Primeiro mês

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Hoje completa 20 dias que estou trabalhando aqui. E pela terceira vez cheguei atrasada. E vi pela cara de dona Ana que ela não gostou nada. Entrei pela cozinha, senhor José estava tomando café, me comprimentou e já foi saindo para levar o senhor Ricardo para a empresa.

Peguei o que ia precisar de material, e quando ia saindo, dona Ana me chamou no escritório, e dona Maria foi junto.

- Bom dia Natália, você consegue me explicar o atraso, três vezes durante esse primeiro mês? - dona Ana me perguntou mas seu rosto não estava bravo.

Na hora engoli seco, e pensava como ia falar, como ia explicar, então lembrei das palavras da Irmã Imaculada, nunca minta.

- Dona Ana primeiro me desculpe, eu sei que não é desculpa, mas venho a pé, da pensão até aqui, porquê nesse horário não tem ônibus, e os três dias que atrasei, forem os dias que cheguei tarde na pensão, pois fiquei até tarde ajudando Maria, e não estou reclamando de nada, e fico até quando precisar, mas as minhas pernas e meu corpo não entendem isso, e por mais que eu queira vir correndo, eu não consegui. - disse e abaixei a cabeça.

Um silêncio entre nós três ficou ali, e dona Ana só falou que eu estava liberada. Já senti que os próximos 10 dias seriam os meus últimos ali.

Os próximos dias se passaram e hoje era o último dia de experiência, não cheguei mais atrasada, nesses último dias, mas também não fiquei até tarde na mansão.

No final da tarde dona Maria pediu que eu acompanhasse ela, e fomos até o escritório, ela foi conversando a carinha dela tava boa, e acho que fui me acalmando.

Chegando a sala, estavam dona Ana, senhor Ricardo e dona Maria que veio comigo.

- Bom Natália, hoje é seu último dia de experiência, e temos somente coisas boas pra te falar sobre esses dias, porém vc falhou na primeira regra não se atrase.

Nesse momento abaixei a cabeça, e senti meus olhos marejados, eu nao ia chorar ali, mas estava quase. E me xinguei mentalmente porquê nao saí mais cedo, ou porquê não passei a noite acordada no portão da mansão, pelo menos nao ia correr o risco de perder esse emprego. Eu ja tinha uma carinho pelo senhor Ricardo e pelo senhor José, pela dona Ana e dona Maria então, nem se fala, o dia passava voando quando a gente ficava no mesmo ambiente fazendo algum serviço.

Ela se levante e me entrega um envelope. Sabia que era meu pagamento. Ela pediu que eu abrisse e conferisse o valor, se estava igual o contrato. Quando abri, nao pude conter a cara de espanto, era um cheque de R$ 1800,00 reais. Quando ia falar alguma coisa, senhor Ricardo me corta.

-Pela sua cara você nao leu o contrato, não é mesmo menina.

- Eu estava tão feliz naquele dia,que nem li ele todo, e se eu ganhasse 10,00 reais eu estava satisfeita.

- Olha um conselho pra vida, nunca assine nada sem ler, me entendeu? E se tiver alguma dúvida, traga que leio e te explico.

Somente assenti. Fiquei em silêncio, pois não sabia mais o que dizer.

- Natália, naquele dia na igreja quando vi você chorando, fiquei imaginando o que tinha acontecido, quando conversei com você, pensei que você tinha se perdido na vida, fiquei triste, tão bonita, tão nova. Pedi a Deus pra te acompanhar. E nos encontramos de novo, e quando você me contou tudo sobre eu não podia imaginar sua dor, e quando Maria me contou como você trabalhava e como era caprichosa, minha admiração só crescia. Eu liguei pro orfanato Natália, conversei com a irmã Imaculada - quando ela disse isso, meu coração bateu a mil por hora- inclusive ela falou que está com saudade de você, que você nao deu mais notícias, expliquei ela que você estava aqui em casa, e o que eu ouvi, eu fiquei maravilhada, ela falou com todas as palavras que se pudesse te escondia pra você nao ter ido embora, que depois que você se foi, o orfanato perdeu um pouco da graça. E então conversei com Ricardo, e com Maria, e resolvemos te dar essa oportunidade. Eu sei onde você está dormindo, e é muito longe para você ir e vir a pé, não vou te dispensar, sei que sua cabecinha está pensando isso...

Nessa hora já estava com o rosto vermelho de chorar, mas não falava nada, nao conseguia.

- A partir de hoje você é minha funcionária, e acho que você já viu, temos três quartos, no final do corredor da cozinha, a partir de hoje, você irá morar aqui, não quero mais atraso, entendeu Natália? - ela disse dessa vez firme

- Eu não tenho como agradecer, aliás tenho sim, fazendo meu serviço cada vez mais impecável, vocês vão se orgulhar de mim.

- Temos outra coisa a conversar, você tem 18 anos, terminou o ensino médio, e a irmã Imaculada disse que você tinha ótimas notas, estamos em julho, gostaria que você estudasse pro vestibular, e em dezembro fizesse e assim passando vamos custear seus estudos. - dessa vez foi o Senhor Ricardo que me dizia.

Eu nao sabia o que dizer, nesse momento, fui até dona Ana e dei um abraço, e recebi também um abraço, que a muito tempo não recebia, meio sem jeito olhei para o Senhor Ricardo, que com um sorriso no rosto me puxou e me abraçou, e logo depois dona Maria que chorava sem parar.

Respirei ,olhei para eles e falei..

- Muito obrigado por confiarem em mim, e vou fazer vocês terem muito orgulho de mim. Lá na frente vou entregar meu diploma pra vocês e vocês vão ter um orgulho imenso.

- Acreditamos em você - dona Ana me disse- Agora vai que José vai te levar até a pensão, acerte tudo lá, e ele te trará de volta.

Sai correndo, ao encontro do senhor José, fomos e voltamos rapidinho. Quando entrei no quarto, nem acreditei que estava vivendo aquilo. Só podia agradecer.

Apenas uma empregadaWhere stories live. Discover now