chapter 29

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"To love, you need courage."- Nairobi, La Casa de Papel.

Londres, 30 de agosto. Dia 3 --->> Dia 5. Dia 0.

Os últimos 2 dias foram de loucos, mesmo. Eram daqueles dias que a gente se levantava às 6 da manhã e só dormia às 4 do dia seguinte. Os compromissos eram muitos, e as responsabilidades também. Perdi a conta de quantas entrevistas é que demos, de quantas horas de ensaio tivemos e de todos os planeamentos que a gente tinha de concordar. Apesar de terem se enganado nas medidas da roupa da Vic, as pessoas com quem trabalhamos são excelentes profissionais.

Mas mesmo tendo tanto trabalho e pressão, isso tudo valeu a pena, porque chegou o grande dia. O dia que estivemos preparando incansavelmente nos últimos dias, nas últimas semanas, o momento que 2 pessoas sonharam e discutiram sobre isso há 2 anos atrás em um banheiro de uma discoteca.
Esse tal dia começou à mesma hora de sempre: 6 da manhã. Com as luzes estavam todas acesas, os assentos assinalados e os instrumentos definitivamente montados, O último ensaio foi o mais realista que tínhamos tido até ao momento. Na altura, já estavam fãs fora da arena, que nos deram muito amor e carinho após sairmos do ensaio. Sentia a Vic nervosa, a cada momento que se passava, e isso me deixava também nervoso. Eu sabia que ela não era a mesma desde a recaída de há dias atrás. Qualquer um conseguia ver a sua cara de frustração e de derrota nas olheiras rodeando os seus olhos.

O tempo parece uma eternidade quando estamos nervosos. Segundos parecem minutos, horas parecem dias. E nessas longas horas, comi tudo o que me obrigaram a comer para ficar com energia, atendi fãs fora da arena, tive conversas longas no resto do grupo, fiquei sem cigarros porque eram proibidos no recinto, fiz do sofá do camarim uma cama e me sentei em uma cadeira rodeada de maquilhagem. Só me caiu a ficha quando vi as nossas roupas, penduradas em um longo vestuário. Primeiras obras de arte dela, da mais nova estudante de moda, Vic de Angelis. Apesar dos exageros, Victoria quando desenha faz coisas simples, estilosas. Cada um de nós tinha uma roupa igual: uma calça larga e um blazer com plumas nas mangas, só com cores diferentes. Eu, com branco, Vic com preto - como o cisne negro e o cisne branco - Thomas com verde escuro e Ethan com lilás.

A esse ponto, faltavam apenas 2 horas para o concerto. As portas abriam em poucos minutos, e a gente conseguia sentir isso através do barulho que se ouvia fora da arena, que havia se multiplicado nos últimos instantes. O meu coração estava a mil, conseguia sentir o meu batimento cardíaco nas minhas têmporas, mas estava com a felicidade no máximo. Vic estava bem, ao menos melhor do que antes. Depois dos calmantes que lhe dei, ficou muito mais calma.

Estávamos nós os dois já vestidos, olhando por uma varanda para o exterior através daqueles vidros que são escuros por fora e claros por dentro, ela jogando no celular, e eu me distraindo com um jogo de palavras cruzadas. Quando olhei para ela após um tempo concentrado em uma certa pista, reparei que uma lágrima silenciosa tinha escorrido pela sua face. "É de alegria Dam, não se preocupe," ela disse, quando reparou no meu olhar preso na sua face. Aquela fila gigante ao sol me lembrava da vez em que fomos os dois a um concerto do Green Day, em Turim. Me lembrava também que Vic tinha 17 anos na época, e só poderia ir acompanhada de um maior de idade, e que me forçou a ir com ela no nosso último dia de escola, A entrada era gratuita, e minutos depois percebemos logo porquê. Sem condições nenhumas, estavam perto de 50.000 pessoas, sentadas em terra, porém muito felizes. Estávamos sempre cantando, gritando piadas. É louco pensar que já tivemos no lugar daquelas 5000 pessoas, e que agora, estamos no outro lado.

Nos últimos minutos, fechei os olhos e pensei em tanta coisa. Depois de tanta coisa, de tanta confusão e esforço, eu estava me preparando para tocar em uma sala de concertos histórica. Depois de ter sido estúpido há 2 anos, recuperamos a oportunidade de estar em um sítio como esse. E me lembrei também do motivo pelo qual eu tinha cancelado pela primeira vez. É tão louco olhar para como as coisas estão agora. Por algum motivo, me lembrei de mim e da Vic, no meu quarto de hotel, no dia do meu casamento. Eu sabia que desejava outros momentos como aquele, mas estava constantemente a desmentir isso para mim mesmo. Ignorava o que sentia por ela, mas por vezes, parecia impossível. Quando Leo descobriu tudo, ele me disse "Siga o que o seu coração quer, mas não seja um idiota.", uma frase que nunca me esqueci até hoje. Talvez, um dia, eu pudesse contar a ela isso.
Sei que, quando dei por mim, faltavam 5 minutos para a hora, e estávamos todos fazendo o nosso ritual antes de entrar no palco, que basicamente consiste em nos abraçarmos e falarmos sobre coisas boas. O resto... o resto é história.

O show foi sem dúvida o melhor que a gente já fez alguma vez. A setlist estava super detalhada e planeada com muita atenção, o público estava um máximo e a Vic arrasou naquele palco. Depois de quase 2 anos, Vitto voltou aonde ela era mais feliz, onde ela era ela mesma. O meu orgulho naquele anjo era grande, mas a felicidade era ainda maior.

1 show. 20 músicas. Royal Albert Hall. Isso não parecia real.

Depois de o show acabar, sentia que estava em outra realidade. Mal vi ela, lhe dei um abraço longo e forte, próximo o suficiente para sentir o seu suor no meu peito. Não haviam palavras para descrever o que eu estava sentindo no momento. Muito, mas muito orgulho.

Em camarins diferentes, bati na porta do camarim 4 quando estava quase a tomar banho. Victoria estava lá, tirando a sua maquiagem com algodão embebido no seu desmaquilhante favorito, com a sombra da sua silhueta projetada na pequena luz amarelada na parede cinzenta. A sua pele bronzeada contrastava com a sua roupa interior branca, o seu corset agarrado na sua cintura.

VICTORIA'S POV

Lá estava ele, entrando no meu camarim, sem camisa. O seu cabelo, ainda com um pouco de gel, começava a formar pequenas ondas, a sua maquiagem estava derretendo pela sua face. A cor dos seus olhos parecia mais verde do que nunca, e a sua pele nunca tinha estado tão bronzeada. "Ele está a pensar que vamos fazer o que vamos fazer, certo?" pensei para mim mesma. E no momento que ele me acariciou a face e deu um beijo gentil, soube que estava certa.

Aquele momento pelo qual tinha pensado em todas as vezes que ele vinha ter comigo daquela maneira tinha chegado. Eu não era tocada por alguém há meses, aliás, ele tinha sido uma das únicas pessoas que me tinha tocado. Desejava me sentir amada, desejada, e sentia isso tudo quando só estava com uma pessoa.

Observei ele desamarrando os fios do meu corset, o meu peito a explodir dentro dele a cada respiração que eu dava. As suas mãos nas minhas ancas, descendo lentamente até às minhas partes. Secret Door do Arctic Monkeys no fundo. O seu cheiro a Gucci Mémoire e fumo de tabaco. A minha respiração ofegante contra o seu peito no meio de gemidos. A sua voz no meu ouvido. Uma vista de uma janela de tamanho médio coberta por uma cortina levemente transparente. Eu estava rendida a ele. Estávamos rendidos um ao outro.

























GOLDWINGWhere stories live. Discover now