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O que era para ser um único quadro, um presente isolado, se transformou em diversos e variados presentes caros seguidos.
A pintura a óleo foi pendurada na sala, e logo foi acompanhada de mais duas pinturas igualmente raras e caras; a estante quase vazia logo abrigou diferentes exemplares antigos de poemas, romances e tragédias, em sua maioria de Shakespeare, Jane Austen e outros renomados escritores de séculos atrás; e seu pequeno porta-joias precisou ser substituído por um maior mediante a todos os colares, pulseiras, brincos e anéis que recebera.
E todas as vezes Jane era quem levava os presentes. Apenas uma vez ela vira seu irmão Alec, e Safira não podia deixar de pensar no porquê das duas crianças serem tão... estranhas.
Aquela palavra continuava rondando sua mente - mesmo quando estava trabalhando. Ela era uma mulher esperta, e sabia que tudo aquilo não podia ser coincidência. Havia algo mais em tudo aquilo, e ela estava disposta a saber o que era.
Decidida a tal coisa, na última vez em que Jane apareceu na sua casa, ela pediu um favor.
- Jane, antes de ir... - chamou, fazendo a garota parar e se virar.
- O que gostaria, senhorita Safira? - Jane perguntou, um pouco mais mansa do que nas primeiras vezes. Ela se acostumara com a presença da mulher.
Safira colocou o presente mais recente - um exemplar de Persuasão - no móvel ao lado da porta e pegou uma carta envelopada que se encontrava no mesmo lugar.
- Poderia entregar isso para eles? - pediu ao estender o papel para a menina.
Jane assentiu e pegou a carta, seu dedo tocando de leve no de Safira, que tremeu levemente.
- Você não está com frio? - perguntou.
A menina arregalou os olhos por um momento antes de se recompor.
- Não, eu... tenho as mãos frias por natureza - respondeu.
- Tem certeza? Eu posso te dar um par de luvas se quiser - Safira insistiu preocupada.
O olhar de Jane suavizou diante daquilo. Um pequeno e mínimo sorriso lhe escapou por por poucos segundos.
- Não precisa se preocupar - disse - Entregarei a carta para meus mestres agora.
Com aquilo ela se retirou, correndo devagar até virar a mesma esquina de sempre. Safira suspirou silenciosamente antes de entrar e trancar a porta, ainda preocupada com o frio nas mãos da menina.
Ainda pensando naquilo, ela pegou o livro e o levou para a sala, deixando-o entre outros dois exemplares de Jane Austen na estante.
Se tudo desse certo, logo ela conseguiria se ver livre de tantos presentes sendo levados até ela. Não só colocava em risco a saúde de uma garotinha - ela só ia entregar a noite - como também estava se tornando algo possessivo. Mandando tantos presentes para ela em um espaço tão curto de tempo, o que eles pretendiam com ela?
