23 de Outubro, 2018 - Terça (23h45)

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Bom, quando chegamos no quintal, ele deu a chave em minha mão e foi para o lado do passageiro, o que é raro, visto que ele é quase sempre o motorista.

"Hãã... Que quer que eu faça?", perguntei, meio perdido.

"No mínimo, abra, sente e ligue o carro. Não é todo mundo que pega o macete dele de primeira".

O que ele disse soou muito mais como um desafio do que como uma simples informação. E nessa hora simplesmente pensei que meu dever era o de impressioná-lo. Eu tinha que conseguir ligar a porra do carro de primeira. Não sei por que, mas algo em mim gritou para que eu conseguisse provar que consigo.

Então sentamos nos bancos, e ao nos vermos em posições diferentes do normal, acabei falando:

"Primeiro, a inversão de ontem... Agora, essa inversão. Nem acredito que isso tá acontecendo".

Eu achei que o Nicolas fosse demorar um pouco para entender, mas ele pegou no mesmo segundo. Ele deu um riso meio sem graça, e pediu para que eu ligasse o carro. Sequer quis continuar o assunto de eu tê-lo comido na noite anterior, e isso me deixou um pouco inseguro. Sei que sequer tivemos muito tempo para falar disso, mas a impressão que tenho é a de que meu namorado está evitando o assunto. Minha única pergunta é: por que?

Apesar da insegurança forte que bateu, foquei na minha tarefa: ligar o carro sem parecer um idiota. Como ele disse que tinha um truque para ligar o Gol, tentei lembrar das mãos do Nicolas, que eu sempre olhava sem parar quando ele dirigia. Ele parecia girar a chave normalmente, mas depois parecia que ele dava uma torcida extra. Tentei imitar o movimento, e... O carro ligou na primeira tentativa.

"Uhuuul! O que você estava dizendo, mesmo?"

A cara que o Nicolas fez foi impagável. Ele sorria, mas ao mesmo tempo estava com os olhos arregalados e queixo caído. Sério, amiga... Amei surpreendê-lo daquele jeito. Amei!

"A Jack já tinha ensinado você?"

"Olha, eu sei que não sou o cara mais talentoso do mundo, mas dá um crédito, né! Ela não ensinou nada!"

Falei isso rindo, e tentei exorcizar a pontada de frustração por ele ter duvidado de minha capacidade.

Durante a hora seguintes ele ensinou sobre os pedais, falou da troca de marcha, seta, e todo o básico de um carro. Depois das explicações eu pensei que fôssemos sair do carro e assistir algo, mas ele pediu para eu engatar a primeira e andar um pouco. No mesmo segundo olhei para ele como se meu namorado estivesse pedindo que eu cometesse um assassinato.

É sério, fiquei meio apavorado. Estávamos no meu quintal que, apesar de bem grande, não é o local ideal para aprender como conduzir um carro. Sem falar que próximo ao portão ficam as prateleiras de plantas e flores. Uma pisada errada no acelerador e eu colocaria todo o nosso negócio abaixo.

"Vai, só um pouco... Sempre reparo você encarando enquanto eu dirijo. Quero ver como é estar no seu lugar".

"Olha, Nick... Não é por nada não, mas... Para você entender o que é estar em meu lugar vendo o motorista eu teria que, no mínimo, ser incrível. Eu teria que saber o que tô fazendo, e provavelmente precisaria nascer de n..."

"Zak... Só faz o carro andar um pouco. Relaxa, ok?"

Eu acho que precisei engolir a saliva umas três vezes para conseguir sentir meus pés de novo. Porque antes eu só sentia meu coração martelar no peito. Ele começou a perguntar o que eu deveria fazer em seguida, meio que para me acalmar. Então fui respondendo sem fazer nada (apenas minha boca se movia), e no fim ele disse que eu entendi toda a teoria.

O Monotono Diario de Isaac [BETA]Where stories live. Discover now