Dez

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Juliana e Valentina passaram o fim de semana debaixo das cobertas. 

Enquanto Valentina ardia em febre, Juliana providenciou remédios coloridos e xícaras de chás fumegantes. As duas conversaram, riram, pediram comida chinesa e assistiram filmes (ou, ao menos, Juls assistiu filmes. Val apenas dormiu profundamente com a cabeça encaixada na curva do pescoço da namorada — o que, para ela, foi mais divertido do que qualquer blockbuster).

Quando a manhã de segunda-feira chegou rápido demais, o termômetro digital ainda indicava que a temperatura de Valentina estava muito acima do ideal.

— Você tem certeza que não quer ir ao hospital? — perguntou Juliana, preocupada, sentada na beira da cama. Já estava pronta para ir trabalhar, com uma calça jeans escura rasgada nos joelhos, botas pretas de cano curto, uma blusa preta com decote em V e uma jaqueta bordô de couro ecológico.

— O que eu diria na emergência, meu amor? — questionou Val, gentilmente — "Estou fazendo regressões porque ando tendo umas visões estranhas comigo e minha namorada numa vida passada, e a cada vez que volto de lá me sinto um pouco mais doente"? Você está preparada para minha internação na ala psiquiátrica?

Juliana respondeu esboçando um sorriso, sem mostrar os dentes, enquanto acariciava a mão de Valentina de maneira ansiosa.

— Eu posso ficar em casa com você hoje. — sugeriu Juliana, sem muita convicção. As duas trocaram um olhar cúmplice. Ambas sabiam que aquilo não era possível.

Além de sua coleção com Fernanda Franco, Juls também tinha que começar a trabalhar nas peças exclusivas de sua própria marca, que iriam para uma outlet no shopping de Aurora Ricci em Roma dentro de dois meses. Perder um dia de trabalho era inviável.

— Está tudo bem. — garantiu Valentina, apertando a mão da namorada de leve — Vou ficar aqui me divertindo olhando sites de universidades e procurando um curso que não me mate de tédio.

— Relaxe, Val. Você está doente. — repreendeu Juliana — Deixe para pensar nisso quando você melhorar.

— Tenho que arranjar uma carreira para estar à altura da minha namorada que está ganhando o mundo. — comentou Valentina, sem conseguir conter o sorriso orgulhoso.

— Você é o único mundo que importa para mim. — respondeu Juliana, se inclinando na direção de Val e abrindo um sorriso.

Valentina contemplou o rosto de Juls por um segundo. Então, deslizou seus dedos pela nuca dela e a puxou para um beijo gentil e demorado. O tempo ficou suspenso entre elas, e os segundos perderam o sentido e a importância, como só pode acontecer quando duas pessoas que se amam se confinam uma na outra.

— Parece que você está melhorando. — comentou Juliana, rindo em seguida, com as bochechas vermelhas.

— Continue me beijando assim e a febre vai aumentar ao invés de diminuir. — respondeu Valentina, acompanhando as gargalhadas da namorada e a puxando para mais um beijo.

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Ao invés de seguir pela avenida que atravessava quase todos os dias para chegar até a Arce, Juliana deu seta para a esquerda e virou o volante, entrando em uma rua comercial íngreme. Enquanto avançava pelas lojas de portas largas e toldos coloridos, não conseguia parar de pensar em Val. Embora a namorada tivesse passado o fim de semana tentando tranquilizá-la, tinha consciência de que a febre que não cedia não era um bom sinal. Sabia que Valentina era suscetível à ideia de se sacrificar por um bem maior, e possivelmente enfrentaria as visões de sua vida passada até as últimas consequências para garantir que o universo não esperava um ato heroico dela — mesmo que isso custasse sua saúde, o que Juliana não estava disposta a permitir.

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