ˣᴵᴵᴵ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐭𝐫𝐞𝐳𝐞

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2013, 9 dias após a morte de Julia Klum

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2013, 9 dias após a morte de Julia Klum.

Meu primeiro dia de volta à Peach Hills High havia sido, no mínimo, diferente.

Depois do meu discurso no funeral de Julia, os aconchegos da invisibilidade foram arrancados de mim por olhares curiosos recebidos o dia todo. Eu desconfiei que a maioria das pessoas estava apenas confusa, já que eu definitivamente não era a amiga esperada para falar no púlpito, e uma minoria nem deveria saber que eu era uma amiga.

Infelizmente, acontecia bastante.

O armário que pertencia a Julia estava tomado por vários tributos dos alunos. Era um gesto muito bonito, mas que trazia lágrimas aos meus olhos sempre que eu passava pelo corredor. Flores, fotos, bilhetinhos fofos, mais pedidos por justiça... A minha contribuição era apenas um coração saudoso que partia todos os dias dentro do peito.

Ao fim da última aula, o ruído da campa me envolveu como um abraço. Eu saltei do assento com a bolsa no ombro e cobri a cabeça com o capuz do moletom.

Pouco me importava se parecia metida, maioral ou seja lá o que fosse. Se eu soubesse que era mais forte do jeito que os outros criticavam, talvez nunca tivesse dado bola para aquela merda publicada no fórum, tampouco ido com Jeremy Rice para a traseira da casa onde ele fez o que fez comigo. Eu só queria ser legal a noite inteira, provar a mim mesma que o anônimo estava errado, e acabei com uma dor que pesaria pra sempre nas minhas lembranças — apesar da terapia e do avanço, não era o tipo de trauma que se extingue de vez.

Ao remexer na bolsa em busca da chave do carro, eu escutei uma voz feminina desejar feliz aniversário para alguém às minhas costas.

Virei a cabeça por cima do ombro e vi Taylor agradecer a menina com um sorriso pequeno, ainda claramente abatido. Era aniversário dela? Em que mês estávamos? Setembro. Verdade.

Eu lembrava de sempre ouvir Valerie zombando da prima em alguma piada interna por ela ser virginiana — eu e Julia ficávamos boiando. Nunca fomos muito ligadas em astrologia e signos.

Comprimi os lábios e me aproximei. Não custava nada dar os parabéns.

— Ei, Taylor... — Chamei a garota baixinho, apertando a alça da bolsa na frente do corpo, e Taylor desviou a atenção da cabine do armário pra mim. — Feliz aniversário.

Ela mexeu as sobrancelhas um pouco.

— Ah, oi, Heather. Obrigada. Meu aniversário foi domingo, na verdade, mas tá valendo.

Que constrangedor que eu não me lembrasse...

— Oh, sim, claro. Legal. Teve alguma festa?

Taylor chiou um risinho pelo nariz.

— Digamos que eu ainda estou meio cabreira com festas.

— Ah... — Retorci a boca, arrependida da pergunta idiota. Lógico que não teria festa. Nossa amiga fora assassinada há uma semana. — Dá pra entender.

Mariposas de Sangue | ⏱️Where stories live. Discover now