Capítulo 72

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Uma semana depois.

Os últimos dias foram conturbados pra toda a sociedade da classe média. O casamento de Sophia deu o que falar, por um mísero convite em um papel extremamente bem produzido, com iniciais típicas de tempos da antiguidade e um vinho importado para quem recebesse o convite. Eu fiquei sem o convite e sem o vinho porque não fui convidado.

Até o Duff foi convidado.

— Tudo certo por aí? — Alan estava arrumando a Cannon dentro da bolsinha antes de buscar a chave do carro.

Me encarei três vezes diante do espelho que havia na garagem.

— Bora pra luta, né? — Me encorajei, entrando em seu carro e partindo até à igreja.

Sophia iria se casar na quarta igreja central de Nova Iorque, onde algum famoso se deu ao trabalho de se casar ali também, mas agora eu não iria lembrar pra poupar o seu tempo e te dizer quem era. As decorações foram avaliadas em setenta e dois mil dólares. Por que eu sabia disso? Graças à Melkeman que babava o ovo das empresas Abrahão e do Renato.

Alan demorou pra achar uma vaga recíproca perto da igreja.

— Caralho, o colégio inteiro está em peso. — Ele sabia de quase todos os carros.

— Você acha que o Jack pouparia de todos assistirem à sua desgraça? — Fiz Alan rir.

— O que me impressiona é que a Sophia deixou de convidar você pra convidar o Duff.

— Eu não vou te bater porque tô de carona. Fora isso, você já estaria com um roxo no olho e o ombro doendo. — Sai do carro.

— Como você é... Insensível. — Alan acionou o alarme do carro.

Ficamos do outro lado da rua como dois idiotas vendo o camburão de pessoas entrarem na igreja, ambos perfeitamente vestidos. Impecáveis, como dizia a louca da minha mãe.

— Qual é o plano?

— Não tem um plano. — Dei de ombros. — Eu vou entrar na igreja e contar tudo. Acabou!

— Você parecia mais ansioso com a ideia de acabar com a raça do Renato. — Alan estranhou.

E eu também! Ultimamente eu estava meio pra baixo, não falar com Sophia me dava um desgaste enorme, mesmo estando brigado com ela. Eu deixei o meu orgulho de lado e estava morrendo de saudade da minha loirinha.

— Pareço uma menininha do clã que está sofrendo por amor? — Encarei Alan que assentiu.

— Quer um sorvete e um CD da Kate Nash pra acompanhar?

— James Blunt seria melhor, não?

— Não sei. Você choraria com todos os dois! — Isso era verdade. — Acho legal você ter encontrado alguém, Miquinha. — Fazia anos que Alan não me chamava de Miquinha.

Ele só me chamava assim quando queria dizer alguma coisa bastante séria.

— Vai me dar sermão como o meu pai?

— Só achei legal em dizer. Você perdeu a magia do amor depois que se separou.

— Ah, eu não sofri tanto assim.

— Sofreu. Mas como você é orgulhoso, não quis dividir com ninguém. Só sua mãe sabe o que você passou, porque ela me contava.

— Pelo visto o Duff não é o único fofoqueiro de plantão. — Alan soltou um risinho.

— Essa aposta maluca caiu na hora certa!

— Eu também acho que sim, se não fosse pela aposta eu nunca teria olhos pra Sophia.

— Você odiava ela!

— E como! — Nós dois rimos.

— A vida é uma merda, Micael! É por isso que você precisa aproveitar. — Alan ficou em transe, pensando. Foi como cutucar uma ferida com arame.

Alan namorou cinco anos seguidos até perder a namorada em um acidente fatal, ele não gostava de dizer muito mas ainda sentia. Nenhuma namorada séria igual a Chloe.

— É... — Decidi me entristecer e dar um apoio moral, mas meu corpo se estalou sozinho e acordou ao ver a limusine preta parar em frente à igreja.

Ficamos tanto tempo assim? Parados? Sem fazer nada?

A porta se abriu e minha princesa saiu de lá, como uma verdadeira princesa da Disney. O vestido impecável com um véu longo arrastando por toda a calçada, eu conseguia enxergar as pedras de brilho que haviam detalhadamente. Sophia estava perfeita naquele vestido e eu ficava totalmente triste ao saber que não seria eu casando com ela.

Mas calma, não vamos colocar a carroça na frente dos bois, como já dizia a minha avó.

Ela recebeu a ajuda de uma mulher vestida de social e logo atrás havia chegado Renato, bem vestido, com um traje social enroscando seu braço no braço de Sophia, levando ela até o altar.

— É agora, Alan! — Avisei ele quando Sophia entrou na igreja, sumindo pela enorme porta que estava aberta.

Corremos até a calçada da igreja, nos escondendo perto da porta onde conseguíamos escutar tudo. Alan retirou a Cannon da bolsinha, ficando com a máquina em mãos.

— Pra que você trouxe isso?

— Eu quero fotografar tudo. E quando eu digo tudo é tudo mesmo. — Deixou bem claro após gesticular que era tudo.

Meus amigos eram todos fofoqueiros.

Assisti um pouco de canto e vi Sophia andar naquele enorme corredor com diversos convidados de pé ao seu lado, até chegar ao altar. Branca estava por lá com mais alguns amigos, vi Mel também na presença de alguns caras do time de futebol... Nada demais. Jack estava de branco como um veadinho por completo, uma rosa em seu peito pra fingir-se um charme à parte.

A música parou de ecoar, Renato entregou Sophia à Jack e assim os dois se ajoelharam no lugar apropriado que deveria ser confortável. O padre ajustou o microfone, começando a cerimônia.

Essa era a hora que todos iriam dormir, principalmente eu.

Mas eu tinha um trabalho à fazer e poupar o seu tempo com toda a Bíblia que ele iria rezar.

Três horas depois.

— Cara, eu já tô cansado. — Alan estava sentado na guia da calçada, bocejando.

— Você sabe como é casamento, né? Mas eu também tô cansado. — Suspirei.

Uma música começou a tocar do nada. Me levantei junto com Alan, rapidamente.

— Sendo assim. — O padre começou a falar novamente. — Falem agora ou calem-se para sempre".

Corri pro meio da porta, invadindo o casamento ridículo de Sophia e Jack.

— Eu falo! — Todos se viraram para mim, incrédulos.

Parecia coisa de filme mas sim, o negócio iria ficar muito sério!

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