ˣˣⱽᴵ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐯𝐢𝐧𝐭𝐞 𝐞 𝐬𝐞𝐢𝐬

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2014, 12 meses depois da morte de Julia Klum

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2014, 12 meses depois da morte de Julia Klum.

No dia 30 de agosto de 2014, Valerie Walcott foi levada à corte pelos seus crimes.

Entre eles, conta-se perjúrio, assassinato de primeiro grau, obstrução de justiça, resistência à prisão e possivelmente desacato policial. Do lado direito do tribunal, os advogados da família Klum cochicham com Edgar e Tina na mesa. Eu estou algumas fileiras atrás, sentada entre mamãe e Taylor, roendo as unhas de nervoso. Do lado esquerdo, a defesa de Valerie aguarda a sentença do júri com inquietação.

A garota veste um macacão laranja, pulsos e tornozelos acorrentados, cabelos podres de sujos. Ela parece catatônica, olhos vidrados no chão, ciente de que não há mais para onde correr. Sua confissão está gravada no meu celular e Taylor não foi a única testemunha que afirmou tê-la visto com luvas na festa, ao contrário do que Valerie declarou desde o início. Parece piada que ela ainda tenha tentado limpar a sua barra, mas a garota inventou que foi influenciada a matar a amiga por forças maiores. Deve ser algum novo apelido para mau-caratismo.

— É possível notar na gravação da Srta. Lung — o advogado dela disse ao juiz, me olhando de relance com certa irritação — que a Srta. Walcott tenta lutar contra as vozes em sua cabeça. As mesmas vozes que a levaram ao trágico estrangulamento da Srta. Klum, por sinal. — Ele pressionou um botão no computador para reproduzir o áudio pelo o que talvez fosse a milésima vez. — Escutem.

Os gritos de Valerie na biblioteca soaram com alguma estática pelo local.

EU CONFESSO O QUE VOCÊ QUISER, MAS SAIA DA PORRA DA MINHA CABEÇA!, esbravejava ela, completamente transtornada em minhas lembranças.

Não eram forças maiores com as quais Valerie estava lutando; era Julia, a garota cuja vida ela arrancou. A sua explosão seguida da verdade certamente era parte do plano, mas não antecipamos que aconteceria tão depressa. Eu sequer imaginei que Valerie saberia que havia alguém infiltrado em sua cabeça, e foi absolutamente esquisito que sua dedução tenha sido certeira em um milésimo de segundo.

Eu olho mais algumas fileiras para trás por cima do ombro, na direção em que Cash se acomoda com a tia.

É a terceira vez que eu o pego encarando as costas de Valerie, tenso, dentes raspando no lábio inferior. Ele parecia ter uma colônia de formigas de fogo na bunda quando a promotoria o convocou para testemunhar. Sua postura de bom-moço só não vacilou porque Cash estava especialmente concentrado nas perguntas e nas respostas, como um mentiroso com o rabo preso faria.

Minha mente não para de conspirar. Eu acho que Valerie sabia da assombração, e Cash quem lhe contou. Ele era o único além de mim que poderia, e eu sei que não abri a boca para mais ninguém.

A pergunta que sobra é: Por quê? Não me consta que os dois sejam amigos — no meu interrogatório com Cash, ele sequer se referiu à Valerie pelo nome. E se estava tentando me despistar, só posso presumir que ainda resta mais alguma sujeira escondida debaixo do tapete.

Mariposas de Sangue | ⏱️Where stories live. Discover now