09 de Novembro, 2018 - Sexta (21h33)

Start from the beginning
                                    

"Como ele era, vó? Fala como ele era..."

E a descrição que recebi foi basicamente a que eu já esperava.

"Tsc, merda! Deve ser o Marcus... Puta que o pariu, que merda!"

"Olha essa boca, menino! Não foi assim que te criei!"

"Tá, me desculpa..."

"... Mas, sim, foi esse o nome que aquele adorador do diabo falou!"

"O que ele fez com a senhora, vó?"

"Hein? Comigo? Cruzes! Deus me protege! Se aquele pecador encostasse um dedo em mim as mãos do inferno o arrastariam na mesma hora!"

"Vó, por favor... O que ele fez? O que ele disse?"

"Fez nada, não. Só ficou fazendo perguntas, querendo saber quem morava comigo. Aí seu pai chegou, fez umas perguntas também. Queria saber quem era ele. Depois os dois acabaram indo pro bar".

Ouvir de minha avó que o Marcus e meu pai estavam se enturmando me deu vertigem.

"O QUE? Como assim? O que eles conversaram para chegarem ao ponto de irem a um bar juntos?"

"Nada importante", ela respondeu. Mas eu a conheço bem o suficiente para ter notado uma hesitação na voz. Tive que insistir um bocado para ela finalmente confessar: "É que os dois acabaram concordando que você não presta. Isso é o que eles acham, Isaac, não é o que eu penso... Sei que no fundo você é um bom menino que apenas está infectado. Se, pelo menos, você voltasse e frequentasse comigo a igreja..."

Enquanto conversávamos, vi a Jaqueline andando por perto, com cara de quem já havia entendido tudo. Como não havia muito mais o que conversar com minha avó, me despedi e desliguei.

Minha cunhada já estava ligando para a polícia, informando o que havíamos acabado de descobrir. Mas o destino gosta de brincar comigo das formas mais bizarras e cruéis. Só para você entender melhor do que estou falando, saiba que minha avó é o tipo que segue à risca algumas rotinas diárias, e a conversa com o Marcus quebrou tanto essa rotina que ela se preocupou mais em adiantar as tarefas do que em ligar imediatamente para mim. Caso não tenha entendido o que isso significa, eu explico: esse atraso fez com que a polícia chegasse tarde demais. Primeiro tiveram que ir até a casa de minha avó, e depois que descobriram o endereço do bar foram até lá.

Lento demais. Quando chegaram, o ser humano que me recuso a chamar de pai já estava bêbado, e sozinho no balcão. Interrogaram todos os presentes, e todos confirmaram que o Marcus de fato esteve conversando com meu pai, mas que havia ido embora há tempos e, o que mais deixou a todos espantados, sem beber nada.

Eu não conheço os hábitos do Marcus, mas arrisco dizer que ele não é do tipo que rejeita uma bebida à toa. Com certeza ele deve estar se mantendo sóbrio propositalmente por conta de qualquer plano que eu não consigo nem imaginar.

Ao interrogarem meu progenitor, a polícia não descobriu muita coisa. De acordo com ele, conversaram trivialidades.

Mas eu duvido. O Marcus deve ter enchido meu pai de qualquer porcaria alcoólica para ele dar informações. O problema agora seria saber que tipo de informação iria ajudar aquele desgraçado de alguma forma contra mim.

E para piorar eu estou com uma raiva terrível de minha avó. Se ela tivesse avisado na mesma hora, esse e-mail poderia ter sido com um conteúdo bem mais promissor. Mas não. Aquela velha ignorante precisou fazer antes as tarefinhas ridículas dela, para não ficar atrasada com o cronograma, e só depois se preocupou em se lembrar que eu tinha dado um aviso sobre um criminoso à solta.

O Monotono Diario de Isaac [BETA]Where stories live. Discover now