Harry
Suspirei a abraçei-a com mais força enquanto chorava. Não gostava que ela chorasse, ela tinha que sorrir, sempre, mas não lhe diria para não o fazer, porque às vezes chorar é bom. Esta situação partia-me o coração e sentia-me um idiota por não a ter mais abraçado mais vezes antes. Estava tão preocupado com conquistá-la que não reparei que talvez tudo o que ela precisava era de um simples abraço.
Minutos mais tarde ela separou-se de mim e olhou-me nos olhos. Os seus olhos estavam tão vermelhos que provocavam que um calafrio recorresse todo o meu corpo. Estava linda, mesmo a chorar. Era linda.
-Obrigada. - sussurrou separando-se de mim.
-Não agradeças.- sussurrei também. Porque é que estávamos a sussurrar em vez de falar? Não fazia ideia , mas gostava de o fazer.
-Porque é que estamos a sussurrar? - perguntou ela adivinhando os meus pensamentos.
-Não sei. - admiti sorrindo como um parvo e ela fez o mesmo.
Beijei a sua testa sem saber porquê e, depois, com a minha mão no seu cabelo, pus a sua cabeça no meu ombro de novo e ficámos assim por um tempo. Em silêncio, com os meus braços rodeá-la e com ela ainda a soltar algumas lágrimas. Só estávamos a fazer isso, mas era perfeito. No entanto, não pude evitar a minha curiosidade em saber porque é que já não a abraçavam há tanto tempo e em saber a razão pela qual chorava, mas não lhe queria perguntar porque tinha medo que chorasse mais ainda.
Separei-a de mim e olhei-lhe nos olhos.
-Não chores mais. - disse e ela assentiu. - Vamos fazer alguma coisa para que te esqueças. - disse com a melhor intenção do mundo, mas ela percebeu mal.
-Harry. - avisou-me ficando séria.
-Não me estava a referir ao que estás a pensar. - disse eu sabendo claramente que ela estava a pensar que eu queria ir para a cama com ela. E sim, queria, mas não ia fazer isso agora sabendo que a chateava.
-Ah. - disse ela.
Pensa nalguma coisa, Harry. Mas não me lembrava de nada decente. Todos os meus pensamentos eram porcos. A cabeça, a cabeça. Pensa com a cabeça.
-Queres... - comecei, mas não me lembrava de nada.
-Passear? - sugeriu.
-Sim, isso. - disse eu e ela levantou-se.
-Vamos. - disse sorrindo ainda com os olhos chorosos.
Marcel
Fui-me embora dali e fui até à cozinha para buscar água. Tanto chocolate já me estava a enjoar. Mesmo assim, não era por isso que iria deixar de comer, por isso dei outra trinca ao Kit Kat. Estava mesmo bom. Deixei os bombons na mesa, agarrei num copo e enchi-o de água. Fiquei a beber pensativo a olhar para a parede.
Não entendia, bem, não me entendia. Como podia estar tão confuso? Nem sequer sabia porque é que me tinha ido embora dali visto que não a queria deixar sozinha com o Harry, mas sentia-me incómodo depois de a beijar e não ter podido acabar de dizer o que lhe queria dizer.
Sabia que o Harry andava atrás dela, e sabia que era duma maneira séria. Nunca tinha sido assim com nenhuma. Nunca. E isso chateava-me ainda mais. Não porque se tinha apaixonado pela mesma rapariga que eu, mas porque me dificultava as coisas. Não sabia o que fazer, a minha mente estava uma confusão, uma das grandes. Andava para trás e para a frente nos meus pensamentos com a Bella e a Paola, seria assim tão difícil escolher uma? Ter a certeza de quem gostava mais? Sim, era muito difícil.
-Boa tarde. - disse a Gemma entrando na cozinha. Quando é que ela tinha chegado?
-Boa tarde. - respondi.
-E essa cara? - disse ela olhando para mim.
-É a minha. - respondi e ela negou com a cabeça.
-Pareces pensativo.
-E estou. - afirmei e o meu telemóvel tocou. Tirei-o do meu bolso e vi que tinha uma mensagem. Deve ser o Louis. Abri a mensagem e, para minha surpresa, não era o Louis. "Vem para minha casa. Agora. Paola". Sorri. Tão direta como sempre.
-De quem é? - perguntou Gemma com os olhos brilhantes, aproximando-se de mim emocionada. Neguei com a cabeça.
-Ninguém.
-Impossível, nenhuma pessoa sorri como uma parva quando não é ninguém. Quem é? - disse curiosa e emocionada ao mesmo tempo.
-Ninguém!- ela elevou as sobrancelhas.
-Está bem, deixa-me ver o que "ninguém" te mandou. - disse ela
-Não. - disse eu mas já a tinha praticamente em cima de mim a tentar tirar-me o telemóvel.
-Ai Marcel, eu quero saber! - disse. A sério que se emocionava assim tanto por saber quem era? - "Vem para minha casa. Agora." - leu e eu olhei para ela perguntando-me como raio me tinha tirado o telemóvel se eu o tinha na minha mão ainda agora.
-Como é que mo tiraste? - perguntei.
-Segredo! - disse ela. - Mas diz-me lá, quem é a Paola?
-Ninguém.
-Oh Marcel, diz lá! - suplicou como uma menina pequena.
-Não! Tenho que ir embora. - disse tirando-lhe o telemóvel e ela sorriu cinicamente.
-Faz com que ela aproveite. - disse com o mesmo tom que o Harry usava às vezes.
-Gemma! - queixei-me, sabendo que estava a ficar vermelho como um tomate.
Ela riu-se e saiu da cozinha divertida enquanto eu tentava controlar os meus calores. Meu Deus. Se ela soubesse que agora estou com a Paola e depois me atiro para cima da Bella não estaria assim tão feliz.
Saí da cozinha, peguei no meu casaco e saí de casa em direção à casa da rapariga, perguntando-me se desta vez conseguiria aclarar os meus sentimentos mal a visse.
***
Edward
-Onde vais? - perguntou Harry vendo como eu levava as minhas velhas luvas de boxe. - Vais lutar outra vez?
-Interessa-te? - disse-lhe e ele negou com a cabeça.
-Está bem, não me digas. - disse resignado.
Revirei os olhos.
-Vou treinar, sou o novo treinador do ginásio. - disse eu e ele elevou as sobrancelhas.
-Não acredito! - disse surpreendido. - Porque é que não me ensinas a mim?
-Porque não. - disse eu.
-Deve ser divertido.
-O caralho. - disse eu e vi como a Bella se sentava ao lado do Harry no sofá. Estava de calções e, para ser sincero, ficavam-lhe muito bem. Ainda me perguntava a mim mesmo o que o Harry e o Marcel viam nela, por isso, tinha-me encontrado em mais de uma ocasião a observá-la. Há coisas que não mudam, continuo a não gostar dela, mas a curiosidade por saber o que ela tinha que punha assim os meus irmãos consumia-me. Queria saber. Queria saber tudo. Sou um coscuvilheiro.
-Anda lá, Eddie! Por favor. - disse Harry. - Prometo que me irei comportar como um aluno e farei tudo o que me disseres.
-Já disse que não, e não me chames Eddie. - disse eu e a Bella riu-se. A verdade é que eu gostava da maneira como ela se ria. Era adorável. Pelo amor de Deus Edward, não penses assim da puta.
Harry revirou os olhos.
-Posso sempre inscrever-me nas tuas aulas do ginásio. - disse brincando.
-Nem te atrevas. - disse eu. - Porque vais sofrer, juro-te que vais sofrer.
Harry sorriu cinicamente e o Marcel entrou pela porta.
-Quem é que vai sofrer? - disse Marcel. Porém, eu continuava a olhar para a Bella, que olhava para as suas unhas. Não olhes tanto para ela, Edward.
-Eu, porque me quero inscrever nas aulas de boxe do Edward. Ele é treinador. - disse Harry.
-Eu também quero. - disse Marcel.
-Puta que vos pariu. Não. - disse eu. - Não, não e não. Ok? Se vierem às minhas aulas juro que vos mato aos dois.
Dei meia volta e fui-me embora da sala de estar, chegando à entrada e saindo de casa para o meu primeiro treino, que era com crianças de 8 anos. Só de pensar que tinha 9 crianças de 8 anos que em vez de murros dariam pancadas de meninas fazia-me perder a cabeça.
Quando cheguei ao ginásio troquei de roupa e entrei até onde estavam os rapazes sentados no chão à minha espera. Olhei para eles um pouco intimidado. Crianças. Havia um que parecia um lutador de sumo, outro pequeno e magrinho com óculos, que parecia que podia cair com a mínima coisa. Haviam muitos mais, mas um deles chamou-me à atenção e soube logo que seria o melhor de todos apenas com olhar para ele. Era parecido a mim pela atitude, e eu gostava disso.
-Bom dia. - disse improvisando, certamente parecia um estúpido, mas não fazia ideia de como me apresentar como professor à frente de crianças. - Chamo-me Edward Styles, e serei o vosso novo treinador. Gostaria que se apresentassem. - olhei para o rapaz da ponta. - Tu, diz-me alguma coisa sobre ti. - disse mesmo que não me importasse um caralho o que o rapaz me quisesse dizer sobre ele.
-Sou o Max. - disse e olhou para o teto. - E... e... gosto de pizza.
-Ah, que bom. - disse indiferente. Quem caralho lhe perguntou se gostava de pizza?
-Eu também gosto! - disse o rapaz que parecia um lutador de sumo. - Da de queijo.
-Eu gosto da de fiambre. - disse outro. Cala-te, rapaz.
-Eu gosto da de batatas fritas.
-Há pizza de batatas fritas? - perguntou outro.
Olhei para eles com cara de nojo. Seria assim tão difícil meter ordem aqui? Edward, controla-te, não lhes grites.
-Vamos lá ver, porque é que não metem as pizzas no cu e se apresentam duma vez? - disse o rapaz que eu pensava que se parecia a mim.
Os rapazes calaram-se imediatamente e eu olhei para o rapaz com aprovação.
-Tu, como é que te chamas? - disse olhando para ele.
-Brad. - disse indiferente. Meu Deus, estou a gostar mesmo deste rapaz.
-Diz-me algo sobre ti.
-Por acaso interessa-te? - disse ele.
-Não. - respondi.
-Então pronto.
-Vai para o lado do saco. - disse eu ignorando os outros que não se tinham apresentado. O rapaz levantou-se obediente e fez o que lhe mandei. - Mostra-me o que sabes fazer.
Ele ajeitou as luvas e fez-me uma demonstração. Estava muito bem para ter 8 anos.
-Bom, senta-te, rapaz. - disse eu e apontei para o magricelas. - Tu, diz-me o teu nome.
-To... to... to...
-To que? - disse eu quando o rapaz já tinha passado algum tempo a gaguejar.
-Toby. - levantou-se com a cabeça baixada e pôs-se à frente do saco.
-Vamos.
-Mas eu não sei fazer isto.
-Apenas dá murros! - disse um rapaz. Virei-me e olhei para ele.
-Tu, cala-te. - disse eu e o rapaz calou-se intimidado. Assim é que eu gosto. - Vamos, Toby.
Ele olhou para mim e depois começou a fazer algo estranho com o saco , a verdade é que não conseguia perceber o que era.
-Toby? Que caralho estás a fazer? - disse aproximando-me dele e os rapazes começaram a rir-se quando o Toby caiu no chão.- Pareces uma menina. Levanta-te daí e vai-te sentar. - o rapaz obedeceu. - Tu, gordinho. - disse apontando para o rapaz que parecia um lutador de sumo. - Nome.
-Brandon. - disse ele.
-Mostra-me o que consegues fazer. - disse eu e ele levantou-se e posicionou-se à frente do saco.
Subiu as calças e pôs bem as luvas, enquanto eu fazia uma careta. Já vais ver, Edward, prepara-te.
-KAMEHAMEHA ! - berrou e começou a dar murros como se estivesse possuído .
-Foda-se. - disse eu sem saber se matar o rapaz ou rir-me dele. Os outros rapazes tinham a certeza, visto que estavam a morrer de tanto rir.- Ei! Pára! - disse ao ver que a situação me estava a fugir das mãos. - Rapaz, não me chateies. As coisas estranhas e os "kamehameha" usa-os em casa.
O rapaz assentiu, intimidado. Suspirei e passei a mão pelo meu cabelo, desesperado depois de ter visto o que os rapazes eram capazes de fazer. Ia ser um grande desafio fazer com que conseguissem alguma coisa. Porém, tinha um bom pressentimento quanto ao Brad.