Duda narrando
Eu não estava acreditando no que ouvi. O silêncio estava instalado pela sala, nós nos estreolhavamos tentando entender o que estava se passando lá em cima.
Era bizarro pensar que o Gustavo não é filho da tia Beatriz. Como que isso pode ter acontecido??
(...)
Ele passou pela gente sem nem olhar na minha cara, os olhos dele estavam tão vermelhos que parecia que ele tinha acabado de fumar.
- Pra onde será que ele vai?
Paulinho: Pra qualquer lugar longe daqui, tenho certeza!
Helô: Tomara que ele não faça nenhuma merda! -falou pensativa-
Minha cabeça tá uma confusão, fora meu braço que não para de doer, não consigo pensar direito sobre essa confusão toda.
Um tempinho depois o tio L7 desceu.
Helô: Isso tudo é verdade? -levantei-
L7: Tu acha que a gente faria esse auê todo atoa? Onde ele tá?
Paulinho: Pegou a moto e saiu!
Xx: Coe L7 -chamou no radinho-
L7: Dá teu papo, PL? -respondeu-
PL: O Guto acabou de passar aqui pela barricada quase levando o asfalto junto.
L7: Assim que ele voltar pro morro me avisa! -desligou- Tomara que esse mlk não me arrume dor de cabeça.
Helô: Dor de cabeça vcs arrumaram pra ele né?! Como vcs puderam esconder isso dele? -falou nervosa-
L7: Para de querer dar lição de moral e vai dar apoio pra tua mãe que tá mal lá em cima -falou curto e grosso-
Logo ele saiu nos deixando sozinhos novamente.
Lua: A gente tem que tentar falar com ele antes que aconteça alguma coisa. -falou assim que a Helô subiu-
May: Verdade, a gente conhece o Gustavo e do jeito que ele é, é capaz de matar alguém em uma hora dessas.
Algo me dizia que eu sabia onde ele estava e que era pra eu ir atrás dele mas não sei se eu devo.
Tentei ligar pra ele milhares de vezes e, como eu já imaginava, ele não atendeu em nenhuma das vezes.
- Preciso ir! Meus pais estão me enchendo de mensagem. -eles me olharam-
Helô: May, leva ela na entrada do morro pfv?! Não tô em condições pra sair de casa hj. -falou descendo, ela assentiu-
Em poucos minutos eu já tinha me despedido do pessoal e chamado um uber, a Mayra me deixou na entrada do morro de moto e me esperou entrar no carro.
Eu estava ali mas minha cabeça toda no Gustavo, me doía saber que ele tava mal com toda essa história toda. Deve ser horrível dar de cara com um choque desse.
Já passavam das 17h, o por do sol tava lindo demais e eu só conseguia pensar em onde aquele garoto estava. Chegando no final da praia avistei de longe o que parecia ser uma moto bem conhecida por mim.
- Moço, pelo amor de Deus, para aqui! -berrei-
Xx: Menina, que susto! -colocou o carro no acostamento- Mas aqui não é o final da corrida.
- Eu sei, mas eu preciso saber se o que eu vi é verdade.
Joguei o dinheiro no banco da frente e saí do carro de pressa, voltei até onde eu tinha visto a moto e conferi a placa. Como eu imaginava, ele tava por ali!
Corri meus olhos pela praia e não encontrei ele, meu coração logo se apertou. Tirei o sapato, coloquei dentro da mochila e comecei a andar areia a dentro pra ver se eu encontrava o Gustavo.
Depois de andar um bom pedaço reconheci aqueles ombros largos de costas pra mim no mesmo instante. Eles estava sentado observando as ondas se quebraram a pouco metros dele, apertei o passo e sentei do lado dele.
- Graças a Deus eu te achei cara! -olhei pra ele-
Rapidamente ele se secou as lágrimas que estavam pelo seu rosto e abaixou a cabeça.
- Vc não precisa se esconder de mim, sabe disso..
Gusta: Eu quero ficar sozinho. -sua voz saiu embargada-
- Não me interessa, eu vou ficar aqui com vc! -acariciei a nuca dele- Vc quer conversar?
Gusta: Não Edudarda! -falou um pouco mais alto- Eu disse que quero ficar sozinho porra.
Minha vontade era sair correndo dali mas eu sei que é a raiva falando por ele.
- E eu já disse que não vou sair daqui! -ele levantou e foi saiu andando- Vc vai me deixar aqui?
Gusta: Eu não mandei vc vim!! Vê se vai pra casa, daqui a pouco isso aqui vai ficar perigoso. -me deu as costas e saiu-
Me doía ver ele naquele estado, nunca tinha visto o Gustavo chorar daquele jeito, esse é o pior.
Observei ele se afastar de mim cada vez mais andando pela areia, levantei e limpei a areia que tava pelo meu corpo, vou dar um tempo pra ele sozinho mas não vou deixar ele aqui.
Voltei pra onde estava a moto dele e sentei nela pra ficar esperando ele chegar, só espero que não demore muito.
(...)
Aquela vista era linda demais, a praia a noite, que saudades que eu tava de presenciar isso.
Meus pais não paravam de me ligar, inventei que tinha passado na casa da minha avó e pedi um álibi pra ela, pelo menos iria ganhar tempo.
Gusta: O que vc tá fazendo aqui, garota? -me olhou incrédulo-
- Esperando vc. -encarei ele- Eu te falei que não ia te deixar sozinho e não vou!
Gusta: Vc é maluca, sabia?! -falou sério- Isso aqui é perigoso a noite, e se acontece alguma coisa ctg?
- A culpa ia ser sua pq vc que me deixou sozinha. E eu vou sair daqui até ver que vc tá melhor!
Nós ficamos em silêncio. Um silêncio ensurdecedor, sabe? Dava pra sentir o quanto ele estava triste.
Gusta: Como vc quer que eu fiquei melhor quando eu descobro que toda minha vida foi uma farsa??
Sentamos na areia ele me contou toda história, e é realmente perturbador pensar que a pessoa que vc conviveu sua vida inteira mentiu pra vc.
- Vc pode chorar, eu não tô aqui pra te julgar. -falei logo após dele secar as lagrimas que insistiram em cair-
Gusta: Sou sujeito homem Eduarda, qual foi? -ri-
- Chorar não te faz menos homem, Gustavo. Para de bobeira. -ele ficou quieto-
Deitei no ombro dele e ele passou a mão pelo meu ombro e com a outra mão acariciou o curativo do meu machucado.
Gusta: Ainda dói? -assenti quieta-
- Eu tenho certeza que sua mãe só quer o seu bem!
Gusta: Ela não é minha mãe!
- Vc tá sendo injusto. -encarei ele- Ela que sempre esteve do seu lado, quando vc tava doente, quando vc precisava de suporte era ela quem tava lá. Não vai ser uma mulher que te abandonou quando vc era recém nascido e chegou agora querendo pagar de mãezona que vai ocupar e o lugar da tia Beatriz!! -ele ficou quieto-
E assim permanecemos por um bom tempo, ele olhando pro mar e eu olhando pra ele.
Gusta: Eu não consigo olhar mais na cara da minha mãe.. -quebrou o silêncio- Nem do meu pai. Os dois vacilaram demais em não me contar isso e, sinceramente, eu não sei como eu não liguei os fatos. Eu sou apenas poucos meses mais velho que o Henrique, não tinha como eu te nascido e logo em seguida ela ter ficado grávida assim tão rápido, dava nem tempo. E outra, eu sou o único que tem cabelo preto dos meus irmãos, até o Arthurzinho tem o cabelo clarinho.. -ele suspirou- Quando eu perguntava pq meu cabelo tb não era loiro ela me falava que é pq eu puxei muito meu pai. Mano, mentira acima de mentira, vai se fuder!!
- Isso não é bem uma mentira, vc é seu pai todinho. -ele revirou os olhos- Vc deveria ir pra casa conversar com eles.
Gusta: Eu não quero aparecer naquele morro por agora.. Vou dar um tempo na minha vó, sei lá.. Que porra, nem minha avó ela é!!
Eu já não sabia mais o que dizer. Não tiro a razão dele pois eu também ficaria puta da vida se descobrisse isso, mas entenderia.
Sei lá, só quem vive é que sabe!
Gusta: Quer dormir cmg hj? -me encarou e eu fiz uma careta- Não, sem maldade, eu só não quero que vc me faça companhia. A gente vai pro apê da minha mãe, é aqui perto.
- Não sei, meus pais não vão deixar.
Gusta: E eles sabem que vc tá aqui? -neguei-
Depois de muita insistência me resolvi com meus pais e acabei indo pro apê com ele, desci da moto e ele pegou minha mochila andando um pouco mais a frente indo falar com o porteiro. Depois de uns minutos ele vem até mim com a chave do apê e seguimos para o andar...
Não rolou nada, sabe?! Apenas curtimos a presença um do outro e foi bom demais, era tudo o que eu queria.