O Discurso do Príncipe

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O príncipe apenas sorriu para mim e continuou a discursar. Eu me comprometi a interpretar tudo o que o príncipe sinalizasse, nada a mais e nada a menos. Essa era uma missão importante e eu acreditava que o príncipe daria o melhor discurso da história. Essa era a minha aposta.


_ Boa tarde, caros cidadãos de Flyanka! Gostaria de me apresentar a vocês devidamente. Então, como todos sabem, a minha vida inteira passei trancado no palácio real. O palácio do rei? Não, um palácio isolado, proibido, sem qualquer ser humano por perto. Por vezes me escondi pelos empregados para tentar chegar ao palácio real e conhecer o meu irmão, a quem tanto ouvia falar, e também os seus amigos. Eles brincavam no palácio e eu realmente invejava. Invejava ter uma vida normal, uma vida de grandes estudos e convivência em sociedade. Mas a surdez me fez ser visto como incapaz. _ Eu termino de traduzir essa parte e todos se encontravam boquiabertos.


Os nobres cochichavam com os outros a respeito da desumana criação do príncipe e começaram a duvidar das atitudes do rei. Eu sinalizo todos esses questionamentos para Rui e ele continua seu discurso satisfeito.


_ Qualquer deficiência física é vista como uma fraqueza, ainda mais se você for um futuro herdeiro. Filhos de nobres normalmente devem ser impecáveis, perfeitos e sem nenhuma falha. Mas eu gostaria de perguntar-vos, quem de vocês tem filhos que nasceram com alguma deficiência? Primeiro, com relação a surdez.


Quando eu termino de sinalizar, olho para o príncipe Rui e vejo que ele estava esperando pela manifestação dos cidadãos. A princípio, nenhum nobre ousou levantar a sua mão, até porque o preconceito ainda era evidente. No entanto, o príncipe Rui continua.


_ Está certo, essa era a resposta que eu esperava. Vocês estão vendo o impacto que a deficiência física causa na sociedade? Que cidadão quer admitir em público que tem um filho surdo, cego ou aleijado? Esse é o futuro do reino? Um futuro onde colocaremos a máscara de cidadãos de um reino poderoso e escondemos o preconceito enraizado que perpetua de geração a geração?Os cidadãos, perplexos pelas grandes e sábias palavras do príncipe Rui, começam a se pronunciar.


_ Eu tenho uma filha surda!_ diz um camponês.


_ Na verdade eu também tenho um filho que nasceu sem ouvir!


_ Eu também... eu também tenho uma filha surda! _ Comenta o barão Macerata e todos os nobres olham para ele._ Tudo foi mais fácil para ela depois que aprendeu a língua de sinais.


_ Meu... meu filho mais novo é surdo! _ Pronuncia um visconde.


E assim começa vários camponeses também a se pronunciarem e alguns nobres, até mesmo a respeito de outras deficiências físicas. Eu passo essa informação para o príncipe Rui e então ele continua seu discurso.


_ Vocês foram bem em admitir as deficiências físicas! Esse é o primeiro passo para conseguirmos ser mais humanos. Aos poucos nos livraremos destas visões distorcidas e antiquadas sobre limitações e quaisquer outras questões que nos impedem de termos uma boa convivência em sociedade.


Todos os cidadãos de Flyanka começam a aplaudir o seu discurso, estavam tão eufóricos por encontrarem um homem tão bem preparado que não deixaram de transparecer toda a animação. No entanto, parecia que nem Clarisse nem Lucas contavam com isso, dada as suas expressões nada satisfeitas.

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