Capítulo 23

12K 1K 42
                                    

A segunda semana já estava passando novamente e com ela meu restinho de paciência e esperança.
Eu achei que com a presença daquela mulher aqui seria menos atormentada, mas estava enganada.
Ela fica a cada estante me chamando de escrava, pedindo chá e depois derrubando em minha cabeça quando não gostava do que provava, já resisti ao impulso de matá-la tantas vezes que perdi as contas.
Ela não vale a pena aumentar minha cota de sangue.
"Aquela maldita cota." comentou Michelle me fazendo revirar os olhos.
"Sem a cota seríamos insaciáveis por morte e destruição, como você, vaca dos infernos." era difícil escutar Lauren xingar Michelle.
"Vaca dos infernos? Prefiro ser uma vaca dos infernos do quê uma cadela da luz." retrucou a outra.
Voltei a minha limpeza diária.
Jackson continuava me importunando, tentando me fazer deitar com ele sob a desculpa que não amava Paloma como me amava e que precisava de mim e outras coisas.
Eu já estava exausta.
E Alexandre, bem... eu não tinha contato algum com ele, todos os dias as meninas procuravam, mas o único avanço que tivemos nessa semana foi Lauren sentir sua presença bem fracamente, mas ainda não tínhamos ideia de onde ele estava.
Talvez ele apenas mentiu para saber do meu passado, mas como explicar o que eu sentia quando estava perto dele?
-Escrava!-larguei a flanela com força em cima do móvel que eu limpava, Cami tocou meu ombro.
-Deixa que eu vou dessa vez.-sorri.
-Não, eu preciso enfrentar isso,  mas agradeço.-minha amizade com os gêmeos havia ficado mais forte, principalmente com Cami, depois daquela conversa sobre poderes.
Saí do corredor indo até o quarto deles, bati na porta.
-Entre.-dizia ela. Entrei vendo de primeira que estava assistindo televisão, deitada na cama dele.-Eu quero um chá de camomila com sementes de girassol, seja rápida.-engoli seco me retirando sem lhe dirigir palavra alguma.
Eles dividiam o quarto, ele dormia com ela todos os dias, chamava ela de amor e... e fazia sei lá mais o quê.
Eu me controlava o máximo que podia, tentava manter meus sentimentos em ordem, mas ainda ficava magoada quando via os dois juntos.
Era inevitável.
Desci as escadas rápido indo até a cozinha onde vi uma bandeja já pronta com o chá recém saído do fogo. Dona Emília já havia o preparado.
Sorri.
-Obrigada.-ela sorriu.
-Não se preocupe, apenas não demore.-assenti pegando a bandeja e seguindo para o quarto dela, em cima da bandeja estava o bule, um pouco de açúcar, mel e uma xicará.
Bati na porta antes de entrar.
-Entre.-coloquei a bandeja em cima da mesa presente no quarto e servi o chá para ela.
-Até que enfim foi rápida no seu serviço, não aguentava mais sua incompetência!-ela bebeu um gole do chá e então, como adorava fazer, lançou o líquido na minha direção fazendo uma careta, iria acertar meu rosto, mas eu ergui o braço protegendo minha face da queimadura, mas queimei meu braço, fiquei cheia de raiva.
"Já cansei de falar, por que nós apenas não matámos ela?! Não é inocente! Nossa cota de sangue não vai subir." engoli seco tentando me controlar, apesar de Michelle ter razão eu não poderia fazer isso.
Lauren permaneceu quieta.
-Você é mesmo uma escrava incompetente! Nem serve para servir um chá decente!-me curvei.
-Desculpe senhora, vou colocar um pouco mais de açúcar.-peguei a xicará e me voltei a bandeja, eu me vingaria.
Coloquei o chá, o açúcar e bastante mel e então me voltei a ela, pena que faltando poucos centímetros para alcançá-la eu tropecei derrubando o chá em cima dela.
-Sua estúpida! Vadia sem noção!-se levantou tentando tirar o chá de seu corpo rapidamente.-Você fez de propósito!-eu balancei a cabeça negativamente fingindo estar surpresa.-Fez sim!-ela se aproximou me acertando um tapa no rosto. Me virei para ela controlando a vontade que senti de arrancar sua pele e desenhar na parede com seu sangue.-Por isso que meu noivo te rejeitou, você não serve para nada.-engoli seco. No meu interior algo se movia e não era bom.
-Ainda bem então que ele te encontrou.-respondi séria.-Pena que mesmo depois de ter te encontrado, ele ainda me procura.-ela se virou para mim de olhos arregalados. Cruzei os braços.-Parece que ele se arrependeu de ter me rejeitado.-ela riu.
-Se arrependeu? Ele só quer...-ela se deteve bruscamente.
-Ele só quer?-perguntei já sabendo a resposta. Ele sabe que lobos só tem herdeiros com seus companheiros ou humanos, mas os herdeiros com humanos são muito fracos, as vezes nem conseguem sobreviver, por isso ele tem esperanças que eu ainda me deite com ele e engravide.
-Nada.-ela cruzou os braços.-Vá me preparar outro chá, não quero esse!-respondeu voltando a se sentar me deixando queimando de raiva.
Peguei a bandeja e saí do quarto me dirigindo a cozinha. Dona Emília já preparava outro chá.
-Desta vez eu levo menina, pode deixar.-sorri agradecida e voltei para onde Cami estava.
-Desculpe a demora, eu...
-Foi aquela vadia, eu sei. Deu pra ouvir tudo.-afirmou ela me fazendo ficar envergonhada. Se aproximou.-É verdade que ele ainda te procura?-perguntou baixinho e eu assenti.-Você sabe que ele só quer...-ela não terminou de falar e eu a interrompi.
-Eu sei.-aquela constatação fez meu sangue ferver. Ele estava ousando tentar me usar.
Eu não poderia permitir que ninguém mais me usasse.
Respirei fundo.
-Seus... seus...-Cami me olhava assustada.
-O que foi?-perguntei. Ela apontou pro meu rosto.
-Se... olhe no espelho.-pediu ela. Invadi um dos quartos que a gente tinha acabado de limpar e me olhei no espelho, tomei um susto.
Droga.
De novo!
"Eu já estava achando que estava demorando de mais." Dizia Lauren.
Por que só agora?
"Parece que você me acordou completamente." Ativei a velocidade absoluta a fim de observar melhor meus olhos.
Desde que mandei Michelle para a dimensão mágica que estava sob o meu poder, meus olhos não estavam mais roxos, nem lilas, muito menos violetas, eles estavam na cor natural de uma loba, mas agora cá estava eu com olhos roxos!
Era característico de minha espécie natural.
Como escondo?
"Fácil, um feitiço." Fechei os olhos e comecei a sussurrar as palavras que Michelle me dizia.
Meus olhos lentamente voltavam ao cinza.
Respirei mais aliviada.
"Mas existe um porém, é apenas um feitiço temporário, então ele precisa ser renovado todas as vezes que a lua sumir do céu." já era alguma coisa apenas ter a oportunidade de esconder meus olhos.
Esqueci que teria que lidar com isso, mais cedo ou mais tarde.
Voltei pra onde Cami estava.
-Como você mudou?-sorri me fazendo de desentendida.
-O quê?-ela piscou.
-Seus olhos, eles...-fiz uma expressão confusa.-Deixa pra lá, eu devo ter visto errado.-afirmou voltando a limpar e eu fiquei aliviada. Ninguém poderia saber de minha outra espécie. 
O resto do dia ocorreu até tranquilo, fizemos a limpeza, inclusive conheci o calabouço e ajudei Cami a limpa-lo, no fim tiramos um descanso, mas tudo complicou quando Jackson voltou para casa.
-Amélia, no meu escritório.-revirei os olhos o seguindo para o escritório. O jantar tinha terminado e eu estava ajudando a retirar a mesa.
-Amor, quando você vem pro quarto?-perguntou Paloma com aquela voz enjoada, olhando direto para mim. Ela estava tentando me fazer ficar mal e admito, vê-la se jogando nos braços dele e ele retribuindo, me fazia ficar mal.
Ele sussurrou algo em seu ouvido que não fui capaz de ouvir e ela saiu saltitando. Tive que desviar o olhar.
"Vocês precisam esquecer ele, ainda mais tendo um supremo gostosão por perto!" apertei os lábios. 
Se ao menos ele voltasse, me telefonasse ou qualquer coisa.
Tem semanas que não o vejo, não tenho nenhuma notícia sua... estava começando a achar que aquilo de laço de companheiros era mentira, visto que eu nem sequer sinto o laço.
"Talvez porque ainda se preocupa com o laço com esse babaca do Jackson." essa era a primeira vez que ouvia Michelle dizer algo tão sério, sem brincadeiras.
Lauren estava quieta e isso começava a me incomodar, talvez por não aguentar falar sobre o assunto.
-O que está esperando? Me siga!-me voltei a Jackson que me esperava impaciente na frente de seu escritório, o segui para dentro. Ele se virou para mim, me encarando.
-Paloma pediu que eu falasse com você. Está brigando com ela?-respirei fundo.
-Não procuro briga, nem palavras, nem nada do gênero, mas ela insiste em me chamar de escrava e me pedir chá, isso sem contar nas vezes que ela derruba aquilo em mim!-falei sem respirar sentindo a raiva ressurgir.
-Amélia, entenda Paloma, ela se sente ameaçada com você aqui porque sabe que na verdade eu amo você.-ergui a mão.
-Corta o papo, Jackson. Estou aqui apenas para ser sua funcionária e quando esse período acabar eu vou embora. Cada um de nós vai seguir seu caminho.-ele se aproximou segurando meu braço de maneira suave, seus olhos estavam voltados para mim e eu desviei me sentindo incomodada.
-Amélia... mas você é minha companheira, não ela!
-Mas você escolheu ela!-soltei meu braço em um puxão.-Você decidiu não me escolher, Jackson, e agora não há nada que faça que poderá me fazer voltar para você.-cuspi as palavras em seu rosto.-Eu já disse que não estou aqui para reatar algo que nunca existiu, não me procure mais.-me virei de costas saindo dali, o deixando sem palavras.
Mais de duas semanas e era a mesma ladainha, eu já estava cansada de sua conversa sem sentindo. Era verdade que eu me sentia mal quando o via com outra, que sentia meu peito apertar todas as vezes que ele me dizia aquelas coisas, mas eu não podia. Me recusava a ceder, me recusava a qualquer custo!
Eu não me entregaria a alguém que me humilhou e me rejeitou sem sequer me conhecer. Ele não merecia minha companhia e eu não merecia ser obrigada a suportar sua presença.
Voltei para a cozinha vendo que a mesa já tinha sido limpa.
-Vamos jantar Amy, vai comer hoje?-sorri balançando a cabeça negativamente, não costumava comer a noite.
-Por que menina? Você sempre recusa o jantar.-comentou seu Sebastião colocando a mesa ao lado de Foxy. Todos prestavam atenção na pergunta, esperando a resposta.
-Eu fico muito cansada, sempre opto por dormir, mas obrigada pela preocupação.-dona Emília se voltou a mim.
-Apenas uma xícara de café, será rapidinho.-respirei fundo. A vontade de recusar era grande, mas eu fiquei constrangida de fazer isso no meio deles que me tratavam tão bem, então apenas sorri e aceitei o café.
Todos se sentaram a mesa e começaram a se servir, eu apenas aceitei a xícara de café torcendo para não ressuscitar algo de minha memória. O que foi completamente em vão.
"Peguei o copo observando todo o líquido estranho de cor duvidosa. Ele estava até a borda de um líquido azul, brilhoso.
-O que é isso?-perguntei colocando o copo novamente na mesa, eu tinha acabado de acordar depois da primeira transformação. Depois que retornei e percebi que matei os LuoHoes ruivos, eu caí em um sono profundo em prol da minha recuperação. Meu corpo não suportava tudo pelo qual eu estava passando como um corpo adulto era capaz de suportar.
-Sua dieta, isso vai ajudar a você se tornar mais forte.-olhei para aquele copo não querendo tomá-lo.-Não vou mandar tomar novamente, quer ficar presa por alguns dias no armazém novamente?-meus olhos pousaram nos meus pulsos que ainda tinham as marcas das correntes pesadas.
Peguei o copo novamente o levando aos lábios.
Ainda me sentia muito culpada pela morte dos ruivos, se eu morresse, seria merecido.
Assim que o líquido tocou minha língua, quase vomitei, parecia um veneno que passava derretendo toda a minha boca.
Fiz uma careta.
'Ele está tentando nos matar? Por que nos entregou turquesa com agastache?' me lembro de escutar Michelle completamente revoltada.
-Por que nos entregou algo que sabe que é nossa fraqueza?-perguntei depositando o copo na mesa.
-Me esqueci que seus conhecimentos são ilimitados!-comentou tio André.-Eu estou fortalecendo você, tirando fraquezas do seu caminho.-engoli seco.
-Isso é venenoso para mim, posso acabar morrendo.-ele deu de ombros concordando.
-Sim, mas se não morrer será incrível.-ele apontou pro copo.-Agora beba.-segurei o copo com força decidindo se iria beber ou não. Eu merecia morrer pelo que fiz, mas não queria morrer, no entanto se eu não fizesse isso voltaria para aquele inferno de armazém, acorrentada, precisando olhar pro corpo dos ruivos se deteriorando. 
Eu tinha que beber.
Levei o copo aos lábios bebendo tudo de uma única vez, foi terrível e eu quase não consegui beber tudo. Quando terminei depositei o copo na mesa, eu estava tremendo. Percebi que ele e seu filho me encaravam.
-Boa menina.-ele colocou um prato na minha frente com uma carne crua, lotada de sangue ainda. Me dava ânsia de vômito só de olhar.-Agora, como você não nasceu loba, precisa se acostumar a comer comida de lobo.-empurrou o prato na minha direção apontando com a cabeça.-Coma."
Pisquei os olhos com força.
Normalmente eu só tinha uma refeição ao dia e era sempre a noite, na hora do jantar. 
Sempre era a mesma coisa, aquele maldito suco com aquela carne e depois eu passava a madrugada toda passando muito mal, colocando tudo pra fora em um banheiro qualquer.
Por isso, mesmo depois que eu comecei a matar descontroladamente, me recusava a comer em casa. 
Me levantei em um pulso, por um momento achei ter visto André novamente, olhando pra mim com um sorriso cruel.
-Eu... preciso sair.-me virei saindo dali. Eu odiava mostrar fragilidade, odiava que os outros soubessem que eu tinha algum problema com determinada coisa, mas eu não suportava me sentar a uma mesa no período da noite. Era pertubador de mais.
Fui pro quarto tentando ignorar a memória completa do seu rosto, depois que eu matei Alan, nunca mais tinha lembrado de seu rosto.
Sim, eu o matei. 
Não suportava mais viver sob suas vontades.
Quando seu filho viu que eu estava descontrolada, ele fugiu e desde então nunca mais tinha visto ou sequer lembrado dele, mas após ter visto aquela besta que atacou Sakura a algumas semanas atrás, eu imaginava que talvez ele estivesse por trás daquilo e isso me assustava.
Eu não sabia como reagir se por acaso o visse, mais ainda se ele me prendesse novamente.
Até eu que já fui considerada a mais perigosa de toda minha espécie, tinha um medo e ele tinha um nome.
André.

Hiiiii! Obrigada a todos pelos parabéns! Ontem foi um ótimo dia!
Mais um cap, espero que gostem, trouxe outra memória de Amy.
Talvez eu só poste agora após o fim de semana, tá mt corrido aqui.
Obrigada por estarem acompanhando.
Falta mais alguns caps pra fechar o combo, mas vou tentar revisá-los antes de postar.
Beijos!



Rejeitada pelo Alpha - Aceita pelo Supremo (COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora