Capítulo 71

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Depois da discussão que tive com Sophia, eu a levei de volta ao estacionamento do colégio, onde a mesma não me agradeceu e entrou no carro de Mel, arrancando com o motor e saindo fora. Não discuti e muito menos surtei, ela mudaria de ideia no dia do casamento dela.

Eu era orgulhoso pra cacete em relação à isso.

Cheguei em casa me deparando com a minha mãe, em cima de uma bola de ioga, quicando lentamente com roupas de ginástica. Sua barriga estava à mostra.

— É... Oi? — Fechei a porta atrás de mim, largando a chave do carro.

— Oi filho! Onde você tava? — Ela sempre faz essa pergunta mesmo sabendo onde eu estava.

— No treino noturno. Eu te falei cinco vezes só hoje. — Deixei a minha mochila em cima do sofá. — O que tá fazendo? — Coloquei minha mão na cintura, observando a criatura grávida ser extremamente engraçada.

— Eu tô treinando a minha pélvis. — Sorriu com um pouco de cansaço. — O doutor Weber me disse que eu ainda posso ter esse bebê naturalmente.

— Mãe, você ficou maluca? — Me preocupei.

— Não?

— Sim! Totalmente sim! — Assenti feito louco, sendo sensato e abrindo os olhos da minha mãe. — Você tá com uma certa idade pra ter parto normal, mãe!

— Tá me chamando de velha, Micael?

— Só tô dizendo que eu prefiro uma cesária do que um parto normal. E se você não conseguir?

— A sua cabeça passou pela minha periquita então eu consigo trazer qualquer coisa ao mundo! — Minha mãe se estressou, parando de quicar em cima da bola. — Que se foda essa bola do inferno. — Bufou. — JORGEEEEEEEEEEEEE. — Os hormônios da minha mãe estavam me matando.

E matando o meu pai também.

— O QUE ACONTECEU? — Ele desceu as escadas depressa, tinha um jornal nas mãos.

— O Micael me chamou de velha!

Revirei meus olhos. Aja paciência.

— Por que você chamou a sua mãe de velha, Micael? — É sério isso?

— Eu não chamei ela de velha, pai. Eu só fiquei com medo dela ter um parto normal. A idade dela já tá... Enfim, eu vou dormir! — Peguei a minha mochila e subi as escadas.

Ele me parou.

— Você viu isso? — Jogou o jornal contra o meu peito.

A manchete de início anunciava:

"O casamento novaiorquino mais esperado do ano: Sophia Abrahão irá se casar. O grupo Melkeman lhes parabenizam!"

— Você comprou esse jornal ou pegou na frente de alguma empresa?

— Eu sou assinante dos jornais da Melkeman. — Meu pai era fã da Melkeman desde que trabalhou em um caso deles. Foi assim que ele pagou o silicone da minha mãe. — Você está bem em relação à isso?

— O senhor esperava eu me matar? Me jogar na frente de um caminhão? Cortar os pulsos? Tomar veneno? — Meu pai ficou surpreso.

— É que você ficou bastante baqueado quando terminou o seu primeiro relacionamento. — Coçou o maxilar.

— Seu pai achou que você fosse adoecer de novo! — Minha mãe entrou na conversa, morrendo de dó.

Por que eles estavam me tratando como a Lidiane?

— E quem disse que eu adoeci quando terminei o meu relacionamento?

— Micael. Você chorou no box pelado por uma semana, seu pai tinha que te dar banho. — Isso era verdade!

Eu sofri pelado no box durante uma semana ao som de Whitney Houston, até a minha vizinha da frente me ver... E ela tinha quinze anos.

Eu comi ela anos depois, em uma festa de aniversário da irmã dela.

Hoje ela é lésbica.

— Vocês deveriam entregar solidariedade à Lidiane que tá precisando. — Os dois se entreolharam. — Já perceberam que ela está sofrendo?

— Eu conversei com ela e realmente ela está sofrendo. — Minha mãe foi sensata pela primeira vez na vida. — Mas não podemos fazer nada, é um primeiro namoro mal acabado!

— Viu só? Foi o que eu disse mas ela não quer escutar ninguém. — Levantei meus ombros.

— Devemos ligar para a doutora Sueli? — Meu pai ficou apreensivo.

— Pai, pelo amor de Deus. — Cobri meu rosto com as mãos, não aguento mais.

Por que a minha família era puro drama?

— A doutora Sueli te ajudou bastante quando você teve aquele problema com a... Devo falar o nome dela?

— A DOUTORA SUELI É PSICANALISTA E ELA NÃO RESOLVE PORRA NENHUMA! — Gritei com o meu pai que se assustou. — CACETE! SERÁ QUE NINGUÉM NESSA CASA ME ESCUTA? — Surtei.

É, eu surtei.

Surtei e surtei sem ao menos dizer que surtei.

— Vocês se fazem de idiota, né? Não sei! — Encarei os dois, dando um sermão que altamente me enrascaria depois. — Primeiro um filho e depois ficam criando essas teorias idiotas... Pensa bem no que vocês dois estão fazendo!

— A gente só tá querendo o bem da sua irmã, Micael. — Minha mãe soltou, suspirando. — Por que o drama?

— Ah, eu tô fazendo drama? — Gesticulei. — Eu queria ter pais normais mas ganhei dois loucos que só sabem fazer filhos e ficar socando médico na gente.

— Fazendo filhos? Socando médico na gente? Nos preocupamos com a saúde de vocês! — Meu pai rebateu.

— Não era você pai que disse que as contas de casa estavam pesadas demais? Por que arrumou outro filho então?

— E isso te interessa?

— Me interessa sim! Sabe por que? Eu tô cansado de ficar vivendo desse jeito. — Trinquei o maxilar, meio puto.

— Eu não sou um Renato Abrahão da vida pra você ficar me julgando o que eu devo fazer. — Eu estava tirando toda a paciência que tinha no meu pai.

— Eu não preciso que você seja um, pai. — Fui seco. — E quer saber? Cansei de vocês dois! Tô vazando. — Subi as escadas rapidamente e me tranquei no quarto.

Antes que pudesse jogar a minha mochila no chão, vasculhei o envelope pardo e retirei as fotos que comprovariam o fim da família Abrahão. E cheguei a conclusão que:

Eu iria destruir uma família!
Eu iria destruir o coração de uma garota mimada que sempre achou que o namorado gostasse dela!
Eu iria destruir o coração da senhora Abrahão!

Eu era um monstro ou um salvador de vidas?

Nem eu sabia o que eu era mais. Só sabia que meu coração estava destinado à Sophia, mesmo lhe destruindo.

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