Conocerás tus sueños

By vic_timism

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Depois de tudo que enfrentaram para ficar juntas, Juliana e Valentina tentam levar a vida navegando por águas... More

Um
Dois
Três
Quatro - Parte I
Quatro - Parte II
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze - Parte I
Catorze - Parte II
Dezesseis
Dezessete
Dezoito - Parte I
Dezoito - Parte II
Dezenove
Vinte
Vinte e um
Vinte e dois
Vinte e três - Parte I
Vinte e três - Parte II (+18)
Vinte e três - Parte III
Vinte e quatro
Vinte e cinco - Parte I
Vinte e cinco - Parte II (+18)
Vinte e seis

Quinze

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By vic_timism


As portas duplas que separavam a rua e a portaria do prédio eram pesadas, com suas vidraças grossas e grades ornamentadas de ferro. Juliana estava tão imersa em sua preocupação com Valentina que sequer sentiu a dor do esforço em seus braços quando as empurrou com as duas mãos.

O edifício em que viviam foi construído em um estilo clássico e refinado, que estava impresso em suas paredes de granito amarelo e colunas grossas de mármore, bem como nas janelas largas e nas portas arredondadas.

A portaria era precedida por um luxuoso hall de entrada circular, com piso de concreto polido, um lustre quadrado de cristal e poltronas de linho sintético. A porteira do turno da madrugada estava sentada atrás de uma bancada de madeira clara, devidamente uniformizada com uma camisa de botão e jaqueta cinza. A mulher, que não aparentava mais de quarenta anos, estava debruçada sobre uma revista de palavras cruzadas. Seu cabelo cacheado caía sobre seu rosto comprido.

— Boa noite. — cumprimentou Juliana, lançando um olhar para o enorme relógio de ponteiros da portaria. Era quase uma da manhã. Ainda precisava preparar uma mochila, comer alguma coisa e voltar para o hospital, onde Valentina estava internada.

A estilista apertou o botão prateado do elevador, que se iluminou em um tom berrante de vermelho. Enquanto esperava, lembrou das palavras que Camilo tinha lançado sobre ela cerca de 40 minutos antes. "As visões começaram quando vocês se mudaram para o apartamento. Você já pensou que pode ter alguma relação?".

Juliana espiou a porteira por cima do ombro. A mulher rabiscava sua revista de palavras cruzadas com uma concentração frágil, como se estivesse absorta no passatempo e no mundo ao seu redor ao mesmo tempo.

— Com licença. — chamou Juliana, se aproximando com passos receosos — Oi. Desculpe atrapalhar. Mudei para o prédio há pouco tempo e acho que ainda não fomos apresentadas. Eu sou...

— Juliana Valdés. — completou a mulher, largando as palavras cruzadas e abrindo um sorriso divertido — Prazer. Me chamo Dolores.

— Bem... uau. Você já sabe meu nome. — constatou Juliana, surpresa e sem graça.

— Você é famosa na minha casa, garota. — informou Dolores — Minha filha, Catalina, é sua fã número 1. Ela termina a escola no fim do ano e quer estudar Design de Moda, sabe? É um curso caro, vivo lembrando que não teremos como pagar, mas a menina enche a boca para dizer que sua história dá esperança para ela. O que posso fazer? Sonhar ainda é de graça.

— Puxa, eu... acho que fico feliz em ser uma inspiração. — respondeu Juliana, envergonhada — Posso me sentar aqui?

— Claro. — disse Dolores, empurrando uma cadeira preta com rodinhas que estava vazia ao seu lado, idêntica a que estava sentada — Quer chá? Camomila.

— Obrigada. — respondeu Juliana, balançando a cabeça afirmativamente — Então, faz tempo que você trabalha aqui?

— Quase vinte anos. — disse Dolores, enchendo um copo plástico com chá e estendendo para Juliana — Era mais nova que você quando comecei.

— Você deve ter muita história para contar. — lançou Juliana, soprando seu chá — O prédio é antigo, deve ter um passado incrível.

— Pelo que sei, a construção passou anos inacabada e caindo aos pedaços até ser comprada e concluída por uma mulher na década de 50. — contou Dolores — Depois que ela faleceu, o único filho dela herdou o edifício. Então, sim, é bem antigo. Por isso os apartamentos são tão grandes. Nos prédios mais novos, tudo parece uma lata de sardinha!

— Você sabe o nome dessa mulher? A que construiu o prédio? — questionou Juliana.

Dolores sacudiu a cabeça negativamente.

— Não, mas o filho dela se chama Jorge García. Ele mora aqui no prédio, na cobertura.

— Mesmo? — perguntou Juliana, arqueando as sobrancelhas — Não sabia disso. Negociamos o apartamento direto com a imobiliária.

A porteira olhou para todos os lados, se certificando de que estavam sozinhas.

— O Seu Jorge prefere delegar tudo para uma administradora e perder dinheiro do que ter que lidar com qualquer responsabilidade. — sussurrou Dolores, apressando a velocidade das palavras — Cá entre nós, ele tem um estilo de vida um pouco... peculiar.

— Como assim? — questionou Juliana, bebericando seu chá.

Dolores hesitou antes de prosseguir.

— Olha, todo mundo sabe que Seu Jorge tem envolvimento com cartéis de drogas. Sem ofensas, ouvi dizer que sua família também tem esse... bem... histórico.

— Te garanto que não ofendeu. — respondeu Juliana, esboçando um sorriso constrangido.

— Ele foi preso várias vezes, mas sempre acaba se safando. Dizem que gente muito poderosa deve favores para ele, por isso Seu Jorge nunca passa uma noite sequer na cadeia. — narrou Dolores, falando baixo e muito rápido — Mas não é isso o que mais nos preocupa sobre ele.

— E o que é? — perguntou Juliana, alarmada.

O semblante de Dolores endureceu, como se tivesse se dado conta repentinamente de que estava falando demais.

— Desculpe, Dona Juliana. Não me sinto confortável falando sobre isso.

— Pode me chamar de Juliana. E você pode confiar em mim, Dolores. Não precisa ter medo de me contar nada.

— As paredes têm ouvidos aqui, garota. — alertou Dolores — Até gostaria de continuar fofocando com você, mas são coisas sérias. Não posso perder meu emprego e muito menos colocar a vida da minha filha em risco.

Juliana estreitou os olhos. O temor de Dolores pela segurança de Catalina significava que a história de Jorge devia ser realmente pesada. Algo lhe dizia que, para entender o que estava por trás das visões de Valentina, precisava seguir aquela pista. Naquele momento, Juls decidiu que acataria o que sua intuição implorava que fizesse.

— Bem, você me disse que sua filha quer fazer Design de Moda. — desconversou Juliana — Me conte mais sobre isso. Ela desenha? Costura?

— Desenha e costura. — disse Dolores, orgulhosa — O pai dela sumiu no mundo há alguns anos. Eu banco a casa sozinha com muito sacrifício, e é raro que sobre algum dinheirinho para roupas. Minha menina sempre teve bom gosto e aprendeu a costurar para poder customizar e reformar as peças usadas que ganha das primas mais velhas.

Juliana abriu um sorriso sincero. A história daquela adolescente que nem conhecia rimava com a sua própria.

— Sabe, eu ando trabalhando muito. — começou Juliana — Estou criando uma coleção para uma marca grande, e uma linha outono-inverno que será lançada em edição limitada numa outlet na Itália. Seria ótimo ter alguma ajuda. Se Catalina puder conversar comigo e trazer algumas peças e croquis para eu dar uma olhada, seria um prazer oferecer um estágio.

Dolores estudou Juliana com olhos atentos, sem demonstrar nenhuma reação.

— O que você quer em troca? — questionou a porteira.

— Nada. — respondeu Juliana, ofendida — Estou oferecendo sem exigir nenhuma contrapartida.

— Você não está exigindo, mas está esperando. Afinal, se eu aceitar, fico te devendo um favor. — elaborou Dolores — A vida me ensinou que não existe almoço grátis, Juliana. Anda, o que você quer saber?

Juliana tamborilou os dedos sobre a bancada, e ensaiou em silêncio por alguns segundos antes de falar.

— Não estou condicionando o estágio a isso. Realmente quero ajudar Catalina porque me identifiquei com a história dela. Então, tudo bem se você não quiser falar, eu vou descobrir de outra maneira e o que estou prometendo a sua filha continua valendo. No entanto, vai ser muito mais fácil se você me contar. O que há de tão cabeludo com esse Jorge García?

— Veja lá, hein, garota. Não quero problemas. — advertiu Dolores, em um tom sussurrado quase inaudível — Seu Jorge sempre teve gosto por meninas mais novas. Lembro que vivia dando em cima de mim quando eu comecei a trabalhar aqui. Na época eu já namorava o pai da Catalina, que era um homem violento, então ele não insistiu muito. Mas em todos esses anos, o vi com dezenas de mulheres jovens.

Desconfiada, Dolores voltou a olhar para os lados antes de prosseguir.

— Nos últimos anos, começou a acontecer uma coisa esquisita. Seu Jorge passou a chegar aqui com meninas muito novinhas, sempre com malas de viagem, como se estivessem de mudança. Dava para ver no rosto delas que não eram aqui da cidade. Pareciam sempre muito pobres, sofridas e assustadas.

— Quão jovens elas aparentavam ser? — questionou Juliana.

— Tenho certeza que a maior parte delas tinha menos de dezoito anos. — assegurou Dolores — Sempre ficavam aí com ele por alguns dias. Então, ele as enfiava em táxis com suas bagagens e as despachava sabe Deus para onde. Sou mãe de uma menina de dezesseis anos, Juliana. Meu coração ficava apertado sempre que o via chegando e saindo com aquelas garotas porque ficava imaginando que cada uma delas poderia ser a minha filha. Mas o que podia fazer? Todos aqui têm medo dele, ninguém tinha coragem para denunciar o que quer que estivesse acontecendo. Além do mais, aquelas meninas pareciam estar consentindo...

— Crianças não consentem. — vociferou Juliana — Principalmente se estiverem em situação de vulnerabilidade.

— Bem, há mais ou menos um ano, aconteceu a situação mais grave de todas. — prosseguiu Dolores, ignorando o comentário — Seu Jorge chegou aqui com uma menina, como sempre. Só que dessa vez... ela não saiu.

— O que? — gritou Juliana — Ele a machucou?

— Não. Quer dizer, não sei. — respondeu Dolores, nervosa — Mas ela está viva. Sabemos disso porque ela liga para a portaria sempre que precisa de algum serviço, como encanador ou eletricista, por exemplo. Nossa teoria é que a menina tem que nos pedir isso porque não tem autorização para usar o telefone. Mas o fato é que ela nunca mais saiu do apartamento, nem para dar uma volta na quadra.

— Você está me dizendo que tem uma adolescente em cárcere privado aqui e ninguém fez nada? — perguntou Juliana, furiosa.

— O que queria que fizéssemos? — devolveu Dolores — Já te falei que todos os funcionários têm medo dele. Seu Jorge se safou de todos os crimes que cometeu porque gente importante tem o rabo preso com ele. Chamar a polícia seria nossa sentença de morte e só prejudicaria a garota.

Juliana enterrou as próprias mãos em seus cabelos escuros. Seu cérebro estava fazendo um esforço gigantesco para processar as informações que tinha acabado de receber.

— Só te contei isso porque você insistiu. — emendou Dolores — Estou confiando que você não fará nada estúpido.

— Eu... eu... nem saberia o que fazer. — respondeu Juliana, porque era verdade.

-

Juliana colou sua pulseira prateada de visitante em torno do pulso direito e atravessou as portas duplas que separavam o complexo hospitalar da recepção. A garota carregava uma mochila Balenciaga branca nas costas, abarrotada de objetos que levava para a namorada.

Antes mesmo de alcançar o posto de enfermagem — que ficava no meio de seu caminho até o quarto de Valentina — sentiu um toque em seu ombro.

— Juliana? — chamou Carmen, a médica de Valentina — Estive te procurando.

— Fui para casa buscar as roupas da Val e acabei tendo que resolver... coisas no caminho. — justificou a morena — Como a Valentina está?

Carmen cruzou os braços sobre o peito e torceu os lábios.

— O que houve? — questionou Juliana, alarmada — Aconteceu alguma coisa?

A médica soltou um suspiro pesado.

— A verdade é que não sei como te responder essa pergunta. Sou médica há mais de dez anos, e nunca vi nada parecido com o que aconteceu hoje.

A expressão no rosto de Juliana transbordava nervosismo e desespero. A agitação era tão grande que ela não sabia o que fazer com as próprias mãos.

— Um dos enfermeiros me bipou para avisar que ela estava tendo uma agitação semelhante a um princípio de convulsão. — começou Carmen — Chegando no quarto, detectamos que não era um episódio convulsivo... mas também não sabíamos o que era. Ela se debatia, apresentava hemorragia nasal e estava com quase quarenta de febre. Os sinais vitais estavam alterados, pressão arterial elevada e aparentava estar inconsciente. Não conseguíamos estabilizá-la de jeito nenhum.

Juliana sentiu a garganta em chamas. Foi só então que percebeu que seus olhos estavam cheios de lágrimas, e que seu coração estava a beira de uma crise de choro.

— Então, aconteceu algo... sem precedentes. — sussurrou Carmen, em tom de confidência — Os pés dela... ficaram em carne viva. Do nada. Eu vi com meus próprios olhos e não conseguia acreditar. Machucados começaram a surgir em outras partes do corpo, as mãos dela ficaram esfoladas. Não havia explicação. Tentamos aplicar um sedativo, mas ela estava se debatendo muito. Precisamos amarrá-la na cama para que não se machucasse. Foi muito difícil.

— Como ela está? — perguntou Juliana, com a voz embargada, sem conseguir mais conter o choro.

— Nós achamos que íamos perdê-la, Juliana. Simplesmente não sabíamos o que fazer. — disse Carmen — Então, de repente... como se nada tivesse acontecido... ela começou a se recuperar. As... as feridas dos pés e das mãos... só começaram a cicatrizar.

Juliana piscou várias vezes, permitindo que as lágrimas rolassem por seu rosto.

— Sou cética, Juliana. Só acredito na ciência. Mas foi algo... inexplicável. — prosseguiu Carmen — Ela passa duas horas em uma crise horrível, e então, assim que o relógio bate uma da manhã, começa a melhorar e...

— Espera. — disse Juliana, alarmada — Que horas?

— Uma da manhã. — informou Carmen — Valentina teve essa crise assim que você saiu daqui.

Uma da manhã.

Juliana chegou ao prédio em que moravam pouco antes disso. O horário em que Valentina se recuperou era o exato momento em que estava conversando com Dolores sobre Jorge García.

— Como ela está agora? — perguntou Juliana, limpando as lágrimas com as costas das mãos.

— Estável e desperta. Para ser honesta, parece melhor do que antes da crise. — contou Carmen — Ministramos alguns analgésicos intravenosos porque ela reclamou de dor no corpo, o que é compreensível. Fora isso, está ótima por ora, mas em observação. Meu plantão está terminando, mas já avisei o colega que irá ficar no meu lugar para tratá-la com prioridade máxima.

— Posso vê-la? — questionou Juliana, transparecendo a ansiedade no tom trêmulo da frase.

Carmen olhou para todos os lados, se certificando de que ninguém estava ouvindo.

— Poder, não pode. Não é horário de visitas. — respondeu Carmen — Mas eu vou me distrair aqui preenchendo algumas fichas. Se você se aproveitar dessa brecha para se esgueirar até o quarto dela, não há nada que eu possa fazer.

Juliana abriu um sorriso dolorido. Foi só então que percebeu como cada músculo de seu corpo estava tenso.

— Obrigada, doutora. Você é a melhor.

Carmen retribuiu o sorriso, mas não respondeu o que estava pensando.

Não queria ser a melhor. Apenas boa o bastante para salvar Valentina do que quer que a estivesse matando.

-

Como se soubesse de sobreaviso quem estava se aproximando, Valentina sentiu a urgência de sentar e apoiar suas costas na cabeceira da cama meio minuto antes de Juliana girar a maçaneta e empurrar a porta.

Assim que seus olhares se encontraram, ambas sentiram o típico solavanco que atraía seus corações um para o outro. A sensação já conhecida escancarou sorrisos fáceis nos rostos de ambas.

Juliana sentia um universo colidindo dentro dela. A paixão e o amor que sempre a inundavam quando pensava em Valentina dividiram o espaço com o alívio por encontrá-la viva e a surpresa em perceber que, de fato, parecia bem melhor do que antes. Ainda tinha olheiras profundas e uma palidez onipresente, mas seus lábios estavam levemente rosados e os olhos tomados por um tom de azul claro calmo e tranquilo.

A estilista caminhou em passos lentos até a cama, onde sua namorada já se remexia, impaciente com a ânsia de tocá-la.

— Ouvi dizer que a senhorita deu trabalho aqui no hospital. — disse Juliana, sentando ao lado dela na cama e a cumprimentando com um beijo rápido nos lábios.

— Ah, eu estava entediada. Você demorou para voltar, precisei encontrar algo para me distrair. — retrucou Valentina, fazendo sua namorada rir.

— Estou falando sério. — repreendeu Juliana, colocando uma mecha de cabelo dourado atrás da orelha de Val — O que aconteceu?

Valentina baixou os olhos, fitando suas próprias mãos.

— Tive outra regressão espontânea. — respondeu, com a voz baixa.

Um silêncio tenso e pesado se instalou entre elas. Salvo raras exceções, tudo que é espontâneo anda de mãos entrelaçadas com o medo.

Juliana engatinhou pela cama estreita. Tirou a mochila das costas e arrancou os sapatos. Então, deitou ao lado de Valentina na cama. Val, quase instantaneamente, encostou sua cabeça no ombro da garota que amava.

— Você viu alguém nessas visões que tenha o sobrenome García? — indagou Juliana, segurando uma das mãos de Valentina entre as suas.

— Não. — respondeu Val, ratificando a informação balançando a cabeça de um lado para o outro.

— Acho que encontrei uma pista que pode te livrar disso tudo, mas ainda não entendi como ela se encaixa na história de Isabel e Daniela. — informou Juliana — Mas é algo muito pesado. Vou te contar assim que você voltar para casa.

— A sua sorte é que estou cansada demais para insistir e te convencer a me contar. — disse Val, fechando os olhos e se aconchegando mais no corpo da morena.

Juliana, por sua vez, reagiu beijando o alto da cabeça de Valentina demoradamente.

— Está com medo? — questionou a estilista.

— Estava, mas passou agora que você está aqui. — respondeu Val.

— Eu estou com medo. — confessou Juliana.

— Eu sei. — sussurrou Valentina, entrelaçando seus dedos ao da mulher deitada ao seu lado e os apertando de leve.

As duas permaneceram ali, mergulhadas no silêncio uma da outra. No fundo, sabiam que nenhuma delas tinha respostas para o que estava acontecendo, mas estavam dispostas a construir juntas as perguntas que fossem necessárias para chegarem lá.

— A gente se beijou. — soltou Valentina, de repente.

— Eu diria que pelo menos uma centena de vezes nos últimos dois anos. — brincou Juliana, arqueando as sobrancelhas.

Valentina riu e cutucou a namorada com o ombro.

— Não! — exclamou, entre as risadas — Nas minhas visões. As nossas versões do passado se beijaram pela primeira vez.

— Não acredito que fomos mais rápidas no século passado do que nesta vida. — disse Juliana, fingindo indignação.

Você é que sempre reclamou que eu sou rápida demais nesta vida aqui. — argumentou Valentina.

— Bom, eu compenso quando posso. — provocou Juliana, piscando para a namorada.

Valentina se afastou do ombro de Juliana para poder encará-la fixamente.

— Compense agora.

— Não posso. — respondeu Juliana, segurando o queixo de Valentina e permitindo que seu olhar fizesse o trajeto dos olhos azuis até a boca — Quem você pensa que eu sou? Alguém que se aproveita de mulheres bonitas enquanto elas estão doentes?

— Você não está se aproveitando se eu estiver pedindo. — disse Valentina, arrastando seu nariz na bochecha de Juliana.

Juls segurou o rosto de Val firmemente. As duas se encararam por segundos, que foram tempo o suficiente para que o quarto, o passado e o futuro desaparecessem ao redor delas. Então, seus lábios se encontraram com a voracidade da urgência, do desejo, da dor, e, sobretudo, da ansiedade causada pela incerteza do que aconteceria no minuto seguinte.

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