"Acabei de ouvir as notícias hoje
Parece que a minha vida mudará
Fechei os meus olhos e comecei a orar
E lágrimas de felicidade caíram pelo meu rosto.
Com os braços bem abertos sob a luz do sol
Bem-vindo à este lugar
Eu te mostrarei tudo
Com os braços bem abertos.
Eu não sei se estou preparado para ser o homem que tenho que ser
Vou tomar fôlego, vou trazê-la para junto de mim.
Paralisamos deslumbrados, nós criamos uma vida."
Wide Arms Wide Open, Creed.
Fonte: Belén.
Kyungsoo tem me dado ideias sobre vários projetos. Basicamente ele está sempre criticando os anúncios de eletrodomésticos e produtos de limpeza que são sempre protagonizados por mulheres, donas de casa, super-dependentes do homem... Machismo. E ele tem toda razão. Então, apresentei ideias onde um casal de lésbicas se beijam, sentadas sobre uma lavadora; ou, onde um homem cozinha para o seu esposo.
Logo, me deram produtos de bebê, e tudo foi muito mais fácil porque comecei a pensar no bebê de Kyungsoo; em como eu gostaria que vendessem coisas à mim para ele. Resultou na segurança do produto, e também, exibindo homens usando ditos produtos com os seus filhos: famílias homoafetivas. Gays que trocavam fraldas; que davam mamadeira; que se preocupavam em obter o melhor purê de frutas do mercado para alimentar a sua prole... Em cada anúncio, tive mais êxito do que no anterior. Alguns geraram polêmica, começaram a atrair muita atenção, e o chefe me deu um aumento.
Então, o que fiz com esse dinheiro a mais, foi ir à loja de departamentos e passear durante três horas pela área infantil, comprando coisas para o bebê. Quando cheguei em casa, já era de noite, Kyungsoo estava sentado na varanda traseira olhando para o céu e... fumando um cigarro, o irresponsável.
— Mamãe tinha razão: o bebê logo vai nascer e não temos nada — eu disse colocando a caixa cheia de compras ao seu lado. Um urso de pelúcia se sobressaia dela. Kyungsoo a encarou com o cenho franzido, e logo voltou para o seu cigarro.
— Você não deveria gastar o seu dinheiro com esse tipo de coisas — seu tom era tranquilo, sério, frio...
— Me deram um aumento pelo trabalho. Eu não teria conseguido sem você, portanto, de algum modo, Asher merece essas coisas.
— Quem é Asher?
— O bebê. Tenho estado pensando, que logo ele vai nascer e você ainda não escolheu um nome... Eu estive lendo algumas coisas na internet... Dizem que 'Asher' significa "bendito" em hebreu, e que também significa "feliz"; ambas as coisas são adequadas para esse bebê. Ele é bendito pela maneira em que foi criado, e deverá ser muito feliz.
Kyungsoo revirou os olhos.
— Ele foi criado num laboratório, e é um parasita, Jongin. Se você tivesse uma Tênia no estômago, você a nomearia? Compraria ursos de pelúcia para ela? — tomei o cigarro dele e o apaguei na sola do meu sapato, para demonstrar que eu estava chateado.
— É hora de você parar de ficar em negação, Kyungsoo. Pense só por um momento que as provas têm dito que essa criança é normal. A ultrassonografia que conseguimos fazer em você na última vez, disse que seria um menino. Você carrega um ser humano dentro de você, e ainda que seja assustador, também é bonito. Quando ele nascer, você se converterá em pai. Ou você acha que vai sair um alien daí? Não, Kyung! É um bebê! Um bebê bonito e normal.
— Como merda você poderia saber se ele é bonito?
— Porque você tem um rosto bonito... — ele suspirou e passou uma das mãos pela testa, limpando o suor que realmente não tinha.
— Você está louco, Moreno, muito louco.
— Sim, bem... vindo de você, não é uma ofensa; você é pior — eu ri. — Vamos entrar para você ver o que eu comprei. Não quero tirar aqui e sujá-los.
— Não tenho interesse em ver essas coisas. E também, eu não quero levantar; tenho uma ligeira contração agora mesmo, e o parasita está com soluço.
— Outra vez soluço?
— É irritante e minhas costas doem.
— Vou me sentar atrás de você pra você se apoiar em mim, mas como recompensa, você me dá permissão para tocar em Asher.
— Ótimo, mas não comece a falar com ele.
Quando Kyungsoo se recostou em meu peito, o rodeei com os meus braços e comecei a acariciar o seu ventre enorme. O bebê ficou louco e começou a chutar com muita força.
— Ahhh — Kyungsoo se queixou —, dói muito quando ele faz isso.
— Asher, não machuque o seu papai... Mesmo que você esteja feliz com os seus presentes, você precisa ser cuidadoso. Você já está grande e acaba machucando o seu pai.
— Eu disse pra você não falar com ele — reclamou com voz cansada e os olhos fechados.
— Os bebês se acalmam quando falamos com eles.
— Você fica mal acostumando esse parasita... Toda vez que você cruza essa porta, ele fica louco e começa a me chutar. Parece que quer sair da minha barriga e se enfiar na sua... Um dia, quando voltarmos a dormir na mesma cama, você vai acordar grávido... Eu sei que isso é possível...
— É sério? Ele gosta de mim? — só me concentrei na parte bonita. — Ele gosta de mim, como eu dele.
— Por que você quer tanto essa coisa?
— É lindo, Soo. É um bebê gerado de um milagre com um papai muito ranzinza. Ele vai precisar de todo o meu amor se você continuar sendo tão frio com ele.
Kyungsoo pareceu meditar sobre algo durante alguns segundos, sem abrir os seus olhos. Logo, colocou uma de suas mãos sobre a minha, e a guiou até embaixo no novo ponto onde Asher chutava. O acariciei ali, porque nesse preciso ponto de seu ventre estava duro, e continuei fazendo isso até que o lugar deixou de estar tenso e voltou a ficar bem suave. Em seguida, Kyung correu a minha mão até o outro lado de seu ventre onde Asher começava a chutar novamente, e assim ficamos por um momento, enquanto ele me guiava por toda a sua barriga me fazendo sentir cada um dos movimentos do bebê. Isso me emocionava tanto que fazia o meu coração bater muito rápido.
— Acho que ele já dormiu — ele disse quando Asher parou de se mexer, mas não me importei e continuei acariciando-o.
— Por que você gosta tanto de ficar aqui fora? Não é incômodo?
— Eu gosto de ver as estrelas. Me lembra as excursões de motoqueiros que eu fazia com o grupo do meu amigo Kris... Me faz sentir livre, de alguma maneira.
Eu sabia que desde o começo da gravidez, Kyung havia evitado todos os seus conhecidos para não dar explicações. Essa era a primeira vez que ele mencionava alguém que não fosse a sua família.
— Você deve se entediar muito ficando aqui.
— Tecer me entretém bastante, agradeça a sua mãe por isso... Eu também tenho baixado muita música no seu computador, e vi o que você tinha: Darren Hayes, Lykke Li, Chet Faker, Imoen Heap, Regina Spektor e música clássica. Deixe-me dizer que em exceção da música clássica, seus gostos são terríveis.
— Ei, minha música é ótima. O que você escuta?
— Rolling Stones, Nirvana, The Doors, U2...
— Ho! — eu o provoquei. — Música de motoqueiros loucos.
— Vai à merda, ignorante — disse ele estapeando o meu rosto sem me machucar. — Não há tal coisa como "música de motoqueiros".
— Minha música é boa, você deveria dar uma oportunidade... Quer que eu cante algo para você?
— Claro! Cante "Smells like teen spirit".
— Não vou cantar nada de U2.
— Não seja ignorante, Jongin! É do Nirvana.
— Shhh, Asher, não escute isso — eu disse fingindo que cobria os ouvidos do bebê. Kyung voltou a me bater no rosto, e me fez rir pelo modo fácil que era irritá-lo. — Já entendi: não compartilhamos o mesmo gosto musical.
— Eu assistia anime quando era adolescente, e eu gostava das músicas. Você pode cantar alguma delas. Você assistiu anime?
Comecei a cantar imediatamente:
— "Da minha janela vejo brilhar, as estrelas muito perto de mim. Fecho os olhos, quero sonhar... Com um doce futuro..."
— Isso...? Espera... você está cantando "Candy"? — comecei a rir.
— Então você assistiu esse!
— Baekhyun é quem assistia!! — respondeu batendo no meu braço, dessa vez com força, mas, assim como eu, ele estava rindo. — O idiota chorou quando o garoto loiro morreu.
Asher chutou outra vez.
— Cale-se, Kyungsoo, Asher sim, gosta das minhas músicas, então não opine mais. Isso será entre ele e eu — expliquei, antes de começar a cantar uma música de uma banda, que eu tinha certeza, Kyung já tinha escutado uma vez.
"Acabei de ouvir as notícias hoje
Parece que a minha vida mudará
Fechei os meus olhos e comecei a orar
E lágrimas de felicidade caíram pelo meu rosto
Com os braços bem abertos sob a luz do sol
Bem-vindo à este lugar
Eu te mostrarei tudo
Com os braços bem abertos
Eu não sei se estou preparado para ser o homem que tenho que ser
Vou tomar fôlego, vou trazê-la para junto de mim
Paralisamos deslumbrados, nós criamos uma vida..."
Eu não pude terminar a estrofe da qual Asher parecia estar gostando, já que Kyungsoo levou as mãos ao seu rosto e começou a chorar. Sentei-me meio de lado e o mantive embalando-o até que ele se sentiu melhor, mas mesmo depois disso, Kyung continuou me abraçando com a cabeça escondida contra o meu peito, enquanto eu acariciava as suas costas.
Ele estava aceitando o bebê? Estava chorando de frustração ou de medo?
Acho que eu nunca saberei... Até o dia de hoje não me atrevi a perguntar.
Fonte: Mafiosita.