-E aí?

-E aí?! - Malu começou. - Como assim, "e aí"? Luca, quem é Roberta Smith?

Ele coçou o olho com a mão, ainda meio adormecido, e perguntou:

-Não sei, quem é?

-Você dorme com uma menina e não sabe nem o nome dela? Eddie, fale com ele. Eu não consigo lidar. Não consigo!

-O que está acontecendo? - Vinte e dois anos com uma mãe dramática o ensinaram a não ligar as sirenes de alarme ainda. A casa parecia em ordem e, mais importante, seu pai parecia com a cabeça no lugar. Logo, era muito provável que uma tal de Roberta houvesse tocado a campainha atrás dele e sua mãe estivesse com ciúmes. Ela fazia muito isso de julgar as mulheres que saíam com os seus filhos.

-Ok, eu falo com ele – Seu pai disse. - Então, Luca, aconteceu uma... situação. A gente precisa que você volte porque tem um bebê aqui e dizem que é seu.

-Tem um o quê?! - Luca pareceu despertar, não só da última noite, como da vida. Imediatamente seu famoso sorriso sumiu.

-Essa tal Roberta Smith deixou um bebê aqui na porta com um bilhete e uma certidão de nascimento. Você jura que não lembra dela?

-Eu... Juro – Ele disse, mas não conseguiu soar tão certo assim. Ele conhecia muita gente. Algumas por pouco tempo, outras por tempo instantâneo, e a Roberta Smith podia pertencer a uma dessas categorias. Ele não queria parecer um cretino, mas... bom, era isso o que ele era.

-Pai – Luca falou, confuso. - Eu cheguei há dois dias. Tem uma galera aqui. Como eu vou voltar...

-Você ouviu o que eu falei? - Eddie perdeu a paciência. - Tem um bebê aqui porque você é um puta irresponsável! É isso que você vai dizer para os seus amigos, e depois você vai enfiar a porra do rabo em um avião! Vai trocar essa passagem para o próximo voo e me diz que horas eu te pego no aeroporto.

Malu, Kate e Alex ficaram perplexas, olhando para ele. Nunca nada tirava Eddie do sério. Só a Renata, e mesmo assim apenas quando o assunto era a Emily.

-Nossa, Eddie – Malu murmurou.

-Caraca – disse Kate.

-Achei sexy – disse Alex.

Durante aquele dia, Eddie e Malu disseram que não dava para fazer nada além de esperar. Que não iam se afeiçoar para não terem uma decepção. E compraram. Compraram itens necessários, como os de higiene, e uma infinidade de coisas não tão necessárias assim, como brinquedos e roupinhas. Compraram também uma babá eletrônica, pois o berço da casa, que era usado por Viv, filha do Victor, quando eles vinham visitar, ficava no segundo andar. E, mesmo se preparando para dar a bronca da vida do Luca caso o bebê fosse mesmo dele, ambos torciam para que o exame de DNA desse positivo.

Kate tinha mais o que fazer, mas Alex ficou rondando.

-E se vencer o cinquenta por cento não-filho-do-Luca? O que vocês vão fazer? Devolver?

-Não se devolve um bebê, Alex – Malu respondeu.

-Ele não vem com endereço do remetente na bunda da fralda para a gente mandar de volta – disse Eddie.

-Vocês podem procurar a Roberta Smith.

-Acho que a gente vai ter de procurar a Roberta Smith.

Mas, por enquanto, eles não fizeram nada. Só cuidaram do Noah e aguardaram.

-x-x-x-

Luca estava esperando no saguão de desembarque, segurando uma bolsa de viagem e olhando desconfiado ao ver seu pai se aproximar, sem saber se ele tinha voltado a ser o cara gente boa, sempre bem-humorado e mediador de conflitos de costume ou se continuava com a mesma vibe de gritar com ele e mandar que ele enfiasse a porra do rabo em um avião. Ele entendia que havia um bebê em jogo, só não entendia que o bebê fosse seu. Ele se cuidava.

Quando A Vida Acontece - Vol 3Onde histórias criam vida. Descubra agora