GOLDWING

chapter 14

2 dias depois, tinha começado outra rotina. Tinha acabado de começar a nossa mini tour de 3 shows por Paris, sendo 2 deles no mesmo dia em locais diferentes. Para mim, esses são os piores dias, por causa de toda a correria que é mudar de cidade em pouco tempo, e também pelo facto de cansar o dobro. Mais um dia, em que eu não consegui falar com o Damiano sobre o que aconteceu naquela noite. Por imenso tempo, não conseguia parar de pensar naquele momento em que ele me empurrou contra aquela porta e me disse todas aquelas coisas lindas, mas ao mesmo tempo achei melhor eu desistir daquela ideia, afinal, ele estava bêbado, e eu também. Já se tinham passado quase 2 dias, e eu não tive coragem de confrontar o Dam com aquilo. Pensei todo o tipo de coisas: que ele realmente tinha bebido demais e me beijou por impulso; que ele se aproveitou da minha vulnerabilidade no momento; e até cheguei a pensar que era porque ele tinha saudade da Giorgia. A única coisa que não conseguia passar na minha cabeça é que ele realmente tivesse sentimentos por mim. De uma forma ou de outra, a vida continuava a seguir. Eu não poderia parar de me focar no meu trabalho por causa de um beijo estúpido.

Depois de ter chegado ao novo hotel, ter feito um teste de som antes do show e de ter ficado mais de 1 hora sendo arranjada por maquilhadores e cabeleireiros, comecei lentamente a realmente esquecer aquela coisa toda. Também tinha me relembrado que já fazia quase 6 meses que eu não subia a um palco real cheio de espectadores, e que aquele concerto marcaria o meu pequeno comeback. E melhor, estávamos participando em um festival em que éramos um dos principais focos do evento.
No momento em que entrei no palco e olhei para o público, vi que o ambiente estava lotado de fãs, todos muito animados. São naqueles momentos que eu sinto realmente que eu nasci para estar em um palco.

Quando o show acabou, eu não estava a me sentir bem, de todo. À saída do palco, já estava à minha espera uma pessoa da nossa equipa que estava segurando uma máquina de oxigénio. Infelizmente, aquela situação já era previsível na cabeça dos membros da organização. Apesar de eu saber que muitos artistas precisam de apoio de oxigénio antes ou depois dos shows, eu estava me sentindo uma anormal. Mas ao mesmo tempo, me sentia muito melhor quando inalei aquilo. Me lembrou um pouco aqueles velhos tempos em que eu ficava com o apoio do oxigénio até adormecer.

Uns minutos depois, eu já estava me sentindo bem. Um pouco confusa sobre o que tinha acontecido no palco, mas bem. Limpei o meu suor com uma toalha, coloquei uma roupa que tinha dentro da minha mala e saí do meu camarim. Logo quando saí do camarim, vi o Damiano mesmo ao lado da porta. Assim que ele me viu, me puxou por um braço para o seu camarim. Pensei imediatamente que ele iria finalmente falar comigo sobre o que tinha acontecido há 2 dias atrás.

- Victoria, eu...

- O que você vai me dizer agora?

- Eu queria te dizer que...

- Então, diga logo?

- Sim, mas...

- Sim, mas o quê, Dam?

- VOCÊ PODERIA PARAR DE ME INTERROMPER? - disse ele, fechando a porta do camarim com força.

- Bem, sim... -disse eu, ligeiramente assustada.

- Você precisou do oxigénio?

- Sim, porquê? Do nada você decidiu voltar a se preocupar comigo? Ou isso é só mais uma daquelas desculpas para falar comigo?

- Você não sabe do que está falando, Vic, eu sempre me preocupei com você.

- E então, já posso sair daqui?

- Você pode, mas.... o que eu fiz assim de tão errado?

- Quer dizer, vamos nos esquecer do que aconteceu há 2 dias atrás? Damiano, você me beijou. Vc me agarrou, você me.... enfim. Você sabe muito bem o que me fez. E depois, vc me puxa do nada para dentro do seu camarim, querendo conversar. Acho que é normal eu ter pensado que você iria finalmente deixar o seu orgulho de lado e voltar a falar comigo e tentar esclarecer as coisas né? Quer dizer, acho que isso é tipo o mínimo que você poderia fazer. Mas também pode deixar isso pra lá, você estava podre de bêbado. - disse eu, me segurando para não me irritar mais.