ˣᴵ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐨𝐧𝐳𝐞

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2013, 5 dias após a morte de Julia Klum

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2013, 5 dias após a morte de Julia Klum.

Com o passar dos dias após a morte de Julia, toda a situação adquiria um aspecto gradativamente mais surreal.

Eu sei que já devia estar me acostumando, especialmente porque minha amizade com ela fora suspensa há anos, mas tudo era muito diferente agora. Peach Hills parecia ter mergulhado em uma névoa cinza tão silenciosa que berrava horrores a cada quarteirão. O medo sobrevoava as cabeças das pessoas, impregnado nas expressões, nos olhares desconfiados e nas passadas mais apressadas.

Também, não era pra menos. Tínhamos a droga de um assassino à solta.

Em respeito à perda da família Klum, as voltas às aulas de Peach Hills High haviam sido adiadas em uma semana. No concreto dos muros da escola, cartazes exigindo justiça foram pregados. O rosto tão plácido de Julia nas fotos ao lado de uma palavra cruel como assassinato quase me levou a repensar minha decisão de comparecer ao funeral hoje.

Mamãe me dera a opção de ficar em casa, garantindo que seria compreensível se eu preferisse me poupar daquela drenagem emocional toda. Eu sequer conseguia acompanhar a transmissão de notícias sobre o caso, mas teimei que precisava estar lá. Já bastava ter evitado Julia em vida por três anos; em sua morte, jamais me perdoaria se fizesse igual.

Escolher minha roupa pareceu que seria a parte mais simples do dia, mas logo entendi que não existe nada simples sobre se preparar para velar sua melhor amiga. Acabei em um vestido preto comum de mangas longas e óculos escuros para esconder as olheiras e o inchaço das pálpebras. Mamãe quem dirigiu até a capela, pois meus olhos estavam encharcados demais para fornecerem qualquer segurança ao volante.

Nós descemos do carro exatamente a tempo de uma nuvem densa tapar um pouco mais o sol. Era uma manhã de quinta com a maior cara de anoitecer de domingo. A tristeza e a vontade de virar um vegetal se assemelhavam.

Eu engoli uma respiração frouxa como minhas mãos em volta da pequena bolsinha com o celular e um lenço. Sentia que ia precisar bem mais de um do que de outro.

— Quando quiser ir embora, boneca, é só me avisar, está bem? — mamãe cochichou.

Só pude concordar com a cabeça.

Eu queria desesperadamente ir embora a partir do segundo em que notei o furgão de uma emissora local na esquina, além da repórter que eu reconhecia do jornal gesticulando para a câmera. Eu não sabia se eles estavam sendo desrespeitosos ou não, embora a irritação profunda em meu peito insistisse que sim. Eram todos uns esfomeados se saciando da dor alheia.

Como não podia espernear, desviei os olhos e prestei atenção na escadaria de mármore. A cerimônia fúnebre era aberta para quem desejasse participar, mas havia lugares guardados para os parentes e amigos mais próximos. Era tão estranho. Parece que estávamos falando sobre um restaurante, não um velório, e a capela estava lotada.

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