Capítulo 96

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— Mãe? — Tinha o celular diante da orelha, prendendo o aparelho entre meu ombro. — Quantos ml de água eu preciso colocar na mamadeira? — Verifiquei a mamadeira transparente com o desenho da pequena sereia.

Clara me esperava na mesa da cozinha. Estava fazendo um desenho.

— Você sabe o quanto ela mama?

— É... — Verifiquei o papel que Jane havia me dado. — Aqui não diz. E se eu perguntar pra ela?

— Claro, uma menina de cinco anos vai saber quantos ml ela mama. — Pareceu um pouco idiota demais. — E se você experimentar colocar a metade da mamadeira?

— Parece uma boa. — Abri o pote de leite, colocando duas colheres pequenas do conteúdo. — Eu vou fazer e depois te ligo.

— E você sabe fazer uma mamadeira?

— Sei. — Não?

— E como faz uma mamadeira, Micael?

— Eu vou misturar a água com o leite, esquentar e pronto. É só dar pra ela beber! — Me pareceu bem simples.

— Você vai dar a mamadeira pra uma garotinha de cinco anos, sem ao menos experimentar? Verificar a temperatura? E se ela queimar a língua? E se o bico da mamadeira estiver quebrado e vazar todo o líquido? — MEU DEUS!

— Por que você é assim? — Eu gostaria que ela pudesse ver a minha careta.

— Porque eu fui mãe duas vezes e serei de novo.

Bufei.

— Tá bom, tá bom. — Encarei Clara que estava concentrada em seu desenho. — Eu vou fazer e depois te ligo.

— Não esqueça das coisas que eu te falei.

— Tá bom, mãe. — Me irritei, desligando a ligação.

Terminei de arrumar a incrível mamadeira de Clara, verificando a temperatura em minhas mãos. Lambi o pouco leite que havia derramado, tentando descobrir se estava quente demais ou frio demais... Eu seria um péssimo pai se eu ainda quisesse ter um filho.

— Clara. — Chamei a mesma que me encarou, rápida. — Sua mamadeira está pronta! — Entreguei.

— Tio mima, eu fiz um desenho pra você. — Clara esticou o papel branco com diversos rabiscos aleatórios. Me fingi impressionado com o seu talento.

Foco no: tio mima.

— Ficou lindo, Clara. — Sorri, entregando à ela sua mamadeira e pegando o desenho pra mim. — Está muito quente? — Perguntei, cauteloso. Minha mãe havia me colocado medo na ligação.

Ela negou com a cabeça, ainda mamando. Desceu da cadeira e foi até à sala. Segui a baixinha que parecia a filha da Cinderella.

Clara foi rápida ao subir em uma poltrona de couro e ter o controle da TV em mãos, oferendo à mim.

— Tio mima. — Retirou o bico da mamadeira de sua boca. — Coloca no desenho da Cinderella.

— De novo? — Me cansei só de pensar que teria que assistir Cinderella com ela.

— Mas você ainda não assistiu.

— Já assisti sim! — Procurei o filme na tela indicativa que apareceu na TV. — Você vai me jurar que depois vai dormir?

Clara levantou os ombros, parecendo se fingir que não sabia de nada.

— Se eu tiver com sono. — Era debochada! Ela havia herdado de alguém... Espero que não seja de Jane.

Coloquei o filme que começou a ser rodado na TV. Clara se empoleirou em cima de mim, deitando sua cabeça em meu peito, ainda mamando na mamadeira. Fiz carinho em seus pequenos cachos.

Não sei se seria um ótimo pai mas estava pegando carinho por Clara. A garotinha era especial, linda e ainda por cima encantadora. O senhor e a senhora Lewis capricharam na hora de fazê-la.

Alguns minutos depois da mamadeira ter acabado, Clara dormiu, em meu colo. Coloquei a pequena na cama, subindo as escadas com ela em meus braços e certificando que ela não acordaria. Até que foi fácil!

Voltei pra sala, assistindo um pouco de TV até Jane e Marco chegarem, que não demorou muito. Os dois passaram pela porta, risonhos, fazendo piadas internas sobre si.

Ajeitei minha postura, ficando de pé e desligando a TV.

— Micael, como foi com a Clara? Ela dormiu? — Jane perguntou, ansiosa e sorridente.

— Ela mamou e dormiu logo em seguida. Me fez até um desenho. — Cocei minha nuca. Por que eu ficava nervoso na frente deles?

— Que maravilha! É raro ela se adaptar com alguém. — Marco mexeu no bolso da calça, tirando a sua carteira. — Aqui está, Micael! — Me entregou quatrocentos dólares vivos. Fiquei impressionado! — Você vem amanhã?

— Com toda a certeza do mundo. — Guardei o dinheiro. — Muito obrigado por me escolherem pra ser a babá da Clara. — Agradeci pela milésima vez.

— Ora, não precisa agradecer. — Jane sorriu. — Nós que estamos gratos de ter te achado! Horácio fez bem em ter falado de você pra nós. — Caminhou até à cozinha. — Você comeu alguma coisa, Micael? — Mexeu nos armários.

— Não, eu não comi nada.

— E não quer nada mesmo? Você parece estar com fome! — E estava.

— Jane pode fritar algumas batatas. — Marco completou. — Você toma cerveja? — Foi de encontro com ela.

— É... Eu preciso mesmo ir pra casa. — Apontei para a porta, tentando sair. — Amanhã eu tenho aula cedo, depois o curso... — Lembrei. — Podemos beber outro dia, que tal? — Optei.

— Quando você quiser, Micael. — Marco abraçou Jane, os dois me encaravam. — Boa noite pra você!

— Boa noite pra vocês também. — Sai da casa, ainda querendo beber cerveja e comer algumas batatinhas fritas por Jane, mas tinha que ir embora.

Estava com trezentos dólares no bolso que me ajudaria bastante se eu conseguisse administrar. Talvez, eu tentaria conversar com o meu pai pra conseguir abrir uma conta no banco, é! Eu falaria com ele sobre isso.

Dirigi extremante feliz por ter tirado de letra o primeiro dia no meu emprego, que não era dos sonhos. Clara foi cooperativa, não me deixou louco e não foi igual aos filmes de babá, que sempre te colocam em enrascada.

Estava tudo dando certo... Bom, eu pensava assim!

Aposta de Amor Where stories live. Discover now