Quatro - Parte I

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Nota  da autora: oi, amores! Esse capítulo ficou enorme e é BEM importante para o andamento da história, então, decidi dividi-lo em duas partes. Ele é bem denso e introduz alguns fatos históricos que podem parecer meio confusos agora, mas serão explicados com mais detalhes no futuro. Espero que vocês gostem <3

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Camilo coçou o queixo enquanto encarava uma Valentina exausta, sentada no mesmo sofá vermelho que ele mantinha em seu escritório desde sempre. Na última hora e meia, os dois destrincharam as visões de Val. Ela contou o que estava acontecendo minuciosamente, descrevendo cada sensação, cheiro e detalhe visual, enquanto ele tomava notas e fazia comentários pontuais.

— As visões em si, Valentina, me parecem episódios clássicos de recordações de vidas passadas. Há vastos registros na literatura sobre isso — explicou Camilo — o que não é comum é que essas memórias venham espontaneamente. Isso acontece com crianças, que são mais suscetíveis a essas impressões e ainda têm uma conexão com suas existências anteriores, já que estão neste plano há menos tempo. Mas em adultos... seria uma raridade.

— Os gatilhos parecem ser coisas que Juliana faz ou fala. — disse Valentina — Ela estava sendo teimosa com o rapaz que instalou os armários do nosso banheiro, e eu tive a visão em que ela estava ferida. Eu a ouvi falando em cuidar da Clara, e tive a visão em que ela dizia que cuidaria de mim e de mais alguém que não sei quem é. Então, não é tão espontâneo assim.

— Na verdade, isso torna tudo ainda mais intrigante. — rebateu Camilo — É quase como se as visões estivessem esperando as brechas exatas para surgirem. Não são apenas memórias soltas da sua vida passada. Me parece que essas experiências querem passar uma mensagem específica. Talvez algo que você e Juliana precisem saber ou fazer nesta vida.

Valentina apoiou os cotovelos nos joelhos, segurou o próprio rosto com as mãos e encarou o melhor amigo de seu pai. Naquela tarde, os olhos dela estavam mais claros e vulneráveis do que nunca.

— Então vamos descobrir que mensagem é essa o mais rápido possível. Tem alguma ideia?

Ele hesitou por alguns instantes.

— Bem... — disse Camilo, sem disfarçar o tom de preocupação — Podemos tentar uma regressão e ver o que aconte...

— Eu topo.

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Menos de quinze minutos depois, Valentina já estava deitada no velho divã de couro de Camilo, com as pernas esticadas e os ombros relaxados. Sentia a ansiedade martelar efusivamente na boca do estômago, mas não estava com medo. Sabia que era o que precisava fazer.

Camilo havia preparado o ambiente, ajustando as luzes e a temperatura até deixar a sala totalmente agradável e acolhedora. Todos os eletrônicos foram desligados, e o único som que Val podia ouvir no escritório era o de seu coração esmurrando seu próprio peito numa velocidade aflita.

— Certo, Valentina... — começou Camilo, puxando uma cadeira e sentando ao lado do divã — Preciso que você feche os olhos e tente desacelerar seus pensamentos. Para isso, concentre-se apenas na sua respiração. Sinta o ar. Perceba cada movimento de inspiração e expiração.

Valentina obedeceu e, antes que pudesse se dar conta, parou de perceber seu corpo físico e passou a sentir como se sua existência se resumisse ao ar entrando e saindo de seus pulmões. Não ouvia nada que não fosse a voz de Camilo. Aquele isolamento dentro de si mesma a deixou maravilhada, e uma sensação de paz se expandiu no meio de seu peito.

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