Fuck Me [HS]

By BrunaChiarett

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Essa é a história sobre o verão que uniu a garota estragada ao garoto quebrado. Duas pessoas aparentemente d... More

f u c k . m e
I m p o r t a n t e
s i n o p s e
e p í g r a f e
1: pantera cor de rosa
1.2
2: cuidado com o que você deseja
2.2
3: você é tão capiau
3.2
3.3
4: quer que eu te mostre como montar?
4.2
5: colega de quarto
5.2
06 : regra número um
6.2
07: você gosta dele, não gosta?
7.2
08: eu não posso te beijar agora
8.2
09: quer brincar, é?
9.2
10: é mais fácil falar do que fazer
10.2
11: deixa eu te assistir
11.2
12: você quer que eu tire as suas roupas?
12.2
13: você sabe como superamos memórias dolorosas?
13.2
14: eu disse sim
14.2
15: você está indo longe demais
15.2
16: eu me importo com você
16.2
17: vamos descobrir qual gosto você tem
17.2
18: sente alguma coisa além do meu gosto?
19: eu estou comigo
19.2
20: posso tocar em você?
20.2
21: tudo o que você precisa fazer é dizer sim
21.2
22: minha casa ou a sua?
22.2
23: sentiu a minha falta?
23.2
24: você pode me culpar?
25: sim
25.2
26: você não vale nada
26.2
27: você quer?
27.2
28: trate as pessoas com gentileza
28.2
29: tá terminando comigo?
29.2
30: ela não é uma ameaça
30.2
31: olá, Mel
31.2
32: eu gosto de garotas
32.2
33: eu não quero que você passe a me olhar de outro jeito
33.2
34: você está fugindo de mim
34.2
35: bem-vinda de volta, Melissa
36: o começo do fim
36.2
37: as malas estão prontas
37.2
38: eu te amo
38.2
39: dois corações partidos não formam um inteiro
39.2

24.2

29.7K 2.7K 3.5K
By BrunaChiarett

A playlist de FM mudou!
Novo link na bio do meu perfil. <3

✾✾✾

Culpa não é um sentimento bonito.

Ela não vai embora, não te dá paz. É como um veneno espalhando por sua corrente sanguínea, sem o seu controle, infectando cada parte do corpo.

Ela te força a sentir, a pensar, a encarar memórias que você preferiria esquecer.

Levou um bom tempo até que eu entendesse o porquê de me sentir culpada.

Eu sabia que não era responsável pela história de Harry. E sabia que seu passado doloroso não o dava carta branca para atacar todos à sua volta, até que eles estivessem tão machucados quanto ele.

Eu sabia que não era culpada pela dor que ele sentia, pelo trauma que sofreu e máscara que sempre usou para se proteger.

Eu não era culpada pelo o que ele já tinha feito comigo, mas era culpada pelas coisas fiz com ele e comigo mesma.

Agora, correndo na chuva em direção à casa, eu só conseguia me sentir uma hipócrita.

Porque ali eu estava, cobrando que ele fosse sincero, que tivesse coragem de admitir o que sentia, que fosse ele mesmo... Quem era eu para cobrar aquilo?

Desde o primeiro dia eu fiz questão de deixar claro que desprezava aquela fazenda e tudo o que ela representava. Desdenhei a vida que ele levava, o trabalho que tinha. Nunca me incomodei em esconder o que pensava sobre como ele vivia ali.

Mentirosa.

Era isso que eu era. Uma mentirosa que mentia para todos à sua volta, inclusive para mim mesma.

Harry achava que eu era alguém da cidade grande que desprezava o que ele tinha ali, exatamente como a sua família paterna. E eu não podia culpá-lo por pensar assim.

Como Harry poderia saber que passei grande parte da minha vida em uma fazenda? Que era o que eu mais amava no mundo? Mas que isso foi estragado para mim depois de tudo o que houve?

Como Harry poderia saber que cada dia que eu passava ali, mais aumentava a minha frustração em ter que continuar fingindo que odiava tudo, que não me importava; mais eu me sentia forçada a encarar a verdade, minhas lembranças, minha verdadeira identidade...

Ele não poderia saber. Porque eu, assim como ele, também não o deixava entrar.

Eu mentia.

Eu mentia sobre mim, sobre ele... Sobre Zayn.

Parte de mim sempre soube que eu poderia esperar o tempo que fosse, mas jamais sentiria por Zayn o que sentia por Harry.

Eu sabia, eu sempre soube. Mas mentia para mim mesma.

Eu não sentiria por Zayn, assim como não senti por Brian.

Eu odiava aquelas roupas, aqueles livros, aqueles sapatos, aqueles penteados... Eu odiava tudo. Aquela não era eu. Eram apenas mentiras, mentiras e mais mentiras.

Ver Harry se abrindo e sendo honesto pela primeira vez, funcionou como um alerta na minha cabeça.

Ele teve coragem de dizer, teve coragem de admitir, enquanto eu continuava me enganando todo esse tempo.

Quem era a covarde agora?

Aquilo não apagava os erros que ele tinha cometido, mas me fazia engolir a minha responsabilidade naquela bagunça toda. Porque eu estava cobrando que ele fosse algo que eu não tinha coragem de ser.

Eu nunca fui honesta e isso fez ele pensar que eu me achava boa demais para a fazenda, para esse lugar... Para ele.

Harry agora pensava que era estragado demais para mim, que eu nunca entenderia. Mas a verdade apenas deixou claro o quanto eu e ele somos os mesmos.

A garota estragada e o garoto quebrado.

Ele conseguiu ser sincero com tudo isso... Eu conseguiria também?

Eu não tinha certeza, mas sabia que tinha que tentar.

Eu devia isso... A ele e a mim mesma.

— Onde ele está? – questionei quando alcancei a casa, olhando aflita para Maya sentada no sofá.

Ela abriu a boca, mas não disse nada, assustada com meu estado deplorável pós-tempestade.

— Cadê ele, Maya? – insisti.

Ela mordeu a boca e me fitou apreensiva enquanto suspirava. Indicou a porta do nosso quarto com a cabeça, sem saber ao certo como falar comigo.

Não esperei nem mais um segundo antes de andar apressada na direção que ela tinha indicado, entrando e fechando a porta com força atrás de mim.

Levei alguns segundos para conseguir focalizar todo o cômodo, eu ainda não estava nas minhas melhores condições físicas enquanto passava os olhos pelos cantos escurecidos, procurando por qualquer sinal dele, mas não o encontrei em lugar algum.

Meu coração começou a bater mais forte e eu já estava voltando a ficar nervosa quando o barulho do chuveiro chamou minha atenção.

Cheguei a prender a respiração ofegante para tentar ouvir melhor, tentando constatar se aquilo era mesmo real ou obra da minha imaginação. Mas o barulho continuou, abafado pela porta encostada.

Eu senti como se estivesse assistindo à cena de fora, me vi respirando fundo e entrando no banheiro em passos calmos, porém decididos.

Eu não estava coordenando os meus movimentos, estava cansada demais para pensar... Para racionar sobre qualquer coisa. Meu corpo tinha assumido o controle e havia decidido me levar até ele.

Apoiei na pia e encarei o reflexo enquanto o barulho da água do chuveiro ecoava pelas paredes, a cortina estava fechada e escondia Harry de mim. Ele se mantinha em silêncio lá dentro, alheio à minha presença.

Observei meus traços úmidos pela chuva, o rosto pálido e linhas marcadas pela exaustão, procurando nos meus olhos opacos alguma inspiração para saber o que falar... E como falar. Mas nada me vinha em mente.

Eu sabia o que queria dizer... Eu queria que ele soubesse que eu sabia como ele se sentia, que eu o entendia... Deus, eu o entendia perfeitamente! Sabia como era se esconder atrás de um personagem, por trás de uma máscara, fugindo da dor e da culpa.

Queria dizer que tudo ia ficar bem, que tudo fica melhor com o tempo. A dor não vai embora, mas fica mais fácil de ignorá-la. Também queria que ele soubesse que eu nunca pensei que ele não fosse bom o suficiente para mim, muito pelo contrário... Talvez eu não o merecesse no fim das contas, pois Harry fazia com que eu me sentisse livre, enquanto a minha culpa estava sempre presente para me lembrar que eu não merecia sonhar com liberdade.

Eu queria dizer que eu sentia muito... E principalmente que eu queria tentar. Eu queria tentar com ele, se ele ainda quisesse tentar comigo.

Eu queria dizer todas essas coisas... Mas não encontrava as palavras na minha garganta seca.

Fitei o reflexo abatido por vários minutos até me dar conta de que eu nunca me entendia bem com ele através de conversas. Um de nós dois sempre dizia algo errado e tudo desandava.

Como ele mesmo disse uma vez, "Nós somos ótimos em arruinar tudo".

O momento em que nos entendíamos melhor era quando nossos corpos se juntavam, se tocavam. Quando nos beijávamos... Nos sentíamos.

Prendi a respiração, um pouco nervosa, enquanto tirava a blusa ensopada e a jogava no chão, logo sendo seguida pelos tênis e calça.

Suspirei e fechei os olhos por um segundo antes de tirar as roupas íntimas, hesitante por não saber qual reação esperar.

Respirei fundo e ergui a mão trêmula até a cortina, sentindo o coração disparar dentro do peito. Eu não tinha palavras, mas torcia para que as minhas atitudes fossem o suficiente. E foi com esse pensamento em mente que eu achei a coragem dentro de mim para finalmente abrir a cortina e me juntar a ele.

Meu peito se encolheu quando eu parei atrás de Harry, observando o jato do chuveiro deslizando por suas costas enquanto ele se mantinha de cabeça baixa, apoiando um braço na parede e parecendo perdido em pensamentos, deixando a água correr por sua nuca.

Os ombros largos subiam e desciam de acordo com a respiração profunda, e sua tranquilidade frágil mostrava que era como se ele nem sentisse a minha presença naquele instante.

Ergui a mão cuidadosamente para tocá-lo, meus dedos gelados sentiram sua pele úmida quando os pousei sobre seu ombro. Nada mudou em seu corpo. Ele não sobressaltou ou teve qualquer reação ao meu toque, nem mesmo quando eu o virei de frente para mim.

Eu sabia que ele estava vulnerável... Finalmente tinha colocado tudo para fora, e contar aquelas lembranças deveria ser doloroso.

Eu não saberia dizer, pois nunca havia sido forte o suficiente para tomar essa mesma atitude.

Corri os olhos por seu rosto, minha mão envolvia seu maxilar e o acariciava suavemente. Eu tentei pensar no que fazer para aquilo ir embora, para que ele não se sentisse daquele jeito.

Quando Harry finalmente abriu os olhos e me encarou, o vazio das suas íris fez minha barriga se encolher e um arrepio frio lamber a coluna.

Odiei vê-lo daquela maneira.

— O que está fazendo? – perguntou baixo, o tom pingando em cansaço.

— Economizando água – sorri levemente.

Ele me olhou impassível, os olhos avermelhados e opacos, sem brilho e vida.

E foi encarando aqueles olhos mortos e com meu coração disparado no meu peito que eu me lembrei de algo que ele tinha dito ao que me pareciam séculos atrás.

"Você sabe como superamos memórias dolorosas? Criando novas."

Torci para que eu pudesse ser o mesmo para ele. Talvez, se eu mostrasse que eu o queria, que eu estava ali e que eu ia tentar, ele conseguisse deixar aquelas lembranças para trás. E foi pensando nisso que eu me aproximei, olhando apreensiva em seus olhos uma última vez antes de colar a minha boca na sua.

A água quente caía sobre nós dois enquanto meus lábios molhados sentiam os dele macios contra os meus, porém paralisados.

Apertei os olhos fechados enquanto colava meu corpo no dele. Harry fez menção de afastar o rosto, mas eu arfei em sua boca e envolvi suas bochechas com as mãos, beijando mais forte.

Eu queria fazer aquilo parar, queria que ele deixasse de sentir dor e apenas me sentisse, que entendesse que eu o queria com todas as forças.

Beija de volta, Harry... Por favor, beija de volta.

Eu estava ficando nervosa por sentir seu corpo tenso, rígido e sem reação.

Minha confiança em estar ali, nua e me entregando, estava se esvaindo e eu não sabia o que faria a seguir. Mas todo o meu medo foi embora quando eu senti suas mãos hesitantes envolvendo a minha cintura, parecendo incertas em um primeiro momento, mas logo me puxando para ele no mesmo instante em que sua língua entrou na minha boca.

Ofeguei em alívio, sentindo nossos gostos se misturando enquanto seus lábios se tornavam urgentes em um beijo profundo, tomando todo o meu fôlego.

Meu corpo parecia estar na mesma temperatura quente da água enquanto ele me tocava, me abraçava. Eu me sentia acolhida em seus braços, fazendo todos os acontecimentos frios e infelizes do dia sumirem.

Eu torcia para que ele estivesse sentindo o mesmo.

Embrenhei os dedos em seus cachos e os puxei com força quando senti seu corpo começar a reagir ao meu. Harry grunhiu na minha boca e me prensou contra a parede.

Eu já estava ficando sem ar quando ele colou as nossas testas, mas eu não queria parar de beijá-lo, de senti-lo, então passei a correr a língua por seu pescoço, apreciando sua pele se arrepiar contra a minha.

A sensação de ter os dedos de Harry correndo por minhas costas estava me fazendo revirar os olhos, beijando seu pescoço com mais vontade.

— Melissa... – ele soprou, me roubando um arrepio.

— Sim, Harry. Estou aqui.

Ele subiu as mãos até envolver os meus pulsos e apertá-los, me deixando confusa quando afastou o meu toque dele.

Afastei o rosto e o olhei sem entender, encontrando seus olhos verdes mais brilhantes do que antes, mas ainda distantes de alguma maneira. Eles ainda ferviam pelo nosso momento anterior, mas a palavra que saiu por sua boca foi a mais gelada possível.

Não.

Foi como ter levado um soco no estômago.

Eu me sentia enjoada e sem rumo enquanto devolvia o seu olhar sem ao menos piscar. Senti o rosto formigar em constrangimento e a respiração falhar, o coração encolhido no peito.

— O quê? – me ouvi ofegar.

Harry respirou fundo e saiu do chuveiro, me deixando sozinha com a sensação vazia de ter sido rejeitada.


— Mel? – ouvi a voz de Liam quando ele abriu um pouco a porta do quarto, deixando que a luz da sala iluminasse o cômodo escuro.

Tentei limpar as lágrimas enquanto me ajeitava na cama, mas meu melhor amigo percebeu que algo estava errado no segundo em que colocou os olhos sobre mim.

— Mel, o que houve? – perguntou aflito, vindo para a cama e sentando ao meu lado.

Assim que ele me abraçou, o choro voltou com tudo.

Eu tentei segurar, ser forte e fingir que estava tudo bem, mas não estava.

Depois do que houve no chuveiro, eu desabei, e o pior era que eu nem sabia direito o porquê.

Eu me sentia extremamente sozinha, mesmo sabendo que tinha me isolado dos meus amigos de propósito.

Por que temos mania de afastar as pessoas quando mais precisamos delas?

Tudo isso é medo de que elas vejam nosso lado sombrio e não nos enxerguem da mesma forma?

Ou porque sempre achamos que conseguimos resolver sozinhos?

Apertei o colar com força na mão. Eu o tinha achado sobre a escrivaninha do Harry depois que saí do chuveiro, encontrando o quarto vazio.

Dar de cara com aquilo fez algo dentro de mim estremecer, algo doer.

Eu odiava isso, odiava me sentir fraca. Mas eu também estava cansada de ser forte o tempo inteiro. Para falar a verdade, eu já estava cansada de tudo.

Ouvi passos se aproximando da porta entreaberta e logo Niall colocou a cabeça dentro do quarto, olhando confuso para Liam enquanto ele ainda me abraçava.

Demoraram apenas dois segundos para que Niall endurecesse a expressão.

— O que ele fez? – perguntou, nervoso, exatamente da mesma maneira de quando me viu chorando por Brian pela primeira vez. — Diz o que ele fez que eu quebro a cara dele!

Eu tentei dizer que, na verdade, Harry não tinha feito nada de errado, mas a garganta estava fechada. Tudo o que eu conseguia fazer era chorar.

— Niall, a gente precisa de reforço – Liam pediu, me apertando com força contra seu peito.

Niall travou o maxilar, frustrado por não saber o que estava acontecendo. Mas não demorou a assentir e ir para a sala, procurando pelas meninas.

— Shh, vai ficar tudo bem, Mel – Liam sussurrou, acariciando meus cabelos, tentando me passar algum conforto.

Mesmo estando naquele estado, eu agradeci aos céus por ter os melhores amigos do mundo.

Eu não conseguia nem descrever o quanto eu me sentia acolhida em seu abraço, o quanto era grata por ele se importar, por estar ali por mim.

Mesmo com todos os meus defeitos, mesmo com a minha mania de afastar as pessoas... meus amigos sempre estavam comigo.

Maya disse uma vez que a amizade nada mais era do que pessoas que encontram uma na outra defeitos com os quais conseguem conviver.

Apertei a mão de Liam e o agradeci baixinho no mesmo instante em que Maya e Skyler entraram no quarto.

Sky franziu a testa e me olhou triste, parecendo aflita. Respirou fundo e ergueu seus olhos para Liam.

— Amor, prepara um chá lá para a gente? – apertou os lábios em um sorriso cúmplice, sabendo que eu ficaria mais à vontade se ficássemos sozinhas.

Ele concordou e me deu um beijo na testa antes de se levantar e sair do quarto, encostando a porta atrás de si.

As meninas sentaram cada uma de um lado meu no segundo seguinte. Maya passava as mãos pelos meus cabelos enquanto Sky limpava os resquícios das lágrimas do meu rosto.

Elas não me apressaram, esperaram eu tomar todo o tempo que precisava antes de finalmente conseguir dizer alguma coisa.

— Eu sou uma péssima pessoa – sussurrei, fitando um ponto insignificante no chão.

— Continuaríamos te amando mesmo se você fosse uma péssima pessoa, mas não é o caso – Maya respondeu, usando um tom doce e levemente brincalhão, tentando aliviar o clima.

Apertei os lábios e dei de ombros, sentindo minha voz falhar.

— Talvez eu seja... Eu não lembro mais de quem eu sou – confessei, apertando o colar com ainda mais força.

Era verdade. Eu já não conseguia mais me lembrar de quem eu costumava ser. Da antiga Melissa.

Eu passei tantos anos tentando consertar as coisas, que acabei apagando qualquer lembrança de como eu era no mais fundo do meu peito. Eu não achava justo eu ser eu mesma depois de tudo o que houve. Eu não podia ser.

— Ei – Sky sussurrou, colocando uma mão sobre a minha perna e atraindo os meus olhos marejados até os seus. — Eu me lembro – sorriu com carinho. — Você era moleca, arteira, irresponsável e bagunceira... Mas definitivamente não era péssima. Nunca foi – brincou, me fazendo suspirar enquanto recordava de algumas lembranças da nossa infância. Sky sempre esteve ao meu lado durante todas as fases da minha vida. — As coisas só ficaram confusas depois do que houve...

— Confusa. É assim que eu me sinto o tempo todo! Estou tão cansada disso...

— Fala com a gente, Mel – Maya apertou a minha mão, tentando me passar alguma força. — Já passou da hora de você desabafar. Você lutou contra isso por muito tempo, sempre se fechando e se afastando... Só coloca para fora.

Fechei os olhos com força e procurei por algum sentido entre as vozes que sopravam na minha cabeça.

— Eu não consigo separar as coisas que eu quero das que eu deveria querer.

— Por que você deveria querer alguma coisa? – Maya usou um tom calmo e ameno, para me deixar confortável, guardando uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Como com Harry e Zayn – limpei outra lágrima teimosa que escapou dos meus olhos, fungando e tentando me manter calma. — Zayn é... perfeito. Mas eu sei que nunca vou sentir por ele o que sinto por Harry. E eu não consigo deixar ele ir... Por que eu não deixo ele livre? – balancei a cabeça, confusa com as minhas próprias palavras.

Sky segurou a minha outra mão com força e sorriu para mim, me olhando com cumplicidade, como se tudo fosse claro e óbvio e eu apenas não quisesse enxergar.

— Ele é perfeito... para ela. Não para você.

Desviei os olhos quando a carga dos seus glóbulos azuis se tornou intensa demais.

— Ela usaria essas roupas, ela alisaria o cabelo, ela leria livros infantis e ela gostaria do Zayn... – citou, não precisando explicar de quem ela estava falando. Nós sabíamos muito bem a quem ela estava se referindo. — Viver a vida dela não vai trazê-la de volta, Melissa. E eu acho que você já sabe disso, por isso está assim.

O choro ameaçou voltar, mas eu segurei dessa vez.

Eu estava cansada de chorar.

— É hora de viver a sua vida, ser você mesma. Vai ser difícil, mas a gente sempre vai estar aqui por você – Maya garantiu, pousando a mão no meu ombro e o apertando, mostrando sua presença.

Eu não conseguia superar o fato de que Beatriz não existia mais, que não estava mais comigo.

Cenas daquela tarde fria sempre me atormentavam e faziam a culpa crescer no meu peito, correndo fria em meu sangue e me amargurando por dentro.

Sempre a maldita culpa.

Eu não conseguia aceitar. Então eu a mantive viva através das minhas escolhas, através da minha própria vida. Mas eu não conseguia mais fazer isso... Não dava mais.

Soltei todo o ar dos pulmões quando Sky dedilhou a minha mão, encontrando o colar espremido entre os meus dedos, me fazendo encará-lo.

— Você a tem que deixar ir.

Mordi a boca com força, derrotada, enquanto assentia várias vezes, deixando escapar algumas lágrimas teimosas.

Elas tinham razão... Seria difícil, mas eu tinha que tentar. Eu me devia isso. Eu tinha que ser forte.

— Eu senti sua falta, amiga – Sky sussurrou no meu ouvido.

— Obrigada por não desistirem de mim – agradeci, as abraçando de volta e rindo dos beijos estalados que elas estavam me dando na bochecha.

— Nunca – Maya respondeu, os olhos brilhando tanto quanto os de Sky. — Aonde está indo? – perguntou quando levantei e dei alguns passos até à porta.

Engoli em seco e olhei para trás, tranquilizando-as e tirando de vez aquele peso do meu peito.

— Dizer adeus.

✾✾✾

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