Catorze - Parte II

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— Sofía? — chamou Isabel, andando pelos corredores do casarão dos Vega com passos apressados — Sofía!

Encontrou sua amiga na biblioteca do segundo andar. Sentada em uma poltrona de camurça azul escura, Sofía fingia estar absorta em um livro de capa verde.

— Não acredito que você vai me ignorar fingindo que está lendo. — disse Isabel, cruzando os braços sobre o peito.

— Que audácia! Estou apenas concentrada na minha leitura. — retrucou Sofía, sem tirar os olhos das páginas da obra.

— Seu livro está de ponta cabeça. — informou Isabel, comprimindo os lábios para segurar o riso.

Indignada consigo mesma, Sofía olhou para a capa, e as letras douradas que formavam o título realmente estavam de cabeça para baixo. A garota revirou os olhos e, no segundo seguinte, começou a rir, sendo acompanhada por sua melhor amiga.

Quando o silêncio voltou a se instalar entre as duas, Isabel caminhou até sua cunhada e se ajoelhou ao lado dela.

— Converse comigo. — pediu, com a voz baixa — O que está acontecendo?

Sofía passou a língua pelos próprios lábios. Era um hábito que repetia sempre que ficava nervosa.

— Eu... só ando meio para baixo, tudo bem? Me sentindo um pouco solitária, talvez. Acho que não lembrava como era a vida sem você por perto o tempo todo.

— Talvez porque nunca tivemos essa vida desde que nos conhecemos. — respondeu Isabel, abrindo um sorriso — Vivíamos uma na casa da outra até quando éramos recém-casadas.

— E depois eu fiquei viúva e me enfurnei na sua casa. — disse Sofía, gargalhando em seguida — Essa tem sido nossa dinâmica desde sempre. Acho que só está difícil me acostumar a perder você para um homem sanguinário à beira da morte.

Isabel respondeu a amiga com um tapa ardido de repreensão no ombro. Apesar disso, estava rindo.

— Ele está indo muito bem, pare com isso. — retrucou Isabel — A propósito... bem, é sobre isso que eu queria falar com você.

— Eu sabia! — berrou Sofía, apontando o indicador na direção da cunhada — Tinha certeza que para estarmos conversando há mais de um minuto, era porque você queria me pedir alguma coisa.

Isabel baixou o olhar, levemente constrangida.

— Não precisa ficar assim, sabe que sou a maior partidária do seu romance adolescente irresponsável e proibido. — disse Sofía, acariciando o braço da amiga — Ouvi dizer que Pedro está enlouquecido procurando Daniel nos arredores da fazenda. E algo me diz que a localização do seu namorado não é exatamente dentro da nossa propriedade.

— Ele não é meu namorado. — respondeu Isabel — E a localização não é essa... ainda.

Sofía arregalou os olhos e entreabriu os lábios, em choque.

— Não me diga que você quer minha ajuda para esconder seu não-namorado dentro da nossa casa.

— Tecnicamente não. — disse Isabel, esboçando um sorriso nervoso — Não quero escondê-lo na nossa casa... mas na capela de Santa Helena.

— Por Deus, você enlouqueceu! — gritou Sofía, levantando da poltrona em um salto e colocando as mãos na cintura — E a pior parte é que eu gostei desse delírio, porque é genial! Jamais o encontrariam na igreja amaldiçoada.

— Sabia que podia contar com você. — disse Isabel, correndo para abraçar Sofía pela cintura.

— Eu não disse que você pode contar comigo. — ralhou Sofía — É muito arriscado. Precisamos de um plano que nos mantenha vivas. Pedro vai nos matar se descobrir.

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