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Dor é oque me faz despertar de um sono de milhões de anos. Óbvio que não levei esse tempo todo dormindo mas é exatamente assim que me sinto. Quase dou boas vindas ao padecimento por que sei que isso significa que estou viva, mas eu quero mesmo é que a dor vá embora. Tento engolir saliva. Não consigo. Engasgo. Tento abrir os olhos. É muito difícil, minhas pálpebras parecem inchadas e pesadas. Espero ver as paredes brancas da sala de recuperação de um hospital, uma enfermeira pairando sobre mim. Espero ouvir o sinal sonoro dos monitores. Espero sentir no ar um cheiro amargo e adstringente mas não acontece nada disso. Estou em um quarto escuro e frio, me apavoro instantaneamente pois a ideia de Lorenzo ter finalmente conseguido oque tanto queria me assombra. Não sei oque aconteceu depois daquele tiroteio, só sei que fui atingida e que não morri, o resto é uma verdadeira lacuna. Arranco a agulha fina do meu braço, onde soro, calmantes e morfina são desviados para o meu organismo. Meu corpo inteiro dói, mas preciso me situar e tentar buscar algum tipo de sinal de que não estou em perigo. Me sento na cama e observo o local, nunca estive aqui antes, as paredes na cor cinza representam bem como está o meu mundo, tudo que vivi até aqui foi uma mentira, me sinto perdida e eu não posso confiar em ninguém. Lorenzo afirmar com toda certeza do mundo que é meu pai logo depois de Steven fazer exatamente a mesma coisa é algo surreal e inacreditável, os dois são totalmente o oposto e a essa altura eu nem sei se quero que um dos dois seja mesmo meu pai, tudo era mais fácil quando eu não os conhecia. Nash mentiu para mim e me colocou numa situação perigosa, eu achei que fosse especial para ele e mamãe, essa dali é a que me deve mais explicações. Shawn foi o maior mentiroso e manipulador de todos, pelo que entendi ele é uma espécie de agente do FBI e se for mesmo oque estou pensando, ele só está em minha vida com um único intuito, prender Lorenzo. Agora algumas coisas fazem sentido, como as vezes que disse que seu único trabalho era me manter a salvo e agora eu não sei mais se ele me amou mesmo ou se essa foi a maneira mais fácil de me manter na coleira. Eu estou tão decepcionada com todos.
Enxugo lágrimas que insistem em molhar meu rosto, estou exausta de tudo e só gostaria de sumir e recomeçar. Longe de toda essa bagunça.
Ouço uma música baixa vindo de algum cômodo do local, é algo calmo e melancólico. Ponho os pés no chão e no mesmo instante sinto uma pontada vindo das costas, faço uma careta de dor e então me dou conta de onde o tiro atingiu. Levanto a camisa larga que estou usando e com certa dificuldade consigo ver um enorme curativo acima do meu quadril, agora sem morfina na veia eu consigo sentir a região machucada bem mais dolorida. Não desisto mesmo com as dores se intensificando, ando devagar até a porta e giro a maçaneta. Saio do quarto tentando não fazer barulho, minhas pernas estão trôpegas, me seguro nas paredes enquanto minha outra mão permanece em cima do curativo. O som melancólico aumenta a medida de que vou me aproximando, estou suando frio e ficando com a visão turva, a ponto de desmaiar, eu não posso desistir agora. Continuo andando e de repente estou em uma sala de estar, a música está vindo da cozinha e isso significa que há mais alguém na casa, do qual não quero encontrar. Tento apressar o passo, eu preciso fugir. Tropeço em algo pelo caminho e sem muito equilíbrio ou força eu vou direto parar no chão, caio de mal jeito e acabo machucando ainda mais meu ferimento. Droga!

- Merda! - resmungo aos prantos, eu só quero escapar desse lugar e dessa vida.

- Porra, Rebecca! Oque está fazendo fora da cama? - ouço a voz ríspida de Shawn e quando levanto o rosto ele está me encarando com um olhar aterrorizante enquanto enxuga as mãos num pano de prato - Como você é teimosa até machucada. Impressionante. - ele se abaixa e me ajuda a levantar, eu quero ele longe mas no momento não estou em condições de recusar ajuda.

- Onde estou? Eu quero ir embora daqui. - indago ansiosa e nervosa, estou de pé, me afasto de suas mãos - Quem é você?

- Que pergunta boba, sou eu. Shawn - ele sorri amarelo sabendo que não é a hora certa para piadas, continuo encarando-o enquanto meus olhos marejados entregam exatamente oque estou sentindo - Eu não queria que as coisas tivessem tomado esse rumo - sua voz é trêmula, cheia de emoção. Engulo um nó na garganta do tamanho de uma bola de ping pong, tentando dominar as lágrimas que pairam nos meus olhos. - Becca, por favor. - sua mão acaricia a parte de trás do meu braço, local onde ele mesmo machucou dias atrás. Eu me encolho.

Oh Daddy! - Shawn MendesWhere stories live. Discover now