ˣˣ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐯𝐢𝐧𝐭𝐞

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       2014, 7 meses depois da morte de Julia Klum

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2014, 7 meses depois da morte de Julia Klum.

⚠️: Menção à abuso sexual.

Já é começo de março quando eu finalmente tenho coragem de entrar no refeitório e ir direto para a mesa onde as primas se sentam.

Eu passei fevereiro inteiro me reaproximando delas e, de novo, preparando o terreno antes de atolá-lo com minhas sementes investigativas. Não havia sentido em sequer tentar abordar Valerie e Taylor com um interrogatório sem qualquer preparo prévio. Julia não admite de jeito nenhum, mas ela sabe que minha tática é esperta.

Em interrogatórios de verdade, os detetives se esforçam para convencer o suspeito de que existe uma certa camaradagem entre eles, para facilitar que os caras abram a boca e não se sintam acanhados. E não que minhas intenções com Valerie e Taylor girem unicamente em torno da investigação — estou começando a achar que sou um ser humano terrível —, mas nunca é má ideia unir o útil ao agradável.

Matando dois coelhos numa cajadada só, eu resgato algumas das amizades importantes que perdi e ainda aproveito para beneficiar uma alma penada com elas.

É genial. Ando ficando boa nisso.

Agora que Valerie, Taylor e eu já estamos mais confortáveis umas com as outras — quase como éramos antigamente —, é menos esquisito me sentar diante da prima Walcott com a caderneta escondida no colo e os ombros aprumados. Valerie demora um pouco para levantar a cabeça e mirar os meus olhos, distraída com o almoço triste que cutuca com o garfo. Eu sorrio, desajeitada.

— Oi — ela diz.

— Oi — retribuo. — Posso te fazer umas perguntas?

Valerie pende a cabeça, confusa.

— Sobre o quê?

— São só umas dúvidas que andam me perturbando desde que a Julia morreu. Nada demais. Se você pudesse me ajudar a esclarecer algumas, seria ótimo.

Sempre impaciente ao meu lado, Julia revira os olhos e bufa.

Ela diz que é besteira que eu não fale claramente para os suspeitos sobre a minha tentativa de investigá-los, mas eu digo que é autoproteção.

Se eles não souberem, não vão crescer os olhos pra cima de mim e cogitar um possível controle de danos. É provável que eu esteja viajando pra caramba na maionese — se nem eu me considero uma grande ameaça às farsas de um assassino, que dirá o próprio assassino —, mas prefiro não dar bobeira. Sou apenas uma xereta que faz perguntas, e não uma xereta morta que fazia perguntas.

— Tá bom. — Valerie limpa a boca com um guardanapo. — O que você quer saber?

Eu lanço a mais discreta das olhadelas para a caderneta em minhas pernas.

Mariposas de Sangue | ⏱️Where stories live. Discover now