu sou completamente apaixonada por vocês. Apenas está sendo muita coisa pra eu assimilar de uma vez.
 
— Entenda de uma vez por todas que eu estou do seu lado e que não quero sair. Você não precisa passar por nada sozinha porque eu estou bem aqui — enfatizou as últimas palavras. — Você pode ser sincera comigo sobre tudo. Você podia ter me falado desde o que começo sobre o que estava pensando, sobre seus medos, o que te assusta... Eu não iria ficar com raiva, eu iria te compreender ou ao menos tentar. Mas você me deixou no escuro, me tratou com frieza, e eu achei que tinha feito algo errado.
 
— Você não fez nada errado.
 
— Mas parecia que eu tinha feito — falou um pouco mais forte, mas não o suficiente para gritar. — E eu não quero ser uma dúvida, Lena. É você que tem essa relação nas mãos. É você que decide se me quer ou não. Se vai me deixar ser a mãe do seu bebê ou não. Está nas suas mãos decidir isso.
 
Aquilo era um ultimato. Kara não a queria pressionar assim, mas ela teria que dar uma resposta.
 
— Não posso fazer isso sem você. Não consigo fazer isso sem você. Eu falei besteira, eu agi errado, eu sei disso. Mais uma vez te magoei por deixar meu medo falar mais alto — a apertou um pouco mais. — Eu te quero do meu lado. Te quero muito. Você é sim a mãe da minha filha. Ela é nossa. Ela é a nossa menina. Você me ajudou a escolher o nome, você decorou o quarto e diz incansavelmente que a ama. Me desculpa pelo o que causei entre nós.
 
— Se a situação ficar difícil e você não for sincera comigo, ou... ou ficar com essa dúvida sobre onde eu estou na sua vida, se quer fazer isso comigo ou sozinha, eu não vou saber lidar de novo — suspirou pesadamente. — Você é uma certeza pra mim, o mínimo que eu espero de você é a mesma certeza em relação a mim. Como eu te disse naquele dia em que você foi me procurar e resolvemos nos dar uma chance: você tem meu coração, mas eu não quero sofrer por você, eu quero ser feliz com você. Você me fez um promessa uma vez, então não a quebre de novo, por favor.
 
— Eu não vou — fungou. — Eu não vou.
 
Estava começando a chorar e dessa vez não tinha tanto a ver com hormônios. Havia ficado triste consigo mesma pelo que tinha pensado, pela forma que vinha agindo e pelo que disse. Kara era a melhor coisa que tinha acontecido na sua vida depois do bebê, não queria deixar suas inseguranças interferirem no que tinham. Não iria mais deixar esse tipo de coisa acontecer. Kara a amava por inteiro e tinha consciência disso. Ela merecia uma Lena por inteiro e sem dúvidas.
 
— Não chora — finalmente a abraçou. — Eu não falei nada disso pra você se sentir culpada ou pra te magoar. Eu falei pra você saber que assim como você, eu também fico assustada, com medo de tudo dar errado, das coisas desandarem e eu não conseguir consertar. Mas não dá pra eu fazer tudo sozinha. Preciso de você caminhando comigo e sem duvidar de que queremos as mesmas coisas — apoiou o queixo sobre a cabeça de Lena. — Não existe um meio termo. Ou estamos juntas, ou não estamos.
 
— Me desculpa. Me desculpa. Me desculpa. Eu preciso de você comigo.
 
— Eu também preciso de você — deixou um beijo nos cabelos negros. — Não me deixa mais de escanteio. Mesmo se algum dia você acordar e não me quiser mais na sua vida, não me trate como vinha me tratando a ponto de nos afastar. Prefiro que me diga logo a verdade aos invés de dar margem para eu ficar deduzindo as coisas.
 
Fechando os olhos, Lena agradeceu aos céus por Kara não levar tudo a ferro e fogo. Sabia que nos próximos dias teria que realmente mostrar a Kara que suas as palavras eram verdades.
 
— Eu só quero fazer isso com você. Sei que soa contraditório, mas eu só quero estar com  você.
 
— Você complica muito as coisas e é cabeça dura demais. Não precisávamos dessa situação estranha e ruim entre nós.
 
— Depois do bebê, você é tudo o que importa pra mim e não quero te perder.
 
— Vocês são tudo o que importa pra mim. Eu também não quero perder vocês.
 
— Me abraça forte — pediu e Kara assim o fez.
 
Elas ficaram abraçadas por alguns minutos em silêncio. Aos poucos, com os dias iriam conseguir se acertarem desde que a conversa tenha sido realmente esclarecedora e, principalmente, compreendida. O casal podia sim superar esses momentos tensos se assim quisessem, apenas precisavam estar na mesma página do relacionamento. No entanto, naquele último mês não estiveram e isso poderia ter custado tudo o que vinham construindo.
 
Kara esperava realmente que dali em diante as coisas voltassem a ficar bem. Esperava que Lena fosse mais compreensiva com ela — assim como ela sempre era — e não tivesse mais nenhuma dúvida sobre o que queria. O tempo daria essas respostas e cabia a ela confiar na mulher que amava e ter esperanças de que aquela conversar tinha mudado algo no relacionamento — mudado para melhorar, claro.
 
— Suas torradas esfriaram — Kara comentou se soltando do abraço e segurando o rosto de Lena. Algumas lágrimas rolavam pelo rosto pálido e ela as secou — Quer que eu faça outras?
 
— Não — deu um pequeno sorriso. — Eu como só as frutas — colocou as mãos por cima de Kara. — Obrigada, Kara.
 
— Pelo que? — perguntou sem entender.
 
— Por tudo. Acho que nunca te agradeci por todas as coisas que faz por mim.
 
— Eu faço porque te amo — deu ombros. — Se ao invés de brigar com você e ficar com raiva, eu procuro resolver as coisas, é porque eu te amo. No meu entendimento, amor é isso. Claro que não é aceitar tudo o que a outra pessoa faz, mas é saber quando aceitar, quando falar e quando fazer.
 
A frase de Kara não era uma indireta para Lena, ela nem sequer tinha entendido dessa forma, mas se encaixava perfeitamente ao momento.
 
— Mesmo depois disso, vamos ficar bem?
 
— Eu quero ficar bem com você. Só quero te encher de amor e de carinho, e fazer o mesmo com a cerejinha quando ela nascer — varreu os olhos pelo rosto de Lena percebendo seu semblante arrependido. — Se você quiser o mesmo que eu, ficaremos bem.
 
— Eu quero.
 
— Então faremos as coisas se encaixarem de novo.
 
Pegando uma das mãos de Kara, Lena levou até os lábios beijando o dorso.
 
— Eu te quero comigo e me arrependo do que fiz. Eu quero me acertar com você de verdade e reparar meu erro que te chateou. Eu farei qualquer coisa.
 
— Eu acredito em você — a deu um beijo casto e logo depois colou suas testas. — Não chora mais, isso não faz bem para a Lauren.
 
— Eu te amo.
 
— Eu amo vocês.
 
 
 
 

Como bem sabem, essa história é um clichê e é sobre elas conseguirem se resolverem sem maiores problemas e sem muito drama. Também não vou pesar a mão no drama, pois já estamos na etapa final da história.
 
:)

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