ˣ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐝𝐞𝐳

14 4 7
                                    

2013, 8 horas após a morte de Julia Klum

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

2013, 8 horas após a morte de Julia Klum.

Depois daquela fatídica noite de verão há três anos, eu me tornara incrivelmente metódica.

O sentimento era quase similar à uma tentativa de controlar a minha realidade para me prevenir dos mesmos erros de antes. Afinal, pessoas controladoras geralmente eram espertas o suficiente para não se deixarem enganar com a facilidade de uma pré-adolescente tapada — e eu gostava da esperteza. Gostava de me atentar às entrelinhas, às falas e aos detalhes que passariam despercebido para salvar alguém.

Detalhes como a estranha sensação de ser observada, que me despertou de manhã com mais eficácia do que um relógio de cuco.

Devagar, me mexendo pouco, subi os olhos para o espelho do armário. Meio grogue de sono e sem os óculos, eu não conseguia ver mais do que um borrão refletindo o outro lado do quarto. Não parecia que havia nenhum invasor comigo, mas eu já tivera pesadelos demais para simplesmente me contentar com as aparências e voltar a dormir.

Tateei a mesa de cabeceira em silêncio e pus meus óculos na cara. Me sentei na borda da cama, empurrando os cobertores que poderiam atrapalhar minha defesa, e peguei o spray de pimenta da primeira gaveta. Às vezes pensava estar beirando a paranoia, mas sabia que era sempre melhor desconfiar de tudo e de todos do que ser traída pela boa fé — era só como meu sistema operava há um bom tempo.

Levantei, mantendo o spray diante do rosto e o jato picante à mercê de uma apertada do indicador. Àquela altura, quem quer que estivesse me encarando já devia ter reagido. Eu estava com sorte.

No três, Heather. Um... dois... três!

Girei nos calcanhares e não achei ninguém. O cômodo estava vazio, quieto e ainda escuro pelas cortinas fechadas.

Apurei os ouvidos para ter certeza, e só escutei o rangido do ventilador de teto e a tevê ligada na sala. Aí me senti idiota, porque nem tinha como alguém invadir o meu quarto no quinto andar com a única janela trancada e o menorzinho dos ruídos capaz de me acordar.

Paranoia. É. Definitivamente — mas minha preocupação era compreensível. A encarada ainda persistia em meu rosto, me levando a arrastar os olhos esporadicamente pelo quarto até encontrar uma explicação em contraste com o bege seco da parede.

Uma mariposa. De asas vermelhas, vívidas, tão enorme quanto uma mão adulta.

Imediatamente me sobressaltei, derrubando o spray com um reflexo involuntário. Agarrei as hastes de plástico vagabundo dos óculos para alucinar no grau mais nítido possível. Meu coração disparou em uma potência de duzentos cavalos dentro do peito, seu ritmo reverberava por todas as extremidades do corpo.

Estava acontecendo de novo. Depois de tanto tempo.

A memória já empoeirada reapareceu claramente como uma fantástica borboleta azul que brilhava tipo vagalume, com rastros dos voos perfeitos e uma paz atracada em sua figura. Era um período mais simples, que obedecia exemplarmente ao ditado sobre ser feliz e não saber — exceto que eu sabia melhor que ninguém. Felicidade não é tão complicada de se perceber, sobretudo quando verdadeira.

Mariposas de Sangue | ⏱️Where stories live. Discover now