Apenas uma empregada

Enfim a conversa

Quando escuto sua voz, meu corpo congela.

- Só vim tomar uma água, ja vou voltar pro quarto. - saio em direção as escadas e ele também vai e segura meu braço

- Eu só te peço pela última vez, nunca mais dirijo a palavra a você, mas me escuta, eu preciso conversar com você.

- Não temos nada pra conversar Diego.

- Por favor Natália, você sabe que temos, e depois nunca mais te procuro. Sei que seu coração já tem outro. Mas me escuta por favor.

Meu coração tem outro? Diego tá bêbado? De onde ele tirou isso.

- Você bebeu Diego?

- Não, juro que não, fiquei com os meninos jogando conversa fora, precisava me distrair, mas nao bebi, eu juro.

- Tá vai, vamos sentar e você me fala o que tem a dizer e eu também te falo o que tenho a dizer. - não sei se era o certo, mas pelo menos amanhã não estaria aqui pra ver ele e sofrer mais ainda.

Ele suspira fundo e vai até o sofá e se senta. Me sento na outra ponta.

- Pra começar, tudo que vivi com você foi verdadeiro. Você nunca foi um jogo pra mim. Muito menos um troféu como você me disse aquele dia.

Ele se lembrava das minhas palavras, do mesmo jeito que eu lembrava das deles.

-Naquele dia do baile, você era a mulher mais linda da festa. E eu queria logo que aquela noite terminasse pra que eu pudesse falar com meus pais e a gente poder ficar junto sem esconder de ninguém. Até eu escutar uma conversa entre meu pai e Fábio, aquele mesmo do julgamento, na conversa ele olhava pra você e perguntava ao meu pai quem era, o pai falava que você trabalhava aqui em casa, ele se assustou, falou que você era linda, que até tinha pensado em apresentar o filho dele a você, mas você sendo uma empregada isso não era possível - fico incomodada com suas palavras mas me mantenho calada- até que escuto meu pai concordar, dizendo que realmente isso era impossível, que você só era a empregada, que você não podia ser apresentada ao lado do Bruno. - minha boca se abre, meu próprio pai disse isso- Natália meu mundo nessa hora caiu, tudo eu havia imaginado com você, desmoronou, como ia contar aos meus pais que eu estava com você, eles iam achar que você era uma oferecida, que você queria se aproveitar, eu só queria sair dali e pensar, pensar no que fazer com a gente.

- E então você resolve ir passar um final de semana romântico, na casa de campo, com a Júlia - eu falo já enxugando uma lágrima que teimava em cair.

- Não - ele fala mais alto- eu fui sozinho. - suspira- a ideia de falar que fui com a Julia veio no outro dia de manhã. Precisava que você se afastasse de mim. O sábado e o domingo, eu passei nem sei como, olhava nossas fotos, pensei em mil coisas Natália, a primeira em chegar e contar tudo pra meus pais, te explicar que não tinha ido com a Júlia, mas e se para meus pais você fosse somente a empregada, se eles nao apoiassem nós dois, por mais que eu amasse você, não ia aguentar ver meus pais te destratando, depois pensei em te chamar pra ir morar comigo, pensei em te propor a mudar de emprego, e fui vendo o quanto eu estava sendo egoísta, você estava começando a vida Natália, queria estudar, hoje eu sei que logo depois você fez o vestibular, e poxa olha o que eu ia propor pra você, você largar isso tudo, sendo que eu mesmo não ia mudar nada em minha vida,então resolvi abrir mão do meu amor por você. - ele estava chorando, Diego estava chorando.

- Eu iria Diego, eu iria pra onde você fosse. E então você resolve voltar, e falar aquilo tudo. Resolve me matar com suas palavras. Diego eu me afundei em um buraco que você não tem noção o quão fundo ele era. Suas palavras Diego, vem a tona toda vez que te vejo.

- Eu sei o tamanho do buraco porque eu me afundei nele também. Mas eu precisava. Eu não poderia simplesmente terminar, falar que não ia dar certo por causa da distância, e toda vez que eu viesse, a gente ficasse junto, eu não queria ficar com você escondido , você merecia mais. E infelizmente esse foi o jeito que achei. Sei que te machuquei, e todas a vezes que voltei, tentei te ligar, tinha a esperança de te encontrar, e te explicar tudo, eu ia em seu quarto todos os dias Natália,eu chorava todas a vezes que entrava nele e lembrava da gente ali.

- Eu troquei de telefone, e eu sempre tirava férias no final de ano. Eu nao conseguia te olhar Diego, suas palavras me machucaram muito. E quando eu voltava eu sentia seu perfume. Achava que tava ficando louca. - ele sorri e balança a cabeça - Mas eu não tinha estrutura para te ver.

- E você estava certa Natália, depois que você me disse a outra parte da sua história que eu não conhecia, eu me arrependi de ter falado tudo aquilo. Mas hoje vejo o quanto você cresceu. Quando eu cheguei e vi que era você, a advogada que meus pais tanto falavam, a juíza, porra que orgulho que fiquei de você. E vi a burrada que fiz eu deveria ter esperado, deveria ter conversado com meus pais, deveria ter conversado com você. Mas hoje já não posso voltar atrás.

- Eu cresci Diego, tenho uma carreira admirável, sou uma juíza agora, a mais nova do Brasil, tenho muitos diplomas, certificados, hoje tenho uma família maravilhosa, amigos que nunca me largaram a mão, mas me fechei pro outro lado. Eu nunca mais confiei em homem nenhum.

- Até você encontrar ele. E hoje estou aqui na sua frente admitindo que perdi. E por outro lado fico feliz de você ter encontrado o Tiago, ele é um bom rapaz, e teve a coragem de assumir o que eu não tive, o amor por você.

Ele achava que eu e Tiago estavamos juntos. Não vou confirmar nem desmentir.

- Encontrei Tiago no momento mais delicado da minha vida, e desde então ele não saiu.

- Ele vai com você né? - ele fala com lágrimas nos olhos

- Sim conseguiu transferência para lá. - eu falo baixo

Ele senta mais perto, e mexe na carteira. E eu nao consigo acreditar quando ele tira de lá a chave. Ele tinha a chave. Ele andava com ela.

- Não faz mais sentido eu ter ela, eu te perdi Natália, e por minha culpa mesmo. Espero que ele seja capaz de te fazer feliz, coisa que eu só fiz o contrário, mas eu nunca fiz por maldade, pelo contrário, fiz tentando nao prejudicar seu futuro, e nessa parte eu fico feliz. - ele me entrega a chave- não sou mais eu que mando no seu coração. Eu nunca vou deixar de te amar, mas nunca vou ser egoísta pra te desejar o mal, pelo contrário, vou estar aqui pra te aplaudir sempre.

Ele levanta e sai em direção a escada.

- Obrigada de verdade por ter me escutado, eu espero que você me perdoe pelo sofrimento que lhe causei, você não perguntou, mas sei que foi por isso que você tomou a decisão de ir embora, eu não dormi com a Júlia, e não teria motivos pra mentir pra você, ela foi até meu quarto, me pediu uma blusa, eu de bruços estava, de bruços fiquei, so apontei onde estavam as blusas e voltei a dormir. Eu nunca quis outra mulher a não ser você. Queria ter tido essa conversa com você naquele dia. Mas aprendi que tudo acontece como deve ser. Boa noite Natália e boa sorte na nova cidade.

Ele sobe as escadas, ele estava chorando, e eu fico aqui chorando. Não fui capaz de dizer mais nada. Não sou capaz de dizer nada. Fico ali pensando em tudo que ele me disse. Resolvo ir pra casa de madrugada mesmo.

Chego em casa e corro pro meu quarto. Pego minha caixa. Ali desabo. Nossas fotos.  Nossos sorrisos. Minha primeira vez. Nosso anjinho.Pego o coração e abro com a chave, e quando abro, me vem todas nossas lembranças, nossas conversas. Eu o amava com todas as minhas forças. Ele me machucou. Mas de explicou. E olhando pelo lado dele, me fazia ama-lo mais ainda. Porque não tive essa conversa com ele antes? Agora nao posso simplesmente nao ir. Eu tinha um contrato de 6 meses a cumprir.

Adormeço em meio as fotos e lembranças.