Ceres - O Retorno Da Escuridã...

By erika_vilares

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TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE AS ADAGAS DE CERES Após o hediondo banho de sangue e o regicídio ocorrido no reino no... More

Prólogo
Capítulo Um - Parte I
Capítulo Um - Parte II
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Conspirações Cerianas agora no INSTAGRAM!
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Capítulo Vinte e Sete
Capítulo Vinte e Oito
Capítulo Vinte e Nove
Capítulo Trinta - Parte I
Capítulo Trinta - Parte II
Capítulo Trinta e Um
Capítulo Trinta e Dois
Nos capítulos anteriores das Adagas de Ceres...
Capítulo Trinta e Três
Capítulo Trinta e Quatro
Capítulo Trinta e Cinco
Capítulo Trinta e Seis
Capítulo Trinta e Sete
Capítulo Trinta e Oito
Capítulo Trinta e Nove - Parte I
Capítulo Trinta e Nove - Parte II
Último Capítulo - Parte I
Último Capítulo - Parte II
Último Capítulo - PARTE III
Agradecimentos + Novidades
PRÉ VENDA

Capítulo Vinte

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By erika_vilares

Capítulo Vinte

Marry me - Hans Zimmer and Henry Jackman

Os ariscos olhos vermelhos acastanhados de Amélia Norwood fixaram-se incredulamente sobre as duas figuras que, diante a eles, se mostravam. Após o descobrimento do assassinato naquela madrugada, seu coração paralizara ao ouvir as palavras de Kaleb sobre os possíveis culpados do crime: um tinha cabelos ondulados, claros como o sol e olhos azuis, quanto ao outro, cabelos acastanhados e olhos surpreendentemente amarelos. Traços dessemelhantes naquela região secreta nos extremos de Reynes. Entretanto, particularidades marcantes de dois próximos dela. Demorou então a raciocinar com clareza, mas quando a ideia encorpou-se e martelou sua cabeça, somente acreditou que descansaria após ver os crimosos.

"Eles não podem vê-la, podem reconhecê-la" Kaleb, com aquele tom reprovador, tentou convencê-la que era uma péssima ideia.

"Eu não tenho outra escolha, se forem eles? Me reconhecerão de qualquer maneira, e eu não pretendo somente ter a certeza quando for tarde demais para salvar a vida deles!" Seu tom sempre parecia ser convincente sobre ele, mas daquela vez, Kaleb tinha mais de mil motivos para recusar seu pedido, após os problemas que a princesa tinha se metido nas últimas luas. Contudo, apenas a ideia de rever aqueles que por tanto tempo sonhou, Mia decidiu apelar para os sentimentos. Assim, convenceu Kaleb de trazê-los até ela com a condição que, somente após ele confirmar outros traços dos suspeitos, ela poderia vê-los.

"Eklissi, creio que sejam eles" Kaleb então dissera, e seus batimentos pareceram falhar, todos de uma vez.

Virou-se com fraqueza e fitou com os próprios olhos os assustados semblantes de Thor Mezaros e de Lucky Berbatov.

Sua respiração descompassou, ao ponto que Mia precisou de segundos para crer que aquilo não era mais nenhum de seus sonhos. Era de fato o príncipe e o ladrão diante sua visão. Ela deu um passo a frente olhando fixamente para o choque de ambos, aparentavam mesmo estarem levemente ébrios.

Sentiu assim seu corpo responder por si. Atravessou a sala em passos urgentes e pulou para os braços de ambos, envolvendo-os num afetivo necessitado abraço.

Suspirou arduamente forte ao sentir lentamente o braço de cada um contornar sua cintura. O toque dos homens que mais marcaram não somente sua vida, como seu coração. A incredulidade perseverava vorazmente, as dúvidas eram incontáveis e a respiração mais difícil que jamais fora.

– O que vocês dois fazem aqui, juntos? – questionou, quase sem folego, incapaz de esconder a emoção e a descrença de sua voz comovida. Mia sabia que tempo era atualmente seu pior inimigo, por isso rapidamente soltou-os e respirou fundo, esperando controlar o choque que podia sentir a flor da pele. – Deuses, como vocês chegaram aqui? Alguma outra pessoa sabe sobre esse lugar?

Os dois pareciam demasiado atordoados para responder, e tinham razão. Não sabia o quanto tinham visto do local, mas era o suficiente para deixá-los perplexos. A maneira como ela estava vestida não deveria ajudar. Os grossos cabelos estavam parcialmente presos, com longas tranças perdidas em algumas mechas cacheadas, a pintura preta sobre os olhos deveria estar borrada pelos acontecimentos das horas precedentes. As roupas escuras, o couro, os acessórios de espinho. Nada parecido com o que eles já teriam visto para a princesa nortenha.

Eles também não aparentavam como ela os vira pela última vez, no baile que teria mudado para todo sempre sua vida. Ambos com barbas a fazer, cabelos desgrenhados, peles soadas devido o calor dos sacos que lhes cobriam a cabeça e cheiravam a álcool puro. Mas, conservavam em si a beleza que ela lembrava-se de cada um.

– Você não é uma prisioneira – Lucky ligeiramente remarcou com um tom desconfiado, fitando-a de cima abaixo. A voz tanto tempo ausente lhe provocou arrepios involuntários.

Ela o fitou fixamente pela primeira vez, de perto e firmemente. Os olhos amarelados ansiosos e confusos aparentavam penetrar seu ser, o que fizera Mia velozmente desviar o olhar, ao sentir a reação do coração pulsando os batimentos, e respondeu:

– Há muita coisa para se explicar...

– Não nos resta muito tempo, Eklissi – Kaleb alardeou, ganhando um olhar transtornado dela.

Imaginara por inúmeras vezes aquele encontro, mas nos seus sonhos, se fariam numa altura melhor. Menos turbulenta, onde pudessem sentar-se e discutir sobre os divergentes caminhos que a vida de cada um tomara. No entanto, aquilo estava longe de corresponder com a realidade.

– Eu sei que vocês não foram responsáveis pelo assassinato de Jarrah. Mas, eles não. Agora vocês serão julgados por isso – ela enunciou, arfante. A pressão no peito crescia e Mia olhou Kaleb, extremamente aflita. – Vocês apareceram realmente numa hora terrível.

– Numa hora terrível? – Lucky repetiu, franzindo o cenho. – Você tem alguma ideia de quanto tempo nós estamos procurando por você e o que passamos para dizer que aparecemos numa hora ruim?!

– Vocês não tem ideia do que está acontecendo nesse momento, nesse lugar! – Ela rebateu num tom mais rude.

– Afinal, Mia, onde estamos? – Thor quis saber, mantendo o tom calmo que ele sempre conseguia ter, mas que não durou muito tempo. – E o que diabos aconteceu com você nesses meses?

– Vocês estão na verdadeira tribo dos Kadawgis. Eu não tenho tempo de explicar o que aconteceu nesses meses, vocês passarão por um julgamento!

– Nosso julgamento inclui corpos inteiros ou praticarão canibalismo antes? – Lucky quis saber, com um ar emburrado.

– Eles não são animais – Mia replicou, ofendida.

– Não foi a impressão que eu tive quando eu os encontrei horas mais cedo, com os ossos pendurados e essas pinturas ridículas – ele apontou implicantemente para o rosto dela.

– Você pode fechar a boca e me ouvir? – Ela elevou a voz, lembrando-se rapidamente como Berbatov podia ser irritante. – Estamos a beira de uma guerra!

– Ah, não me diga. Reynes está em guerra desde sua morte, princesinha.

– Eu não estou falando dessa guerra! – Amélia rebateu, irritada. – A tribo dos Kadawgis está atualmente dividia. Os filhos do sol estão num intenso conflito com os filhos da lua. E se isso não fosse o suficiente, um clã vizinho está a beira de entrar numa guerra conosco. E eu não tenho ideia do que posso fazer para salvar a vida de vocês, sem dar início a uma guerra.

– Você é a profecia deles, eles não a ouviriam? – Thor parecia confuso.

Amélia balançou a cabeça.

– Como eu disse, há muita coisa que devo explicar e pouco tempo nos restando  – Mia suspirou atordoada, tentou manter a calma interna, mas sentiu o desespero crescer. Revirou seu olhar para Kaleb, que parecia ler o que estava atualmente na sua cabeça, e ele balançou a cabeça em negativa. – Eles irão matá-los! – ela insisitiu.

– Você conta o que fizera e eles matarão não somente seus amigos, como nós dois. E isso começará definitivamente uma guerra.

– Eu não os deixarei morrer! – ela ladrou. Sabia que não tinha direito de lhe pedir algo daquele tipo, mas era inteiramente incapacitada de deixar a vida do príncipe e do ladrão dependentes de um extremo mal entendido.

– Eklissi, sairemos daqui e falaremos com Altair. Ele será o orador do julgamento e ele terá a palavra contra a de Caliana.

Ela levou as mãos aos cabelos, o tempo estava passando e as escolhas eram escassas. Para seu pior pesadelo, seria Caliana que estaria pronta para empalar ambos vivos.

– Quem é esse homem e por que diabos ele não para de chamá-la assim?! – Berbatov inquiriu, impaciente, demonstrando um súbito tom ciumento.

A princesa atirou um olhar feio para o ladrão, ele não estava em posição de questionar nada. Ela aproximou-se de Kaleb e prosseguiu:

– Falaremos com Altair. Se nós não voltamos antes do início do julgamento, vocês devem manter vossas bocas fechadas e somente responder com cuidado qualquer pergunta que seja feita.

– O que devemos dizer? – Thor quis saber, inquieto.

– Que são meus amigos e que se estão aqui, foi porque vieram a minha procura. Nada mais. Eu sinto muito por deixá-los de tal forma – ela murmurou, intercalando seu olhar entre os dois, mas somente tinha mais confiança em olhar para o príncipe. – Mas, suas vidas correm perigo. E a única maneira que posso ajudá-los exige que eu me apresse para sair daqui.

Eles a fitaram silenciosamente quietos. Sem saber o que mais deveria acrescentar, ela seguiu para as escadas. Sentiu repentinamente a mão de Thor rodar por seu pulso.

– Prometa que não desaparecerá novamente – ele pediu numa voz mansa, fazendo por meros segundos que ela sorrisse.

– Não irei. Encontrarei um modo de salvar a pele de vocês – Mia assegurou,  e saiu as pressas da sala junto de seu companheiro.

Ao sair da sala de reuniões, eles andaram em passos urgentes sobre a terra congelada do vilarejo. O sol ainda não tinha chegado ao céu, então o lusco-fusco tomava conta do local deixando o mar de tendas mergulhado na escuridão.

– Eles devem realmente amá-la – Kaleb não deixou de comentar, mesmo com a correria. – Para encontrá-la aqui.

Amélia não quis responder, a agonia que pulsava em seu peito estava cada vez mais preocupante. Do que importava aquele amor se eles estavam a beira de perder suas vidas por ele? Ela inspirou fundo e apertou os passos, ultrapassando o amigo.

– Altair – ela gritou ao adentrar a tenda, vendo que ele não se encontrava na parte de cima, a princesa dirigiu-se diretamente para a passagem que levaria para sua casa no subterrâneo. Bateu agressivamente na porta de ferro que cobria as escadas secretas, uma, duas vezes.

Ouviu o som metálico da tranca se mexer e afastou-se para dar passagem a abertura da porta que se localizava no próprio chão.

–  Filhos da Lua não significam passagens livres para reuniões noturnas – Altair repreendeu com a voz gutural avisando os dois na parte superior.

– É uma urgência – ela implorou, fitando primeiramente sua cicatriz facial, depois seus olhos. – Jarrah kan Hakan foi assassinado.

O queixo do homem caiu, e com uma expressão de espanto, abriu a porta. Precisou descer as escadas para dar espaço para eles adentrarem. Todo o vilarejo tinha sido construído com casas altamente preparadas para uma possível invasão. Por isso, as tendas construídas acima da terra tinham como única função levar para as casas feitas abaixo da terra que eram extremamente seguras. E por ser numa região remota, o inverno era sempre denso, permitia que as moradias fossem naturalmente mais aquecidas uma vez que ficavam abaixo da terra.

– Como ele foi assassinado? – Ele quis saber, com as sobrancelhas caídas e tristonhas. Apesar dos conflitos, Altair nutria grande afeto pelos gêmeos filhos do sol.

Mia olhou para Kaleb, receosa de revelar a verdade. Mesmo que o líder dos filhos da lua fosse contra a guerra, certamente repudiaria o ato da princesa impulsivo e com extremas consequências.

– Eu e Kaleb queríamos ficar sozinhos essa noite – ela deu início a mentira, recebendo uma feia careta dele. – Então nos afastamos do vilarejo, eu sei, fora errado. Mas, queríamos um pouco de paz.

Altair suspirou, repreendendo somente com os olhos escuros as palavras dela. Todos já sussurravam suas dúvidas sobre aquilo, afinal Kaleb não era somente o único dentre os filhos do sol que tinha dado uma chance para Mia como o único que tornara-se seu verdadeiro amigo e mentor.

– E quando estávamos na montanha, ouvimos gritos. Corremos para ver, e subitamente vimos um grupo se afastar de um cadáver. Tentamos nos aproximar para descobrir quem era que jazia ao chão, entretanto fomos coagidos ao ver a aproximação de um segundo grupo que vinha pelas colinas.

– Pelo mar?

A alegação era insana, obviamente, a travessia pelo mar somente era feita por conhecedores da rota. Mas, Mia assentiu, pensando que não haveria outra forma de Thor e Lucky terem chegado aquele lugar.

– São meus amigos – ela apressou-se em explicar. – Chegaram nessas terras propositalmente para me encontrar. Eles se aproximaram e quiseram ver o corpo, porque certamente também tinham ouvidos os gritos. Mas, aquilo fora tempo o suficiente para a Patrulha dos Sóis alcançá-los e prendê-los pelo assassinato de Jarrah! Agora, eu e Kaleb que nem mesmo deveríamos estar fora do vilarejo quando encontramos o corpo, não sabemos quem fora o verdadeiro responsável pelo assassinato de Jarrah, mas eles culparão meus amigos. Caliana condenará ambos a morte!

Altair sentou-se na sua mesa que enfeitava seu salão e ponderou taciturnamente.

– Acreditam que os montantes tenham responsabilidade nesse assassinato? – Ele quis saber.

– Eu não sei, mas isso é o mais provável – depois do que ela fizera, não tinha dúvidas que eles eram os responsáveis, mas era necessário evitar alegações concretas.

– Será a faísca necessária para começar a guerra – Altair murmurou, inquieto.

– Talvez eu possa falar com Caliana, pedir indulgência por seus amigos e tentarmos descobrir quem fora o verdadeiro assassino de Jarrah antes que comecem uma guerra – Kaleb sugeriu.

– Caliana me odeia e você sabe disso. No momento que ela descobrir que eles são meus amigos, ela tentará me atingir – Mia rosnou.

– Mas, ela quer a guerra. E isso seria a melhor desculpa.

Mia arregalou os olhos para Kaleb, mordendo o lábio inferior para não xingá-lo. Ele não poderia fazer uma incitação a guerra depois de tudo que eles arriscaram para aquilo não acontecer.

– Jasper não aceitará isso – Altair previu. – Exigirá vingança pelo ocorrido com o irmão.

– Isso poderá nos fazer ganhar tempo – Kaleb deu continuidade. – Faremos um encontro com os montantes e pediremos os assassinos de Jarrah. Sangue por sangue. Faremos tudo de forma justa.

O líder dos filhos da lua balançou a cabeça, atordoado.

– Se os montantes assassinaram Jarrah sem razões, abandonando o corpo e deixando os ossos, isso significa que eles queriam que nós o encontrássemos. Eles querem sangue por sangue, mas não creio que somente de seu assassino. Eles darão início a guerra – Altair analisou os fatos, assim tornou a fitá-la. –Eklissi, eu sinto em dizê-lo, mas não acho que serei capaz de salvar seus amigos.

O coração de Mia parou por segundos e tornou a bater com força.

– O que? Eu não posso perdê-los – ela murmurou, incrédula.

O líder se levantou e confessou:

– Isso levará filhos do sol e filhos da lua num conflito mortífero. E nem mesmo depois dessa guerra poderemos seguir para nosso principal objetivo. Guerras exigem sacrifícios.

– Então porque eu sou a única que está pagando por esses sacrifícios? – Amélia questionou com um azedo no paladar, sentindo a súbita raiva no peito. – Eu perdi meus pais, perdi meu reino, arrancaram de mim todos quem eu amo.

– Assim como nos fora arrancado tudo que amamos dezoito anos mais cedo – ele rebateu, severamente. – Mães, filhos, irmãos, pais. Todos aqui possuem traumas incuráveis, Eklissi. Você não é a única a se beneficiar deles. Esses homens não deveriam estar aqui em primeiro lugar.

Os olhos de Mia encheram-se de lágrimas.

– Lealdade – ela aproximou-se dele. – Lealdade é a força de nossos punhos, lembra-se? Sem ela, nossa luta não sempre será vã, como nossos fins serão vazios. Você me ensinou isso.

Altair olhou em seus olhos irrevocáveis.

– Sacrifiquei muitas coisas pelo que vocês me fizeram, mas Thor e Lucky não são uma delas. Eles foram uma das poucas coisas que me restaram e eu não estou negociando, exijo que eles vivam! Eles morrem, e vocês me perderão por completo. Nenhuma outra ameaça surtirá efeito. E eu nunca fui tão séria em minha vida.

As palavras de Amélia causaram por completo silêncio na sala.

Altair, abandonou os ombros aprumados e suspirou:

– Farei o possível.

– Está na hora do julgamento – ela terminou, dirigindo-se para a saída empertigada, mas com o coração inchado contra o peito. Não sabia o que aconteceria nas horas seguintes. Era cruel pensar que a melhor das hipótese eles seriam inocentados e levados de volta para Helkser.

Como poderia ficar sem vê-los novamente? A saudade tinha sido um fúnebre companheiro que lhe assombrara durante todos aqueles meses, a dor de acreditar estava sozinha durante aqueles meses fora dilacerante.

"The real North" - Game of Thrones theme

Amélia tinha sido marcada por todo o resto de sua vida pelo dia no qual ficara conhecido como Baile de Sangue. Era simplesmente inesquecível a maior tragédia de sua vida. Durante a juventude era acordada por violentos pesadelos onde Mia trazia a morte para sua família. Os pesadelos que lhe despertavam na calada da noite atualmente eram na realidade memórias lancinantes que lhe assombrariam por toda a vida, responsáveis também por alimentar um sombrio desejo de vingança.

Lembrava-se como o olhar turvo demorou agonizantemente para se focar em algo. Quando os olhos aturdidos responderam ao desejo insaciável de sair da escuridão interior, Amélia focou na primeira imagem que enfrentou seu campo de visão: uma exótica cabeceira. Era como delicados ramos de árvores que se abraçavam, se entrelaçavam e juntos, subiam aos céus, ou melhor, ao teto.

Assustada, Mia não reconheceu onde estava, e com uma extrema dificuldade, tentou erguer-se na cama, mesmo que sentisse o corpo petrificado. Era como se tivesse sido surrada, estava com os sentidos a flor da pele e qualquer toque era razão de espasmos e arrepios. Deslizou sobre uma maciez sem tamanho, uma grande pele de urso albino estendia-se sobre a imensa e desconhecida cama. Todavia, até mesmo sentir um toque suave lhe causou calafrios.

Ela conseguiu em seguida mexer sua cabeça e examinou atenciosamente o recinto onde se encontrava. Uma decoração rústica, mas diferente de tudo que ela vira. Os demais adereços eram exóticos, os poucos móveis eram extremamente bem desenhados, com minúsculos detalhes que somente poderiam ser feitos por grandes artesões. Avistou então uma única saída: a grande e pesada porta de ferro. Desprovido de qualquer janela. Quis saber se o propósito daquele quarto era somente de manter alguém preso. Ela colocou seus pés no chão, nus, e acariciaram o espesso tapete de linho.

Amélia trajava algo parecido com uma camisola, entretanto demasiado aberto nos braços e nas costas. Foi assim que percebeu diversas pinturas ao longo do corpo. Subitamente perdeu o ar do peito.

Ela estava confusa e atordoada, sem saber onde se encontrava, mas lembrando-se dos momentos sanguinários que vivera em Skyblower. A cada vez que piscava seus olhos, uma nova memória lhe surgia. E sua mente se fixou na sua mãe, que engasgava-se com o próprio sangue e tocava na barriga, na esperança de salvar seu filho.

Um choro doloroso saiu de sua boca, e junto dele viera um intenso medo.  Amélia, por um olhar de soslaio, avistou o candelabro que abeirava o criado-mudo, onde uma vela enaltecia a chama que lhe queimava.

Uma forte pontada atingiu sua cabeça, e ao tocar sua pele, percebeu a quentura, assim Mia lembrou-se do fogo. Em seguida de todos aqueles que ela tinha machucado. A imagem de Berbatov estava entre eles. Lembrava-se quando ergueu sua mão em sua direção e depois, nada mais.

Arfou, descontroladamente. Teria ela o matado?

Ela gritou, gritou toda sua dor, esperando que aquela fosse embora, mas era intensa e profunda. Estava cravada na sua pele, corroendo seu corpo, perfurando sua alma.

Era a dor que Mia nunca mais esqueceria.

A princesa aprumada, mas com uma imensa dificuldade para respirar, adentrou a sala onde ocorreria o julgamento, junto de Kaleb e Altair. Desceu as escadas e se deparou com a agonizante cena de ver Thor e Lucky presos sobre o cadafalso, com grilhões os prendendo-os contra o poste. Não era a primeira vez que via alguém amarrado ali, mas as duas vezes precedentes resultaram no mesmo destino: a morte. O olhar de ambos era penetrante e a confusão estava explícita. Foi obrigada a desviar seu olhar deles, e sentar-se num dos assentos ainda disponíveis. Em seguida, as escadas tornaram a ranger e Mia não demorou a ver a face de Caliana kan Hakan surgir.

Os sussurros subitamente se erradicaram com a chegada da mulher, a líder dos filhos do sol. Os traços de seu rosto eram rudes, as sobrancelhas marcantes, o nariz pontudo e os lábios largos. Os olhos exalavam fúria, e a altura marcava presença, uma mulher grande e espadaúda.

Quando as portas acimas foram fechadas, o julgamento tivera seu início.

Caliana, não surpreendentemente, tomou a palavra. Iniciou o discurso com uma voz pesada e agressiva no idioma local, o qual Amélia ainda tinha pouca familiaridade, porém Kaleb se esforçava para ensiná-la. Compreendeu partes do que dizia, mais por dedução do que conhecimento da língua: estavam reunidos naquela manhã pelo assassinato brutal de Jarrah.

Seguidamente a mulher virou-se para os julgados e acrescentou num tom gélido algo sobre os acusados. Certamente que eles estavam ao lado do corpo quando fora encontrado pela patrulha dos Sóis, e que Berbatov empunhava uma espada.

– Uma espada sem sangue – Altair acrescentou no idioma comum, levantando-se de seu assento. – Falaremos numa língua onde todos têm conhecimento. Afinal, os participantes não são nativos de nossas terras, visivelmente não fazem parte dos Montantes e nem mesmo do povo de Mareen. Eles vieram pelo mar.

Mia viu ambos lados trocarem um olhar pasmo.

– Deixe-me adivinhar – Caliana, arqueando as expressivas sobrancelhas e cruzando os braços, pronunciou numa voz menos agressiva na língua comum, mas não deixava de ser fria. – Eles vieram a procura da filha do Eclipse.

Então, todos os olhares se direcionaram para a princesa. A líder dos filhos do sol era sagaz e não tinha deixado passar a troca de olhares da jovem com os prisioneiros.

– Sim, eles vieram a procura dela. Mas, isso não quer dizer que eles tenham sido responsáveis pela morte de um filho do Sol. Estavam perdidos e ouviram gritos, tal como a patrulha.

– Dois intrusos mataram um dos nossos no intuito de salvar aquela que chamaram de nossa prisioneira – Caliana retomou a palavra no idioma deles, de forma raivosa. Mas, deu a continuidade na língua comum, ao direcionar o olhar congelante para a princesa, certamente no intuito que ela entendesse cada palavra que saía de sua boca.

– Os Filhos da Lua sequestraram essa menina, a infiltraram aqui contra nossa autorização. Engolimos isso. E aqui estamos, com dois intrusos sob nosso teto. O que será no nascer do sol? Um exército sulista marchando pelo Vale?! Em nome do quê? De uma profecia que a única coisa que nos trouxera fora milhares de mortes, dor, sofrimento.

– Caliana, pare com isso. Você, como muitos dos Filhos do Sol, não quer se responsabilizar pelo fardo que nossos ancestrais foram responsáveis – ele disse, aproximando-se dela.

Mia agora era um fardo.

– Eu não tenho dívidas com mortos, minha dívida é com os vivos, Altair.

Os dedos da princesa já estavam cravados na pele de sua mão, os punhos serrados tremiam, quando Kaleb lhe tocou.

– Controle-se – ele pediu, num sussurro discreto. – Há muita coisa em jogo para perder.

Mia o fitou pelo canto do olho, e tentou respirar fundo. Foi quando percebeu que eles estavam sendo observados, não somente pelos prisioneiros, como por Caliana.

– Meus irmãos são filhos do Sol, guerreiros indomáveis não precisam de uma profecia que crescera num castelo sendo servida por inúmeros criados. Nascer sendo filho do Sol é nascer para saber lutar. Não receberemos ordens de ninguém que carrega unicamente um símbolo no pulso como vocês, filhos da Lua. Não é essa menina que me representará! Pouco me importa se ela é ou não a reencarnação de Ceres, filha de um Eclipse – Caliana gritou para todos na sala, arfante e raivosa.

– Vejam só o que sua chegada já causou, o estopim da nossa divisão. A morte de mais um dos nossos, Jarrah. Um grande homem morto covardemente pelo aço. Um assassinato ocorrido na mesma noite da chegada desses intrusos. Sem demais suspeitos. Estou errada, Altair? – Caliana quis saber andando para o centro do salão, deixando seu olhar penetrar no líder dos filhos da lua.

Amélia o fitou, e sentiu o ar de seu peito sumir quando a resposta do líder dos filhos da Lua não viera. Ele não respondeu a questão, abaixando o olhar.

Ele escolhera evitar a guerra, mesmo que isso sacrificasse mais vidas inocentes.

Caliana, deu um meio sorriso, e finalizou:

– Fora um crime cometido em nossas terras, contra os Filhos do Sol. Por isso, nós escolhemos a pena de morte. Aquele que empunhava o aço, será flagelado até a morte, o outro pelo aço.

Altair não protestou, e a princesa perdeu momentaneamente os sentidos pela decisão tomada. A líder pareceu degustar da expressão atônita de Mia, sorriu sardonicamente e lhe deu as costas.

– Encerro a reunião de hoje.

A mulher se direcionou para a porta juntos dos seus seguidores.

– Não, essa reunião não está encerrada! – Amélia se pôs de pé e disse em voz alta e Caliana parou, surpreendida pela contestação.

– Você não conhece nossa tribo, não conhece nossas leis, por isso deveria saber que forasteiros que cometem crimes em nossas terras, devem ter como punição a morte.

– Posso não conhecer todas as regras, mas conheço uma. Há direito de veto sobre uma decisão por meio de Combate... Um combate até a morte.

Ela sorriu, perversamente.

– Filhos da Lua lutam unicamente com Filhos da Lua. E Filhos do Sol lutam unicamente com Filhos do Sol. Magia não se mistura com luta física, menina. E que eu saiba, você está com os Filhos da Lua. Não há Filhos da Lua no meu clã para aceitar o seu desafio.

– Eu – uma terceira voz preencheu a sala e Caliana empalideceu quando seus olhos raivosos pousaram sobre Kaleb. – Eu, Kaleb kan Hakan irei lutar em nome dos Filhos da Lua. Aceito o desafio.

– Kaleb – Caliana mal conseguiu pronunciar seu nome –, você não pode.

– Sim, eu posso. Ainda sou um Filho do Sol e estou disposto a aceitar o desafio e lutar pelos filhos da Lua – ele disse, um tanto consternado.

Mia sabia que de alguma forma, Caliana era importante para ele, deveria quebrá-lo tomar aquela decisão. A líder dos filhos do sol, por sua vez, estava perplexa e não soube esconder suas emoções.

– Não. Kaleb não irá combater por estes homens, nem em meu nome – a voz de Mia cobriu a cena, fria e decidida. Desde sua chegada, Kaleb vinha perdendo muita coisa por ela. Sua vida não seria uma delas. – Eu como filha do Eclipse pertenço tanto aos Filhos da Lua como aos Filhos do Sol. Então eu, Amélia kan Eklissi, estarei aceitando o desafio do Combate.

Lucky e Thor arregalaram os olhos.

– O que? – Altair e Kaleb pronunciaram em uníssono.

Caliana sorriu, superiormente.

– Acredito que você não entendera como nós, filhos do Sol, somos. Nascemos lutando destinado a sermos guerreiros invencíveis. Por isso não temos permissão para lutar com um Filho da Lua, não seria justo. Esses meses você foi treinada unicamente por eles, a controlar magia, o que você não terá direito de usar no Combate.

– Não precisa recitar regras as quais já tenho conhecimento. Lutarei até a morte com um Filho do Sol. Prefiro que me diga algo que não sei: quem estará lutando comigo.

O silêncio no salão foi completo, ninguém respondeu sua pergunta.

– Quem será meu desafiador? – Ela tornou a questionar numa voz mais firme.

– Eu – rosnou Caliana.

– Você não pode – Altair disse, subitamente profundamente. – Sofrera um aborto há três luas, não está saudável para participar do Combate.

– Não cabe a você decidir isso por mim – ela ladrou.

– São regras, os lutadores devem estar sadios para o Combate. Para o direito de veto por Combate, precisamos de um Filho do Sol que esteja apto a participar.

– Eu, Yasir kan Hakan, me candidato ao Combate.

Amélia direcionou o olhar para quem tomara a palavra, era um homem que já vira diversas vezes. Costumava lhe soltar diversas provocações quando os seus caminhos eram cruzados. Alto e forte, seu mais novo rival.

Ela guardou o suspiro no peito e direcionou seu olhar para Thor e Lucky, que tinham seus olhos arregalados e imploravam com a cabeça para que ela não fizesse aquilo, porém era a única maneira de salvar a vida deles e não perder a de Kaleb no caminho.

– Ora, ora, a tribo dos Kadawgis verá hoje pela primeira vez um filho do sol enfrentar a única filha do eclipse já existente – Caliana deixava o sarcasmo liderar seu discurso. – Eu mal posso esperar.

+++
The night is Dark and full of terrors - Melisandre's theme soundtrack

Os olhos de Amélia assistiam a multidão agitada se formar a volta dela e de seu adversário, que estava em pé ao seu lado. Ela, pela primeira vez, via os Filhos da Lua misturados com os Filhos do Sol. Kaleb lhe dissera que nem sempre fora assim, eram um povo unido. Mas as divergências de opiniões sobre a Filha do Eclipse fizeram com que os povos se separassem. Somente alguns filhos do Sol continuaram ao lado dos da Lua, entretanto Kaleb fora o único sobrevivente desde o sequestro da princesa do Norte.

Mia sentiu o coração machucar o peito quando viu o príncipe e o ladrão serem arrastados para o patíbulo, onde eles teriam uma visão privilegiada do Combate e da provável morte dela. Assim que sua derrota fosse anunciada, os dois ficariam pendurados por uma corda. Não sabia se estava certa em pensar que uma morte por sufocamento seria menos dolorosa que ser cortado vivo ou flagelado até a morte. Mas, a decisão de Combate ao menos serviria para lhes entregar uma morte mais digna, talvez quebrassem o pescoço na queda.

Não sabia como eles conseguiram chegar até ali, mas lhe cortava o coração saber que se morresse durante a luta, não teria a chance de explicar a decisão mais injusta que tivera para aqueles dois homens.

Os pares de olhos preocupados pousaram sobre ela enquanto tinham o pescoço contornado por uma grossa corda de sisal e as mãos atadas.

– Me perdoem – Mia pronunciou por leitura labial. Se perdesse, eles morreriam por não ter desistido dela. Aquilo era cruel demais para pensar.

A princesa obrigou-se a desviar o olhar, fixou-o no chão, e tentou respirar o ar que não adentrava os pulmões.

– Hoje assistiremos um combate inesperado entre Mia kan Eklissi, e Yasir kan Hakan. A Filha do Eclipse luta em nome de dois forasteiros acusados da morte de Jarrah – assim ela ouviu o público vaiá-la. – Yasir luta em nome de Jarrah kan Hakan.  O Combate acabará em morte. Que os Deuses estejam do lado do melhor.

A dificuldade para respirar apenas agravou-se. E estava impregnado na cabeça que tinha em mãos a vida de Thor e Lucky, perdendo a cada segundo toda a coragem.

Não estava pronta para um Combate não contra ninguém da tribo dos Kadawgis. Seu treinamento militar servia-lhe como base, mas as poucas ocasiões que Kaleb tentou ser seu instrutor, Mia rapidamente apercebeu-se que aquele modo de luta era desigual a tudo que conhecera. Um perfeito equilibro entre força, agilidade, precisão e determinação. Entretanto, era incapaz de aceitar mais mortes em seu nome.

Kaleb unicamente lutaria por ela ter começado aquela história de Combate, pouco conhecia Thor e Lucky, somente pelas histórias que ela contava. A princesa também sabia que se Caliana assistisse a morte de Kaleb, ela nunca iria conseguir conquistar os Filhos do Sol.

Yasir tinha a mesma altura que Kaleb, mas ainda tinha um peitoral e braços mais largos que ele. Sabia que não era um dos melhores guerreiros, mas ainda assim lhe causava relutáveis arrepios de medo.

A multidão gritou, não torciam para ninguém nas palavras, talvez apenas quisessem ver sangue ser derramado.

Até o momento, Mia não tinha olhado nos olhos do homem que deveria matar, mas ele estava energizado com a plateia. Levantava os braços, urrava. Lutaria com uma garota que todos sabiam que não tinha chances contra um Filho do Sol.

– Que comecem o Combate!

Yasir fez um brusco movimento que quase fizera Mia saltar, mas ela controlou o impulso e rangeu os dentes. Ele tinha apenas se afastado para buscar sua arma. Um péssimo início para o combate.

Ela seguiu até aquele que cuidava de suas armas. Kaleb era um dos únicos que estava fora da multidão que os cercava. Uma das mãos segurava uma lança, na outra uma espada bainhada. Kaleb não escondia inquietação.

– Mia não faça isso – pediu, a inquietação na voz era palpável.

Ela atirou rapidamente um olhar para o príncipe e o ladrão a um passo da morte.

– Eu não tenho escolha. – Mia aproximou sua mão e escolheu a espada.

– Deixe-me então lutar – Kaleb insistiu, segurando a arma.

Com um longo suspiro, ela limpou a voz:

– Você morre e eu nunca conseguirei unir a tribo dos Kadawgis.

– Você morre e a guerra estará perdida – ele rosnou de volta, aproximando seu rosto. – Tudo que fizemos até agora não terá valido de nada. Tenho mais chances de ganhar isso. Yasir, não é um bom guerreiro, demasiado teatral, mas é conhecido por empalar suas vítimas.

Mia abaixou seu olhar, engolindo em seco, e inspirou fundo. Era tarde demais para voltar atrás, mesmo que o pavor estivesse lhe sufocando por dentro.

– Me perdoe.

A princesa arrancou a espada da bainha e tornou as costas para Kaleb, virando-se para o rival que já sorria. Eles se encontraram no centro, o guerreiro do Sol tinha escolhido uma lança. Empalador, não era mesmo?

– Se você lutar bem, te darei uma morte rápida – Yasir sussurrou, com um grande sorriso.

Tudo que precisava era pensar nas diversas provocações que ouvira da sua parte. Mesmo não dizendo na língua local, o olhar e a expressão eram sugestivas, acompanhados sempre de uma onda de gargalhadas.

– Farei a lança atrevessar essa sua bunda – ele pareceu relinchar, gargalhando da própria grossseria.

Yasir estava em posição de ataque, mas esperava um movimento dela. Mia esperou, lembrava-se do que seu primeiro treinador, Sor Lutalo, dizia: "O adversário experiente sempre deixará você mostrar seu primeiro ataque".

Mia então não atacou, não queria dá-lo aquele gosto. Se morreria, seria irritante até a morte.

– Vamos, princesinha. Não tenha medo. Eu só mordo.

Ela rangeu o dente, expirou e inspirou. Não se deixaria provocar.

Yasir riu, mostrando os dentes amarelados.

– Tem medo garotinha? Somente tivera coragem para entrar no desafio? Como acreditou que seria o combate? Contaríamos flores? – O guerreiro riu com escárnio. – Ou teme uma lança na bunda?

– Faria melhor de fechar essa sua boca e lutar – ela ousou dizer.

O guerreiro seguiu sua ordem, içou a lança pronto para deferir um primeiro golpe pela esquerda. Mia rapidamente defendeu o ataque e rodopiou, acertando a espada no braço dele, entretanto não viera com a necessária força para ferir a armadura de couro. Os Kadawgis nunca usavam armaduras metálicas, não abriam mão da agilidade que poderiam ter com o corpo.

Yasir rosnou.

– Bom primeiro golpe – o guerreiro levantou os braços e atingiu a princesa com quatro golpes pesados contra sua espada, fazendo involuntariamente Mia recuar. Acertou o último de raspão, abrindo um pequeno corte na maçã de seu rosto.

Ela quis investir, avançou com impulso e fez a espada trincar no cabo da lança, tentou outros movimentos, mas todos eram rebatidos pela longa e bem manuseada arma. Percebeu rapidamente uma mão rodar em seu pescoço e a princesa foi lançada bruscamente ao chão, como uma boneca de pano.

Mia rolou e sentiu a terra fria invadir a boca. Arfou, cuspindo.

Yasir rodou com os braços arqueados, a multidão gritou junto. A princesa apoiou-se sobre as pernas e as mãos para levantar o corpo já dolorido. Firmou os trêmulos dedos sobre o cabo da espada.

Ao vê-la rapidamente em pé, o guerreiro do sol correu em sua direção com a lança erguida e cortou o ar, ela desviou do golpe e agilmente precisou desviar do segundo.

Perdeu o ar, mas ainda assm tentou contra atacar. Fez a lâmina da sua espada deslizar na direção dele, o golpe fora mais lento do que queria. Yasir rodopiou e abriu um segundo corte na perna dela. Provocando quase uma segunda queda novamente ao sentir a dor.

– Vamos Mia! – ela ouviu Lucky Berbatov gritar.

Seus olhos confusos desviaram até ele.

– Cale a boca, irá distraí-la – Thor berrou.

Yasir aproveitou a chance e atirou um golpe violento contra a espada da princesa que voou para o chão.

Ela cerrou os punhos e tentou desferir um soco no rosto do guerreiro, mas teve seu braço apanhado, no mesmo instante que ele acertava o cabo da lança nas costas dela.

Mia somente se mantéu em pé porque ele ainda segurava seu membro. Viu um sorriso formar-se nos lábios do guerreiro e em seguida uma cotovelada acertou seu nariz, junto de outro soco na bochecha.

Mia caiu no chão, abatida.

Sua visão se desfocou, sentia o sangue fervente invadir seus lábios. Viu apenas um vulto se aproximar então sentiu uma terrível dor na barriga que a fez rolar no chão. Naquele momento tudo doía, nenhuma dor elevava-se sobre a outra, todas se tornavam uma pesada manta que a prendia no chão.

O príncipe e o ladrão, do outro lado, estavam estarrecidos. Imploravam que ela não desistisse.

Yasir abanava os braços e comemorava, saboreava aquela atenção.

A visão turva aos poucos se focava no céu cinzento. Não poderia perder, não seria somente sua morte que estava em jogo, também seria a morte do príncipe e do ladrão.

Arrastando-se, Mia esforçou-se para se levantar e alcançou a sua arma.

– A menina ainda tenta se levantar para lutar! – Yasir gritou aproximando-se dela como se fosse um touro raivoso.

Velozmente, tentou colocar-se em pé, desviou ligeiramente do golpe que ele dera, segurou o ataque com o aço da espada e acertou um de seus olhos com o cotovelo.

Ele rodopiou e tentou golpeá-la por trás, Mia acompanhou o movimento e defendeu-se com a espada. Yasir dobrou a força de seu ataque e fez a menina ajoelhar-se lentamente para segurar a espada.

Mia sentia os braços tremerem. A lança não iria se partir com sua arma.

Sem escolhas, a princesa tocou na lâmina da espada e forçou-a para cima, mesmo que isso fizesse sua própria mão sangrar. O sangue escorreu por seu braço, até inclinar a espada e conseguir fazê-la escorregar para a ponta da lança.

O movimento fez Yasir dobrar-se como ela planejara, sentou-se no chão agilmente e colocou os pés para cima, lançando o homem sem equilíbrio para trás.

Um golpe que Kaleb lhe ensinara.

Rapidamente, ela subiu em cima do adversário e tentou acertá-lo com um golpe de espada. Yasir precisou de esforços para arrancá-la dali, mas quando o fez, Mia saltou para trás e ainda assim se manteve em pé.

Ela pôde ver a fúria nos olhos dele por aquela primeira derrota.

In the end - cover Jung Youth & Fleurie

Se preparou para a próxima arremetida do guerreiro. Este acertara novamente um golpe furioso nos dedos de Mia, causando a queda da espada. Ele deferiu um violento chute no peito dela e a levou para o chão.

Sentiu a falta de ar súbita no peito e os ossos queimarem de dor. Viu Yasir aproximar-se, arrastando a lâmina sobre a terra. De repente, os gritos enlouquecidos da multidão efervescida calaram-se. Yasir estava aos pés dela, olhando nos seus olhos e erguendo a afiada lança nas mãos, mirava especialmente na garganta. Deveria querer arrancar sua cabeça.

A princesa viu o reflexo do sol bater no aço da lâmina.

Não iria decepcionar Thor ou Lucky outra vez.

Quando a lança mergulhou no ar pronta para arrancar a vida da princesa, Mia rolou no chão no último segundo, afastando-se velozmente do aço que cravou no solo.

Levantou a perna e a enfiou no guerreiro, que não esperava o golpe. Um chute feroz que o empurrara para trás pelo impulso.

Foi sua chance para se levantar, e ao colocar-se de pé, a lança passou centímetros longe da barriga em seguida perto de sua cabeça.

Era ser rápida e desviar da lâmina ou ser empalada.

Yasir mudou a tática e ao invés de tentar cortá-la, tentou atravessar a lâmina por sua pele. Firmou as duas mãos no cabo e tentou perfurar o aço na barriga de Mia, a jovem por sua vez, esperava aquele ataque.

Saltou rapidamente para o lado e cravou suas mãos no cabo da arma. Se deixasse o restante da luta ser definida por força, certamente morreria. Mas, também conheceria a morte se continuasse sem arma. Apenas pelo canto do olho, Mia conseguiu perceber a distancia de sua espada abandonada no chão.

Ela cravou suas mãos no cabo da lança, desafiando o guerreiro que lhe mostrou um sorriso como de um cão raivoso. No momento que largarsse aquela arma, não seria rápida o suficiente para fugir do ataque ele lhe faria.

Sabendo das escassas opções, uma queimação interna fez arrepiar-se. Subitamente uma efervescência cresceu no seu interior, forte e intensa, ela sentiu o calor brotar de suas mãos  e toda a pele tornar-se quente. Subitamente a arma estava pelando.

Yasir arregalou os olhos quando sofreu com a quentura nas palmas das mãos, e foi a vez de Mia aproveitar com sua pequena distração, puxando a arma para si e distribuindo um chute na barriga dele.

Assim, ganhou a arma. Ela girou velozmente a lança e tentou atingi-lo com a lâmina, Yasir desviou sem tanta agilidade. Ela aproveitou da longa arma para usar a outra ponta bater certeiramente no nariz do guerreiro e fazê-lo cair. Yasir tombou sobre os joelhos. Tomada pelo instinto de matar, a princesa cravou a lâmina no coração dele.

Yasir cuspiu sangue, encarava sua adversaria perplexo.

Ele não esperava que aquele seria o dia de sua morte. Tal como ela.

Mia fez mais força até sentir a lâmina encontrar o outro lado de sua caixa torácica, garantindo a morte do guerreiro do Sol. Arfante, ela ouviu cortante silêncio que a cercou, e por um momento seu corpo vacilou, teriam os demais percebido a trapaça que a levara a vitória? Os poderes de Ceres? Mia quis agir, mas não sabia o que deveria fazer. Impulsivamente, ela colocou seu pé no peito do homem e arrancou a lâmina que atravessava seu corpo. Ao erguê-la para o alto, subitamente a multidão ir a loucura.
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QUEM TA ANSIOSO RESPIRA!!!! E CURTE E COMENTA NÉ AMORES PORQUE EU QUERO FICAR MAIS QUE MOTIVADA PARA ACABAR ESSA HISTÓRIA DURANTE ESSE SEMESTRE DA FACULDADE ! <3
Vocês choraram tanto que eu decidi ficar acordada até as 2am, mesmo tento aula amanhã cedo porque vocês são maravilhosas!

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