ᴵ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐮𝐦

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2009, 4 anos antes da morte de Julia Klum

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2009, 4 anos antes da morte de Julia Klum.

No primeiro dia do último ano de Ensino Fundamental, Julia sabia que precisava se preparar com antecedência pra uma estreia digna no Ensino Médio no outono seguinte — como uma perfeita perfeccionista, ela já planejava de antemão cada mísero passo na trajetória para a próxima etapa empolgante de sua vida.

Cansada de ser apenas a aluna mais aplicada, com as médias mais altas e os sorrisos mais orgulhosos dos professores, Julia queria ser também a mais popular entre os colegas. Quem disse que nerds não podem ser grandes estrelas? Julia pretendia conquistar uma experiência de Ensino Médio melhor do que todas as outras.

Na cabeça da garota, era necessário um namorado bonitão, festas badaladas e algo para destacá-la em meio aos outros junto de sua fantástica personalidade. Talvez um cargo importante no Conselho Estudantil. Ou uma vaga na equipe de animadoras.

Não, não. Julia precisava de mais.

Através da janela do carro, ela olhou para o céu que estava tão nublado quanto seus pensamentos. Peach Hills era mesmo uma cidade tipicamente friorenta, onde nunca seria uma boa decisão sair de casa sem um casaquinho e um guarda-chuva para as eventualidades climáticas. No banco da frente, o Sr. Klum tinha os dois: O agasalho de cotelê no corpo e a sombrinha preta no banco ao lado de suas pastas.

Ele ligou a seta para a direita da avenida movimentada.

— Já estamos chegando, Jojo — avisou, olhando a filha pelo retrovisor. — Está com tudo aí?

— Urrum! — Julia conferiu a mochila novinha em folha, com orelhinhas de gato para uma volta às aulas de respeito. — Cadernos, livros, estojo, calculadora... — Ela remexeu mais um pouco, dando por falta de algo para preencher o espaço sobrando. Quando percebeu o que era, seu sorriso animado morreu aos poucos no rosto. — Oh, não...

O semblante nos olhos de Edgar não se alterou.

— O que foi? — perguntou o homem.

Julia se encolheu, e não ousou encarar o pai de volta.

— Eu esqueci meu almoço...

As conhecidas rugas de frustração apareceram entre as sobrancelhas espessas de Edgar, como apareciam diante das ressonâncias de seus pacientes, das gravatas que a esposa não era boa em passar, e das ocasionais travessuras da única filha. Julia odiava aquelas rugas. Queria que o pai se enchesse de botox igual a mãe para acabar com todas elas.

— Julia, Julia... — disse, no tom decepcionado que ela também odiava. — O que a sua mãe falou pra você no café?

Julia mordeu o interior da bochecha.

— Que não era pra eu esquecer meu almoço...

— E o que você fez? — O Sr. Klum a tratava como uma idiota.

Mariposas de Sangue | ⏱️Where stories live. Discover now