Capítulo 63

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Dia seguinte.

Alan estacionou o carro velhinho do seu pai em frente à mansão dos Abrahão. Estávamos caracterizados como "Homens da manutenção de ar condicionados e eletrodomésticos em geral".

Aquilo era uma tremenda piada e Alan estava dentro dela, como sempre. Eu amava os meus amigos por aceitar todas as minhas loucuras!

— Isso tá ridículo, Micael. — Alan se encarou pelo retrovisor.

— Ridículo tô eu com esse bigode falso. — Sim, eu tinha me caracterizado por inteiro com o meu bigode falso.

Por que eu tinha um bigode falso? Não importa.

— Vamos logo antes que alguém encha o nosso saco. — Alan soltou, saindo do carro com uma caixa de ferramentas.

Arrumei o meu boné fixamente pra baixo, ajustando o bigode em seguida e deixando que Alan falasse com algum responsável que estivesse na casa.

Tocamos a campainha.

— Pois não? — Alguma das empregadas nos atendeu. Fiquei atrás de Alan, dando um soquinho em suas costas, o incentivando.

— É... Viemos fazer a manutenção do seu ar-condicionado. — Engrossou a voz.

— Manutenção? — A mulher franziu a sobrancelhas. — Só um minuto!

A mulher saiu e nos deixou na porta. Pude ver um pedaço da cena, onde ela encontrou Branca, que estava na mesa de jantar, obviamente almoçando.

Viemos em uma hora... Errada.

— Moço, ninguém aqui pediu manutenção do ar. — Nos respondeu. — Será que você não errou de casa não?

— A casa tá certa! — Engrossei minha voz, com a cabeça baixa. — A dona de trás que reclamou. — Menti pra ela que assentiu, caindo na ideia.

Primeiro passo: ok!

Entramos na mansão dos Abrahão, nada mudado como sempre. Avistei Branca que levava alguma travessa de comida à mesa, em seguida Renato e Sophia que estava sentada. Meu coração se apertou ao vê-lá naquele estado, era por isso que não estava indo ao colégio.

O roxo enorme em seu rosto avisava isso. As roupas coloridas deram espaço para roupas de frio cinzas e sem vida. Maquiagens, brincos, nada mais... Sophia estava irreconhecível, para aqueles que conheciam ela bem, até demais!

Segui andando até o ar-condicionado que havia na sala de jantar.

Perfeito.

— Quem são esses, Branca? — Renato se sentou de costas para mim. Fingi que estava mexendo em algo no eletrodoméstico.

— A vizinha disse que tinha um problema no nosso ar-condicionado. — Avisou o marido. — Eu não vi nada durante esses dias!

— Muito menos eu. — Renato começou a comer.

Eu queria que se engasgasse e morresse. Um a menos!

— Sophia, minha filha. Amanhã você já pode voltar ao colégio. Eu não pago aquela merda atoa! — Disse à Sophia que ficou em silêncio. — Eu estou falando com você!

— Sim, papai. — Encarou o prato, sem mexer em nada.

— Sim, papai. Tudo bem, papai. — Remedou Sophia. — Esse é o seu novo diálogo aqui em casa? Por acaso você tá sofrendo?

— Renato, chega! A Sophia já teve o que merece. — Branca interviu. — Ela sabe que isso não vai acontecer de novo.

— Claro que não! Eu tirei todos os meios de comunicação dela e daquele preto imundo que só vivia nas costas dela.

— Não fala assim dele, pai! — Sophia cerrou os dentes. — Ele é meu amigo.

— Aaaaaah, amigo? — Debochou. — E você quicando como uma prostituta no pênis dele. Que amizade é essa?

— Renato, já chega! Aqui não é hora e nem lugar. — Branca tentou parar o marido, de novo.

— Espero que esse roxo saia do seu rosto até semana que vem. Não posso adiar a data do casamento! — O QUE?

— Eu já disse que não quero me casar. — Sophia respondeu com raiva. — E o senhor não pode me obrigar à isso!

— Eu posso e vou te obrigar! — Bateu de frente com Sophia. — Se você teve coragem pra viajar com um zero à esquerda, pode muito bem ter coragem pra se casar com o homem da sua vida.

— E desde quando o Jack é o amor da vida dela, Renato? — BOA SOGRINHA!

— Ora, você também? — Implicou com a mulher. — Eu não vou ficar discutindo isso com você, Branca. Jack se casará com Sophia e a metade das empresas Abrahão será organizada por ele. Fim!

— E por que? Eu posso muito bem cuidar das empresas Abrahão. Você sabe disso!

— Você é mulher, Branca. Não sabe administrar nem o próprio sapato que usa no pé. — O silêncio tomou a mesa.

Eu precisava muito falar com Sophia.

— É... Eu já acabei aqui. — Engrossei a voz, deixando o ar-condicionado de lado. — Posso verificar o dos quartos?

— Acho bom! O da Sophia estava com problema esses dias, não estava? — Branca perguntou à ela que não fez muita questão.

— Acho que não precisa de manutenção. — Precisa sim, minha filha! Sou eu! O Micael!

— Eu vou verificar. — Avisei à eles enquanto subia as escadas. — Alguém pode me levar até o quarto, por favor?

— Sophia, faça as honras ao honesto rapaz. Ele precisa trabalhar! — Branca foi gentil como sempre, fazendo Sophia sair da mesa e me levar até o seu quarto, que eu já conhecia como ninguém.

Entramos no quarto da loirinha.

— Então moço, o ar estava com um pane no botão. — Retirei o meu boné e o bigode falso. — MICAEL! — Sophia deu um gritinho, tapei sua boca e tranquei a porta.

— Shiiiiiiiiiiiii. Quietinha! Ninguém pode saber que sou eu. — Ela assentiu, me abraçando. — Você tá bem? Ele te machucou em mais algum lugar? — Toquei seu corpo, verificando os hematomas.

— Eu quase morri na mão dele, Micael. — Me avisou. — Foi terrível! Ele tirou o meu celular e todos os meios de comunicação. Nem com a Mel eu consigo falar mais.

— Que história é essa que você vai se casar? — Segurei o seu rosto.

— Ele quer que eu me case com o Jack na semana que vem!

— Não. — Neguei. — Você não pode se casar com ele. Não pode!

— Não tem mais jeito, Micael. — Sophia começou a chorar. — Ele quer que as empresas Abrahão seja dele o mais rápido possível.

— Pro caralho essas empresas, Sophia. Você não pode se casar com o Jack, escutou? — Ela apenas chorava. — Eu vou arranjar um jeito de te tirar daqui.

— Como?

— Não sei. — Observei ao redor. — Vou deixar uma escada escondida na sua janela. Eu volto à noite!

— Não, Micael. Se ele pegar você aqui, ele te mata!

— Foda-se, ele não vai me pegar. — Deixei ela tranquila. — Precisamos arrumar um meio de comunicação. — Toquei o bolso do meu macacão. — Toma, isso fica com você. — Entreguei o meu celular à ela.

— Micael...

— Eu vou te mandar mensagens pelo celular do Alan. Você me avisa quando o seu pai for dormir, e eu virei aqui à noite. Tudo bem?

— Tudo. — Ela assentiu novamente. Dei um beijo demorado em Sophia, cheio de saudade. — Eu te amo!

— Eu também te amo, meu amor. — Sorrimos. — Eu também te amo. — Beijei o topo da sua cabeça, deixando Sophia menos assustada.

Meu plano tinha dado certo.

Aposta de Amor Where stories live. Discover now