Capítulo 6

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Divirtam-se!!
 
 
De frente para o espelho, Lena se virava de um lado para o outro tentando achar algum indício de que sua barriga estava tomando uma forma diferente. Quase todos os dias fazia aquilo pela manhã, mas sabia que nada tinha mudado em seu corpo.
 
Já havia completado um mês desde que fez a inseminação artificial. Nesse período, algumas mulheres se sentiam inchadas, mais emotivas e com enjoos por causa das alterações hormonais, mas, até então, estava imune a tudo isso.
 
Todos os dias, acordava ansiosa procurando qualquer coisa que a desse esperanças de que estivesse grávida. Parecia que quanto mais queria isso, menos parecia que a inseminação havia dado certo. Aguardar qualquer sinal de seu corpo estava sendo quase uma tortura.
 
Para tirar sua dúvida, poderia recorrer a um teste de gravidez, tinha até comprado um, inclusive, mas se usasse o teste e desse negativo, iria se frustrar muito, então sempre adiava fazer o que era mais lógico. Por ser uma cientista, ou melhor, ter sido uma, estava deixando suas emoções falarem muito mais alto do que a lógica, pensava ela.
 
Dando um suspiro, foi até seu closet procurar uma roupa para vestir. Em poucos minutos, Kara chegaria para irem tomar café em um lugar novo que a loira descobriu e disse que queria muito levá-la até lá.
 
Desde o dia da praia, já tinha saído com Kara três vezes. Uma vez foram em uma cafeteria, depois em um restaurante asiático — onde achou absurda a quantidade de postickers que Kara comeu — e a terceira foram em outro piquenique, mas dessa vez em um parque. Essa última vez, as crianças e Dino estavam juntos.
 
Todas essas vezes, todos os convites partiram de Kara, e Lena se sentia mal por isso. Queria muito fazer o que Andrea dizia e tentar ter algo com a loira, mas não conseguia. Tinha traçado um plano e costumava ser sistemática o suficiente para evitar qualquer desvio desse plano. Era exatamente por ser assim que se surpreendia quando não conseguia dizer não a um convite da loira.
 
Além de não conseguir negar nada a ela, tinha virado um costume Kara ligar quase todas as noites. As noites que ela não ligava, sentia falta. Também gostava de acordar com uma mensagem dela de bom dia, até sorria quando as lia. Se sentia idiota por retribuir as coisas a esse ponto, mas não conseguia ter iniciativa e ainda continuava dizendo que só queria a amizade dela. Na sua mente, estava fazendo o certo mantendo ela nesse lugar  de amiga.
 
Não tinha terminado de se vestir quando a campainha tocou. Abotoando sua camisa, foi até a porta e quando abriu, encontrou Kara sorridente — como sempre — e com uma rosa vermelha na mão.
 
— Essa rosa é do jardim da minha mãe. Estava saindo de casa, achei ela bonita e trouxe para você — esticou a mão com a rosa em direção a morena a analisando. — Nossa, você está muito bonita. Mais bonita do que da última vez que te vi, se é que isso é possível.
 
Era quando Kara dizia essas coisas aleatórias e de forma muito simples que Lena acabava entendo porque não negava nada a ela.
 
— Obrigada — sorriu pegando a rosa e dando espaço para a loira passar. — Entra, eu preciso terminar de me arrumar.
 
— Cheguei muito cedo?
 
— Não. Eu que me distrai.
 
— Bonito seu apartamento — comentou reparando em tudo a sua volta. — É bem do jeito que eu imaginava. Combina com você.
 
— Você imaginava como era a minha casa?
 
Rodando o corpo sobre um pé, se virou para Lena com as bochechas vermelhas.
 
— Vou deixar essa resposta no ar — ajeitou os óculos. — Não quero que pense que eu sou uma pessoa obcecada por você e que fica pensando em você a todo o momento. Não sou assim. Eu só penso às vezes.
 
Sorrindo, Lena abaixou a cabeça como sempre fazia quando ficava envergonhada. Kara tinha o poder de sempre faze-la se sentir dessa forma.
 
— Ainda flertando comigo? — cruzou os braços tomando cuidado para não amassar a rosa.
 
— Ainda parece que estou flertando com você?
 
— Parece, sim.
 
— Isso estraga a nossa amizade ou te deixa incomodada?
 
A expressão de Kara era engraçada o suficiente para fazer Lena rir. Era uma mistura de ter sido pega em flagrante com culpa.
 
— Não — negou com a cabeça.
 
— Não o que? Não estraga amizade ou não te deixa incomodada?
 
— Não estraga a nossa amizade e nem me deixa incomodada.
 
— Ai que bom, pois só falo essas coisas porque fico muito nervosa na sua frente — franziu o nariz. — Eu vou começar a pensar melhor antes de falar as coisas. É que eu te vejo aí o cérebro dá uma pane e... Vou começar a pensar melhor a partir de agora — tentou ficar séria.
 
— Vou por minha rosa na água e terminar de me arrumar.
 
— Sem pressa — se sentou no sofá de maneira comportada para não fazer algo que a envergonhasse.
 
Kara não entendia como cada vez que via Lena fazia mais papel de boba. Nunca agia daquele jeito quando se interessava por alguém. Mas havia alguma coisa na morena que a fazia agir daquela forma. Parecia até que seu cérebro virava uma gelatina e não filtrava as palavras. Pelo menos, Lena ainda não tinha se afastado dela, o que considerava um bom sinal.
 
Ambas não tinham reparado, mas agiam de forma muito similar uma com a outra. Assim como Kara, Lena se sentia muito boba na sua frente. Assim como Lena achava adorável as divagações de Kara, Kara gostava de ouvi-la e de vê-la envergonhada. A única distinção era que a loira deixava realmente seu coração falar mais alto, e a possível futura mamãe preferia ficar calada para não se mostrar vulnerável a esse ponto.
 
Essa era a palavra que Lena não encontrava para definir como Kara a deixava: Vulnerável. Perto de Kara, ela ficava exposta, esquecia do plano que havia traçado, não conseguia ser racional, se assustava por deixar se levar pelo momento. Quando estava longe dela repetia para si mesma que não agiria da mesma forma, mas bastava um sorriso da outra para repetir o que estava considerando um erro.
 
E a palavra que definia Kara era paixão. Isso não foi algo que planejou, só aconteceu. Uma pessoa apaixonada, muitas vezes, se envolve com a pessoa muito antes de estar realmente envolvida. Kara sabia que Lena só queria ser sua amiga, ainda assim, se sentia, de certa forma, presa a ela.
 
Ao voltar para sala, Lena observou Kara por alguns instantes. Não deveria reparar tanto nela, mas estava fazendo isso com mais frequência.
 
— Kara, podemos ir.
 
— Ótimo! — levantou do sofá rapidamente indo até Lena. — Você tem pressa para voltar?
 
— Não. Porque? — abriu a porta para elas saírem.
 
— Hã... Quer almoçar comigo também? — perguntou sem olhá-la fechando os olhos se preparando para um não.
 
— E o que faremos até a hora do almoço?
 
— Não pensei nessa parte.
 
— Queria ir no shopping ver... — parou de falar quando lembrou que Kara não sabia nada de sua possível gravidez e tudo o que queria era só andar pelo shopping para ver roupinhas de bebê — ver... uma bolsa.
 
— Então podemos ir lá. Está decidido — respondeu sorrindo.
 
A cafeteria ficava perto de uma universidade. Não estava muito lotada, pois estava em horário de aula e, segundo Kara, em horário de aula era mais vazio.
 
O lugar era aconchegante, o cheiro de pães frescos, café e algo adocicado tomavam conta do ar. Elas sentaram na mesa perto da parede de vidro que dava para rua. O local era bonito para se distrair.
 
— O que me recomenda? — Lena perguntou olhando o cardápio.
 
— Chocolate quente com creme e torta de chocolate com creme.
 
— Não acha que é muito chocolate e creme junto? — a olhou por cima do cardápio. — Ainda mais para um café da manhã?
 
— Por isso é maravilhoso — respondeu animada. — Como pode ser ruim uma coisa de beber e uma de comer com o mesmo sabor? E nunca é cedo demais para comer doce.
 
— Eu acho que você tem um paladar muito infantil.
 
— Se você experimentar vai entender o que eu estou falando.
 
— Tudo bem. Vamos ver se você tem razão.
 
Mesmo que evitasse comer tanto doce em uma refeição só, Lena gostou daquela combinação sugerida por Kara, gostou tanto que repetiu mais um pedaço de torta.
 
A sua frente, Kara a via comendo e sorria. Tinha certeza que Lena iria gostar tanto do lugar quanto da comida e pelo jeito não estava errada.
 
— Você vai ter que me passar direitinho o endereço daqui — comentou levando a boca o último pedaço da torta —, assim toda vez que eu tiver vontade, eu venho aqui comer.
 
— Ou eu posso buscar pra você — deu ombros. — Estou sempre por esse lado.
 
— Eu vou cobrar.
 
— Eu vou pagar e a gente vai para o shopping.
 
— Kara, é a minha vez de pagar.
 
— Sua vez vai ser quando você me convidar para alguma coisa. Enquanto isso não acontece, tudo por minha conta — se levantou indo para o caixa.
 
Quando Kara voltou para perto da mesa, Lena se levantou, mas se sentiu estranha. Havia comido tanto que seu estômago estava pesado. Ter ido na onda de Kara podia ter sido uma péssima ideia, não iria ouvir sua recomendação na hora do almoço.
 
— Tá tudo bem? — Kara perguntou preocupada. — Está com a cara estranha.
 
— Acho que comi muito doce de uma vez. Não vou mais me deixar levar por suas sugestões.
 
— Mas eu só sugiro coisas boas. Injusto da sua parte falar isso.
 
— Injusto porque não é seu estômago.
 
— Tudo bem, estressadinha. Sem recomendações — maneou a cabeça em direção a porta. — Vamos, pois estou afim de tomar um sorvete no shopping.
 
Sorrindo, Lena começou a balançar a cabeça negando. Não sabia como cabia tanta comida no estômago de Kara.
 
Andando tranquilamente até onde o carro estava estacionado, as duas estavam caladas. Lena só não estava falando nada, pois seu estômago estava revirando, mas não queria comentar nada. E Kara permanecia calada, pois gostava de apenas aproveitar a companhia da morena ao seu lado.
 
— Kara?
 
Alguém chamou a loira, ela parou e olhou para trás.
 
— Diana! — foi até a morena a abraçando. — O que faz por aqui a essa hora?
 
— Vim resolver umas coisas na faculdade.
 
Mais atrás, Lena apenas observava os sorrisos que Kara e aquela tal de Diana trocavam.
 
— Ah! — puxou Lena pela mão. — Essa é Lena. Lena, essa é Diana.
 
— Prazer — Diana maneou a cabeça.
 
Lena apenas sorriu de forma gentil. Se sentindo ainda estranha, acabou por entrelaçar seu braço no Kara. Precisava se apoiar em algo ou alguém.
 
Definitivamente aqueles dois pedaços de torta foram uma péssima ideia.
 
— Nós vemos mais tarde? — a outra morena perguntou para Kara.
 
— Sim, claro que sim.
 
— Certo. Até mais tarde — deu um leve aceno para as duas e se afastou.
 
Quando olhou para Lena segurando seu braço, num primeiro momento Kara ficou um pouco em choque e nem se moveu, mas depois sorriu quando seu coração disparou. Aquela era a primeira vez que Lena fazia algo daquele tipo. Só que quando a olhou para fazer uma brincadeira, notou que ela estava pálida.
 
— Você está bem, estressadinha? — ficou de frente para ela a analisando melhor. — Está sentindo alguma coisa?
 
— Você se importa de me levar pra casa? Não estou me sentindo bem.
 
— Sabe me dizer o que está sentindo? — segurou seu rosto com uma mão enquanto afastava os cabelos escuros de sua face com a outra. — Quer ir ao médico?
 
— Estou tonta, com o estômago estranho. Só me leva para casa, por favor.
 
Assentindo, com todo o cuidado do mundo, Kara levou Lena até o carro e a levou para casa. Seus planos tinham ido por água abaixo, mas isso não importava, estava mais preocupada com o jeito que Lena estava.
 
Chegando em frente ao prédio, Lena pediu para Kara a acompanhar até seu apartamento. Ainda precisava se apoiar em alguém e não pediria ajuda a nenhuma outra pessoa.
 
 Apenas alguns passos da porta de seu apartamento, Lena sentiu a vista escurecer e seu corpo cair.
 
Bem ao longe, começou ouvir alguém a chamar com o tom preocupado ao mesmo tempo doce e suave. Tentando ver a dona da voz, aos poucos foi abrindo olhos. Quando a sua vista focou, pode ver Kara bem próxima de si e com as mãos em seu rosto.
 
A expressão de Kara demonstrava preocupação. Seus olhos estavam inquietos e suas bochechas estavam vermelhas. Para Lena, ela continuava adorável mesmo com a ruga que formava entre as sobrancelhas.
 
— Graças a Deus você acordou! — respirou aliviada. — Você me assustou. Já estava para te levar ao hospital. Você está bem? Ainda bem que consegui te pegar antes de você cair no chão.
 
— Acho que agora estou bem — deu uma olhada em volta percebendo que estava no sofá de sua sala. — Me lembre de nunca mais comer tanto doce a ponto de desmaiar — tentou brincar.
 
— Me desculpa. Se eu tivesse sugerido algo salgado, talvez sua pressão não tivesse caído.
 
— Eu não...
 
Apertando os lábios, Lena pensou um pouco sobre as palavras de Kara. Ela não tinha pressão baixa, mesmo que não comesse nada pela manhã, nunca aconteceu de ter um desmaio.
 
Será que o que aconteceu significava o que ela achava?
 
— Você tinha reclamado que seu estômago estava ruim. Melhorou?
 
— Já estou melhor — sorriu fraco. — Me ajuda a levantar, por favor.
 
Kara a ajudou se sentar com as pernas para baixo e depois se sentou lado dela. Seus olhos tentavam buscar algum indício que Lena ainda continuava mal, mas ela já tinha até uma coloração mais avermelhada nos lábios.
 
— Acho que sentar não foi uma boa ideia — disse um pouco chorosa se sentindo tonta novamente.
 
— Vem aqui — Kara a abraçou de lado e a puxou um pouco para se apoiar nela. — Não quer ir ao médico?
 
— Não. E quando essa tontura passar, você pode ir embora.
 
— De jeito nenhum — começou a brincar com os cabelos de Lena sem nem perceber. — Ou vamos ao médico, ou você liga para alguém ficar com você, ou vai ter que me aguentar cuidando de você.
 
Com Kara mexendo em seus cabelos, Lena percebeu que não seria uma má ideia tê-la o dia inteiro por perto. No entanto, precisava fazer uma coisa e não queria fazer com ela ali.
 
— Só mais cinco minutinhos e eu ligo para Andy.
 
Os cinco minutos nunca chegaram, pois Lena acabou adormecendo só pelo jeito que estava sendo abraçada, com a mão de Kara mexendo em seus cabelos e se sentido segura.
 
Algumas horas depois, Lena despertou no escuro de seu quarto. O apartamento estava silencioso, mas por debaixo de sua porta viu um sinal de luz. Se sentando devagar, não se sentia mais tonta e nem com o estômago revirando como antes. Assim que se levantou, foi até a porta e a abriu, dando mais alguns passos, viu Kara sentada no sofá na mesma posição de mais cedo.
 
— Ainda está aqui?
 
— Oi — disse assim que a olhou. — Espero que dormir a tenha feito se sentir melhor. Minha mãe sempre diz que o sono regenera — se levantou indo em sua direção. — Respondendo a sua pergunta, eu disse que não te deixaria sozinha.
 
Pegando nas mãos de Lena, Kara começou a puxá-la em direção ao sofá onde a sentou. Lena já estava melhor e podia fazer aquilo sozinha, mas não teve coragem de falar qualquer coisa que fizesse Kara se afastar.
 
— Eu vou ligar para Andy.
 
— Eu liguei, mas ela foi resolver alguma coisa num fórum na cidade vizinha. Você vai ter que me aguentar até ela chegar — se ajoelhou em frente a Lena ainda segurando suas mãos.
 
— Você não tinha alguma coisa para fazer com aquele menina que você encontrou?
 
Essa pergunta foi feita por dois motivos: Primeiro porque queria saber o que Kara tinha com Diana — anteriormente estava se sentindo tão mal que nem conseguiu pensar sobre isso, mas agora estava bem e pensando sobre isso. Segundo, não queria atrapalhar qualquer coisa que Kara fosse fazer.
 
— Não se preocupe com isso.
 
— Ia num encontro com ela? — não conseguiu não fazer essa pergunta.
 
— Não — sacudiu a cabeça negando. — E-eu faço curso de administração a noite naquela faculdade perto da cafeteria. Ela é minha colega de turma.
 
Agora fazia mais sentido Kara conhecer uma cafeteria tão longe. E se sentiu aliviada por ela não ir a um encontro com Diana.
 
— E se a Andy não chegar antes da sua aula?
 
— Nesse momento, a minha prioridade é você. Eu te comprei uma sopa. É algo leve, salgado e você precisa comer. E pra mim comprei cheese burguer. Se você não tivesse acordado agora, eu não iria te esperar para comer. Para manter esse corpinho, eu preciso comer bem e sempre que eu estiver com fome  — sorriu quando Lena jogou a cabeça para trás rindo.
 
— Acho que vai ser bom comer alguma coisa salgada e leve.
 
Passar o dia inteiro ao lado de Kara trouxe a Lena um misto de emoções. Ela era tão cuidadosa e atenciosa, que fazia seu coração até errar uma batida ou outra. A todo momento se mostrava preocupada e querendo fazer de tudo para agradá-la. Era muito difícil não gostar dela.
 
Já havia anoitecido, estava sentada no sofá com pés sobre as pernas da loira que estava muito interessada no que passava na TV. A olhando atentamente, deixou um suspiro baixo escapar. Estava tão tocada com o jeito único de Kara que acabou criando coragem para fazer uma coisa que não tinha feito até então.
 
— Kara?
 
— Sim? — se virou para a olhar.
 
— Já que não deu certo o almoço... — limpou garganta — quer sair para jantar comigo qualquer dia desses?  
 
Um enorme sorriso rasgou o rosto da loira. Até parecia que ela estava aguardando por aquele convite ansiosamente.
 
— Vai ser uma honra. Eu posso cozinhar — sugeriu rapidamente. — Posso fazer o que você quiser. Sou uma ótima cozinheira. Você vai se impressionar com meus dotes culinários.
 
— Me parece perfeito.
 
Sentindo a alegria invadir seu peito por ela ter aceitado, repentinamente o medo também a dominou. Não sabia o que faria em relação a Kara se o fato de ter passado mal significasse que estava grávida. Ainda tinha um plano a seguir e, nem mesmo por Kara, queria se desviar dele. Pensando bem, tê-la convidado para um jantar poderia ter sido uma péssima ideia.
 
Um tempo depois daquela conversa, Andrea chegou. Kara a deixou inteirada de tudo e fez prometer que ligaria se Lena se sentisse mal de novo.
 
— Agora eu vou embora. Sei que está em boas mãos.
 
— Te levo até a porta — se levantou do sofá e Kara a seguiu.
 
— Embora o que aconteceu com você tenha sido bem ruim — Kara começou dizendo quando já estava no corredor —, gostei muito de passar o dia com você.
 
— Eu também gostei.
 
— Que bom ouvir isso — se aproximou um pouco e a abraçou forte.
 
Rapidamente, Lena retribuiu aquele caloroso abraço. Podia morar nele.
 
— Vai pra casa com cuidado — pediu baixinho. — Obrigada por ter cuidado de mim.
 
— Eu faria qualquer coisa por você — deixou um beijo em seu ombro e se afastou. — Tenha uma boa noite, Lena.
 
— E você tenha uma boa vida.
 
— Se você estiver nela, vai ser uma excelente vida.
 
Kara não facilitava nada com as suas palavras.
 
Assim que Kara entrou no elevador, Lena foi correndo para o banheiro pegar o teste de gravidez. Depois de faze-lo, os minutos seguintes foram os mais demorados da sua vida.
 
Enquanto esperava, contou rapidamente para Andrea sobre tudo o que tinha acontecido, até mesmo sobre o convite para o jantar.
 
Era óbvio para Andrea que Lena queria estar com Kara, só estava se fazendo de difícil por causa do plano de seguir uma gravidez sozinha. Andrea a entendia e respeitava a sua decisão de ser mãe solo, mas Kara estava bem ali ao seu lado, dando todos os indícios de que queria algo com ela e Lena insistia em deixá-la na friendzone. Poderia ser Kara a pessoa por quem Lena tanto esperou e por medo não ia adiante.
 
— Se der positivo, você vai contar para Kara?
 
— Sim. E vamos continuar sendo apenas boas amigas  — respondeu andando de um lado para outro já impaciente.
 
— Boas amigas? Do jeito que você ficou toda manhosa abraçando ela ali na porta? Você a convidando para jantar? Isso é ser boa amiga para você?
 
Querer enganar Andrea, uma pessoa que a conhecia tão bem, era perda de tempo.
 
— Não era para eu gostar dela. Eu tinha um plano. Um plano perfeito. Seria apenas eu e meu bebê — parou de andar e olhou para amiga. — Porque só fui encontrá-la agora?
 
— Conta pra ela a verdade sobre tudo e vê o que ela acha disso — deu ombros. — Se ela gosta mesmo de você como parece que gosta, ela até implora pra ser mãe dessa criança.
 
— Eu ainda quero seguir o meu plano. Não quero me desviar dele. E nem tenho certeza se ela iria querer participar disso comigo — bufou.
 
— É exatamente por isso que deveria conversar com ela e expor seus medos — disse já um pouco impaciente. Essa mesma conversa vinha se repetindo desde o dia que Kara levou Lena no piquenique na praia e nem havia ainda sinais de gravidez. — Não tem como você saber o que ela acha, se você não contar. Não tem como saber se ela gosta de você a ponto de enfrentar essa gravidez com você, se você não contar. Para de ficar remoendo seus medos e suas dúvidas e conversa com ela.
 
— Não vou desviar do meu plano — balançou a cabeça negando. — Vou fazer isso sozinha. Comecei sozinha, vou terminar sozinha.
 
— Se não quiser perde-la, é melhor pensar num plano B. Eu no seu lugar, abriria o jogo. Melhor a certeza do que a dúvida.
 
O celular apitou avisando sobre o tempo do teste.
 
Respirando fundo, Lena foi até o banheiro e levantou o objeto branco e cumprido até seus olhos.
 
— Ai meu Deus!
 
 
:)

All That Matters to MeWhere stories live. Discover now