-Casa nova.

-Porra, casa nova! Olha isso, Tommy. Millie, canta a música da tia Grace.

Millie começou a cantar distraidamente, enquanto montava a fazendinha:

-Pec-pec-pec, pec-pec-pec.

Tommy soltou uma gargalhada.

-Vai rindo! - Baby falou, irritada.

-Já pensou em se unir a ela, ao invés de tentar vencê-la?

-E zonear meu próprio apartamento, enchendo meu próprio chão de lascas de madeira e arrumando um cachorro para sujar meu sofá novo?

Tommy pensou um instante.

-Não, loira. Na verdade, eu quis usar um ditado e não parei para pensar no significado. Mas talvez eu consiga achar alguém que se interesse pelas esculturas dela. Conheço algumas pessoas que mexem com arte. Vai que.

-Nossa, Tommy. Até ensino a Millie a te chamar de dindo se você desenrolar isso para mim.

-Humpf. Você sempre me ilude.

Foram interrompidos porque o despertador da Baby tocou, sinalizando que era hora de ligar para o Victor, pai da Millie. Como ele morava nos Estados Unidos, os telefonemas eram feitos duas vezes por semana, em um horário milimetricamente cronometrado para ser quando ele não estivesse trabalhando e quando ela não estivesse dormindo. Baby disse para Tommy que já voltava e pegou Millie no colo, que foi reclamando por ter interrompido a brincadeira.

-É hora de falar com o papai Victor, Millie! Depois você brinca mais!

Ela entrou no escritório e avisou a Grace, sem muitos rodeios.

-A Millie precisa falar com o pai dela agora. Dá licença?

Grace fechou a cara, mas não reclamou e foi até o corredor. Ela e Tommy, que havia se levantado do quarto também, ficaram se encarando.

-Como é essa história da Millie com o pai biológico dela? - Ela perguntou finalmente, como se estivesse puxando assunto. - Eles se dão bem?

-Todo mundo se dá bem com o Victor – E Tommy deu um sorriso cheio de autossuficiência: - Ele é meu irmão.

-Ok, o cara é gente boa. Mas se dão como pai e filha?

-Tem a distância. - Tommy explicou, didático. - Acho que vai ficar mais fácil quando ela for maiorzinha. Por enquanto acho que "papai" é mais um título aleatório e o Victor é um cara legal que conversa com ela.

-Na prática, meu irmão é bem mais pai presente, né? - Ela falou casualmente

Tommy achou o comentário bem sem noção e não tão desinteressado quanto soava.

-Seu irmão tem mais oportunidade de estar presente, sim – Ele colocou o que ela havia dito de outra forma. - Foi o jeito que as coisas aconteceram. O Victor estava com a vida toda estruturada nos Estados Unidos quando descobriu. Não é culpa de ninguém.

Grace ia responder, mas naquele momento o cachorro começou a latir com a chegada de alguém e, dali a poucos segundos, a porta se abria e Zach entrava.

-Oi, Tommy! E aí? Baby e Millie estão falando com o Victor?

-É, você conhece os horários - Tommy sorriu.

-A única que não conhece sou eu, mas me dê mais uns dias – Grace deu um sorriso simpático. - Bom, já que meu trabalho foi interrompido, vou levar o Theo para passear.

-Falou – Zach concordou.

Só quem estava com uma sensação esquisita era o Tommy.

-x-x-x-

Quando A Vida Acontece - Vol 3Where stories live. Discover now