Acordei de mau humor, Lauren não havia me ajudado a treinar a velocidade absoluta então tive que passar boa parte da noite treinando deitada em minha cama.
Como se eu fosse conseguir dormir bem depois do que o Supremo disse.
"Eu ainda vou descobrir o que você é"
Sua voz ecoou em minha mente durante toda a noite e até perturbou o meu sono. Será que devo fugir novamente.
"Não, ele é o Supremo, vai te achar em qualquer alcateia." bufei frustrada.
"E se eu for pro mundo humano?" ouvi um rosnado seu.
"Não mesmo!" bradou irritada com a possibilidade. "Não podemos abandonar nossas origens!"ela pareceu bem irritada.
"Sua origem, você sabe que eu não nasci..."
"Que seja! Você faz parte disso agora." ela parecia mais calma."Duas funcionárias da casa" avisou me fazendo levantar e ir até a porta.
As meninas já haviam acordado a alguns minutos e saíram para fazer os tais serviços, mas me deixaram ciente que pessoas iriam me levar ao Martin bem cedo.
Um uniforme tinha sido deixado aqui a 30 minutos e eu já estava pronta, tirando o fato de que acrescentei luvas pretas, uma blusa de manga longa preta por baixo da blusa que me deram e uma legg, não iria arriscar que mais pessoas descobrissem minhas cicatrizes.
Assim que abri a porta dei de cara com duas mulheres bem arrumadas, uma era morena e usava um vestido azul colado de mangas e outra era ruiva e usava uma calça preta boca de sino e uma blusa com um pequeno decote.
Ambas olharam-me de cima a baixo e então se entreolharam. A morena foi a primeira a reagir, se virou para mim e sorriu.
-Bom dia srta. Amélia Dreams, vinhemos te acompanhar para a seleção de seu serviço.-disse com um sorriso brilhante.
-Bom dia.-respondi saindo do quarto e fechando a porta atrás de mim.
A ruiva meneou a cabeça e então começou a andar, a morena fez um sinal para que eu as seguisse.
E assim eu o fiz.
Estava um tanto nervosa.
Elas me levaram pro andar de baixo, onde eu podia ver várias garotas trabalhando, algumas delas me olhavam, no entanto eu optei por não dirigir o olhar para elas, gostaria de deixar na memória a expressão das meninas, que me lembrava a cura a qual eu procurava, apesar de ser a força.
Seguimos pelo mesmo corredor que o segurança havia me levado na noite passada, o corredor debaixo da escada, as segui em silencio, me recordava do segurança me guiando por esses corredores.
As garotas permaneciam em silencio também e eu agradecia por isso, parecia tornar o momento mais rápido.
Elas pararam a frente de uma porta.
-Bem senhorita, entre por está porta, o Sr. Martin O'Neal estará esperando-a.-a ruiva finalmente falou, tinha uma voz mais grave que a morena e não encontrei muita emoção no seu tom de voz.
Dei de ombros apenas entrando no lugar sem bater.
Me deparei com uma sala totalmente branca, no meio tinha um divã metálico e ao lado um computador com a tela holográfica.
Um homem moreno bem vestido se aproximou com um enorme sorriso, seus olhos mel se ressaíam em sua pele dourada.
-Olá senhorita Amélia Dreams.-sorri para ele não conseguindo não ficar hipnotizada por ele.
Diferente da Vacassandra, não via falta de sinceridade no seu sorriso, por enquanto...
-Sou Martin, um buscador e vou te ajudar a revelar seus dons.-ele indicou o divã metálico e eu me deitei assentindo.-Não precisa ter medo, nada aqui vai te machucar e também.-ele se aproximou um pouco me fazendo ficar desconfiada, tapou um dos lados da boca com a mão e diminuiu o tom de voz.-Estamos sendo vigiados.-apontou com a cabeça disfarçadamente para uma parede espalhada que nos oferecia nosso reflexo, eu pressentia que alguém nos vigiava, pelo menos ele habia sido sincero.
"Se prepare Lauren." Sorri para ele.
"Estou a posto." Controlei minha curiosidade por saber quem nos observava e me contentei em dar um tempo para Lauren se preparar para o grande trabalho que a espera.
Se algo der errado terei de invoca-la, terei que trazer meu lado mais sanguinário a tona novamente.
-É um prazer conhecê-lo senhor Martin, és muito simpático a propósito.-ele riu cobrindo a boca, eu consegui ver um leve rubor, mesmo com seu lindo tom dourado.
-A senhorita que é muito gentil.-ele pegou alguns fios e o plugou a minh cabeça com uma espécie de silicone gelado.
Os fios ficaram um em cada lado, acima de minhas sobrancelhas, quase perto das orelhas.
Fiquei um pouco ansiosa.
-Não se preocupe, é apenas para melhorar a sua conexão com o nosso sistema.-ele pegou mais dois fios e os colocou em meu pulso, um pra cada pulso acima da veia que denunciava meu batimento cardíaco.
Me recordava do sistema fraco para se descobrir a verdade de alguém que os humanos inventaram, eu passava por ele molezinha.
A melhor maneira de descobrir a verdade é com magia.
-Espere um estante.-respirei fundo me preparando.
"É agora Lauren." Não escutei sua voz, mas pressenti sua resposta. Ela estava pronta e eu também.
Ele passou a mão por cima do aparelho abrindo uma tela holográfica muito maior que a anterior.
Ela parecia monitorar meus sinais vitais.
Senti uma dor aguda no lado direito da cabeça, mas permaneci o mais neutra que consegui.
-Tudo bem, senhorita Amélia?-assenti respirando fundo.
Ele olhou para um lugar específico e eu segui seu olhar vendo que estava sobre minha mão que tinha destruído o braço de metal do divã.
Eu nem tinha percebido.
-Acho que posso ter ficado com medo.-eu disse a primeira coisa que veio a cabeça. Ele sorriu.
-Pelo menos já descobrimos uma habilidade.-sorri, apesar da dor.-Se você sentir algum desconforto, me sinaliza ok?-assenti não confiando em minha voz.
Ele voltou para detrás do holograma fazendo movimentos circulares no ar, ele tocava as paredes altas azuis fazendo arquivos digitalizados se moveram em volta de um desenho central de um corpo feminino, que imaginei ser o meu.
-Houve ferimentos recentes nas mãos.-assenti engolindo em seco.
Ele descobre até essas coisas?
-Sim, foi antes de eu vim até aqui.-ele voltou ao trabalho bastante concentrado.
Fiquei quieta, estática, sem saber o que estava acontecendo de verdade.
Ele estava mesmo só coletando informações sobre meus dons ou sobre meu passado?
Se passaram longos minutos até ele voltar a falar.
-Não consigo obter informações na sua memória.-ele se sentou novamente ao meu lado.
Então ele estava mexendo na minha memória?
-Seus dons e talentos estão guardados em sua memória e também precisamos saber se você tem contato com os rebeldes ou os submundanos.-tentei ficar neutra.
-Infelizmente depois que Cassandra me aplicou uma estranha injeção não sou mais capaz de falar com minha loba.-menti sorrindo fracamente, queria que parecesse real.-Pode ser por isso que você não consegue acessar minhas memórias.-ele fechou ambas mãos em punho em cima de suas coxas.
Sua respiração ficou pesada e seu olhar um pouco agressivo.
-Ela te deu uma injeção?!-perguntou irritado e eu apenas assenti.
-Mas posso responder tudo o que perguntar com muita sinceridade.-ele me olhou e pareceu pensar no que eu havia dito.
-Porque ela te deu essa injeção?-mordi o lábio.
Eu teria que brincar com a verdade para não ser descoberta.
Não poderia inventar uma mentira cabeluda porque as mesmas pessoas que me olhavam na outra sala poderiam estar aqui e eu seria desmascarada.
Preciso pensar.
-Eu e ela tivemos um desentendimento. Não me senti confortável em falar porque sabia que mais pessoas assistiam a nós duas, mas ela mentiu pra mim e me forçou a reviver as piores lembranças que tive.-respirei fundo de maneira cansada.-Mesmo depois do que eu lhe disse, ela não pareceu satisfeita e me aplicou aquela injeção.-contei fazendo ele assentir.
Não era mentira, pelo contrário, era a pura verdade.
Não imaginei que nem precisaria me esforçar muito.
-Maldita Cassandra!-esbravejou baixinho, tão baixo que nem o ouvido apurado de um lobisomem era capaz de ouvir.
Eu fui treinada para a guerra e por isso o escutei.
-Está bem.-ele pegou uma caderneta e uma caneta e então se voltou a mim.-Você tem alguma habilidade diferenciada.-fingi pensar e então balancei a cabeça negativamente.
-Nada extraordinário.-menti. Nunca que falaria sobre a transversal, muito menos da velocidade absoluta.-Somente as habilidades comuns de um lobo.-ele respirou fundo com raiva e anotou. Sua voz estava suave, mas ele estava visivelmente alterado.
Vi que a Vacassandra teria problemas no futuro e fiquei um tanto animada com isso.
Me sentia como nos velhos tempos, animada com a desgraça dos outros.
Preciso me controlar.
-Tem alguma ligação com os rebeldes e os submundanos?-rebeldes eram os lobos que haviam se voltado contra o reino lupino e os submundanos era os seres de sangue diferente, basicamente as sereias e fadas que tem sangue azul, mas que não possuem diferença nenhuma além da cor.
Tio André havia estudado todos os seres.
André...
Balancei a cabeça afastando as memórias ruins.
-Não, sempre vivi com minha mãe em alcateias e por isso nunca conheci nenhum deles.-ele assentiu voltando a anotar.
-Desculpe te perguntar isso, pode não responder se não quiser, mas porque vocês mudaram de alcateia?-não tinha ideia de como ele tinha informações, talvez por minha colocação no plural ou talvez por eles terem coletado essas coisas com Diana.
-O antigo companheiro de minha mãe foi assassinado, foi um crime que a própria alcateia não conseguiu desvendar.-comentei baixinho me recordando daquele dia.
Da sensação que senti ao esmagar os restos mortais daquele monstro com minhas próprias mãos...
-Seu pai?-me alterei, fiquei nervosa ao ouvir aquilo.
-Aquele homem não era meu pai!-gritei fazendo ele levar um susto. Percebi que havia me alterado de mais, foi involuntário.-Me recuso a chama-lo de pai.-conclui mais baixo fazendo ele assentir.
-Tudo bem senhorita Amélia. Vou pedir para um segurança acompanha-la até os líderes.-ele se levantou tirando os plugins de mim.
-Líderes?-as meninas não tinham me falado disso.
-Sim. Como não descobrimos uma afinidade, cabe a eles discutirem o que fará.-assenti respirando fundo.
Espero que nada muito louco.
Ele chamou um segurança e lhe entregou um papel.
Me coloquei de pé.
-Provavelmente quando o efeito da injeção acabar nos veremos novamente para um novo teste.-ele ergueu sua mão na minha direção e eu não hesitei em aperta-la.
-Foi um prazer senhor Martin.-ele forçou a retirada de minha mão sacudindo a sua.
-Prazer senhorita Amélia. Se tivessemos mecânica te recomendaria para lá.-sorri com seu comentário e então um segurança se aproximou.
Assenti sorrindo e então sai dali seguindo o segurança.
Esperei nós afastamos para respirar mais tranquilamente.
"Conseguimos Lauren!" Comemorei aliviada, o que durou apenas alguns segundos já que entrei em desespero novamente ao não escutar sua voz.
"Lauren?" Chamei ela enquanto seguia o segurança por uma área que eu não conhecia.
Subimos uma escada diferente.
"LAUREN?!" senti minha cabeça pulsar com minha própria voz."Se você não me responder terei que invocar a..."
"Acalme-se! Parece uma criança perdida."reclamou me fazendo respirar aliviada.
-Algum problema senhorita?-o segurança parou e se virou para mim.
-Esses corredores me deixaram meio tonta.-ele sorriu um pouco solidário. Estava surpresa com minha velocidade de resposta.
Hoje eu estava com o dom da mentira.
-Você irá se acostumar logo.-sorri de volta.
Ele se virou voltando a caminhar e eu o segui.
"Achei que tinha te perdido."admiti muito aliviada.
"E quase me perdeu. Precisei usar a mim mesma para construir um muro."
Assenti reconhecendo seu trabalho. Ela era mesmo a melhor.
Uma loba velha treinada para a guerra.
Ela me disse sua idade uma vez, mas eu só me recordava que era mais de 150 anos.
"Nunca duvidei." Sua risada soou alta em minha cabeça me contagiando, me fazendo sorrir.
"'Nunca duvidei'? Você estava ameaçando invocar aquela diaba sem coração!" Acusou.
"Eu fiquei desesperada!"argumentei parando por quase bater nas costas do segurança.
-Chegamos.-ele se virou para uma porta de carvalho mais clara e bateu, logo sendo recebido por um homem bem vestido que segurava um caderno e anotava coisas.
-O que foi, Leal?-perguntou baixo olhando discretamente pra mim. O segurança cobriu os lábios para que eu não vesse.
-Temos um problema.-escutei baixinho e vi quando ele deu o bilhete ao homem que leu rapidamente.
-Um minuto.-ele voltou para dentro fechando a porta.
-Logo você será atendida.-informou o segurança se voltando a mim.
"Como se a gente não tivesse ouvido." Comentou Lauren debochando da tentativa vã do homem de esconder informações de mim.
Tenho uma ótima audição.
-Entre moça, os líderes irão te ouvir.-assentir.
-Obrigada.-agradeci ao segurança chamado Leal e a ele, entrando naquela sala.
Era bem ventilada e dava uma linda vista para o jardim por enormes janelas bem limpas.
No centro tinha uma mesa de madeira polida, dez lugares estavam espalhados estrategicamente e alguns deles estavam ocupados.
Duas mulheres e quatro homens.
Todos estavam bem vestidos, mas os que mais se destacavam eram a mulher de pele de chocolate com longos cabelos escuros brilhantes e um homem loiro de olhos verdes.
Ambos por serem os mais belos do lugar.
-Se aproxime jovem.-disse um senhor de cabelos grisalhos, era baixinho, mas tinha um porte atlético e musculoso.
Cheguei mais perto e fiz uma pequena reverência.
-Nos diga seu nome e o porquê de estar aqui.-disse a mulher negra calmamente.
-Me chamo Amelia Dreams e estou aqui porque o senhor Martin me mandou vim, ele tentou mapear meus dons, mas não teve acesso. Achamos que pode ter sido a injeção que Cassandra me aplicou no dia da minha chegada.-expliquei rápido sendo prática.
-Cassandra te aplicou Y5H4?!-um dos homens perguntou, era um moreno magro que tinha o cabelo lambido, bigode engraçado e um cachecol amarrado no pescoço.
-Acho que sim, eu não sei o nome. Só sei que não consegui mais falar com minha loba interior.-quanto mais vezes disser a mentira, mas ela se concretizara.
"Não deves falar se alguém puder escutar."
Era um simples aviso para que Lauren não disse-se mais nada, alguém com o dom de esculta, aquele de ouvir a conversa com o lobo interior de outra pessoa, poderia me desmascarar.
-Absurdo!-disse uma mulher ruiva que até agora estava calada, ela tinha os cabelos curtos e alisados na altura dos ombros.
Seus olhos eram castanhos e brilhavam.
Ela também era bonita, assim como todos ali, até o senhor mais velho.
-O que você fez para ela agir assim?-me perguntou o loiro que achei bonito. Ele estava bem vestido, mas tinha um ar arrogante.
-Independente do que ela fez, a senhorita Forbes agiu precipitadamente.-dizia o magrinho engraçado.-Agora como poderemos decidir o serviço dela na casa?-perguntou ele aos outros que voltaram seus olhares para ele quase que imediatamente.-Não! Não mesmo, já estou lotado de garotas!-a mulher negra riu.
-Cinco garotas?-perguntou debochando.
-Você é o único que pode aceita-la sem termos o conhecimento de suas habilidades.-disse a ruiva.
-Eu aceitei da última vez, não posso ceder sempre.-os outros homens ficaram calados, parecendo divertidos.
-Caso encerrado.-disse umadas mulheres.-Marcus, irá aceita-la e ela fará parte do escalão de leilão.-engoli seco.
O que significa "Escalão de leilão"? Será que cuido dos leilões que a casa faz?
-Vocês me dão dor de cabeça.-ele se ergueu.-Vamos jovem, vou lhe apresentar nossa sala.-ele me indicou a porta e eu reverenciei eles novamente.
Que não se acostumem, pois não faço isso muitas vezes.
Parece que vou ajudar o pessoal do leilão.
Esperava que fosse só isso.