Filhos da Tormenta - Aquele V...

By ThallesCavalcanti

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Uma ilha paradisíaca. Uma maratona de festas. A nata da nata ao redor do globo se reúne, durante um mês intei... More

Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 7
Capítulo 8
Beach Party
Capítulo 10
Festival of Colors
Capítulo 12
Fairytale
O Primeiro Ritual
Neon Party (Parte I)
Neon Party (Parte II)
Capítulo 17
Drink Party
Capítulo 19
O Segundo Ritual
Wonderland
Capítulo 22
White Party
Capítulo 24
Neverland
Pleasure Party
O Terceiro Ritual
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Firework Party
Capítulo 32
Glossário

Capítulo 6

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By ThallesCavalcanti


24 de Dezembro de 2011, Sábado.

Já era véspera de natal, faltavam poucas semanas para que embarcássemos para ilha. Eu tinha obrigado Mateus a sair do chiqueiro que ele chamava de casa e, até que eu encontrasse algo que eu considerasse aceitável para um amigo meu, Mateus ficaria comigo. Tinha ensinado a ele como se vestir e se portar melhor... Literalmente aulas de moda e etiqueta. Usando minha influencia, meu dinheiro e um pouco de mágica, tinha até arranjado um emprego descente pra ele. Mateus agora era modelo em tempo integral.

Eu comecei a treiná-lo e mostrar que o mundo ao redor dele estava sujeito ao que ele desejasse. Ele era inteligente, e aprendia rápido. Me sugava ao máximo e era dono de um potencial absurdo, ainda que fosse muito menor que o meu. Treinávamos todas as noites! Primeiro corríamos na praia, então fazíamos uma bateria de exercícios na academia e seguíamos para o treinamento mágico.

– Você melhorou muito. – Eu disse a Mateus, enquanto ele se jogava no meu sofá, sem se importar com o quão sujo e suado ele estava.

– Obrigado! – Ele respondeu sorrindo.

– Você melhorou sua concentração e já conseguiu entender o funcionamento de feitiços com a mente – Eu observei – E isso em menos três meses... Nada mal.

– Mas eu ainda não sou capaz de controlar feitiços falados. – Ele respondeu ranzinza.

– Mateus, cresce! – Eu respondi irritado – Feitiços falados são extremamente poderosos e muito mais difíceis de serem controlados. Se você não medir a força exata do feitiço, tudo pode dar errado!

– Eu sei, eu sei... – Ele se deu por vencido – É só que... Esquece, não importa. Eu vou tomar um banho.

– Ótimo! – Eu respondi – E permaneça no seu quarto até que eu diga que você pode sair.

– Por que mesmo, mamãe? – Ele perguntou irritado.

– Por que tenho visitas chegando. – Eu respondi sério – E não quero matar você em plena noite de natal.

– Quem está chegando? – Ele perguntou numa curiosidade quase infantil.

– Meu pai. – Eu respondi quando a porta se abriu – Você já pode sair, Mateus – Eu continuei lançando um olhar de aviso a ele.

– A cozinha está liberada? – Ele perguntou.

– Claro que está! – Meu pai respondeu amistoso – E sinta-se a vontade para circular pela casa. Só pedirei que não permaneça na sala, preciso conversar com meu filho em particular.

Mateus não se atreveu a desobedecer e a verdade é que nem eu me atreveria. Se existia alguém capaz de me por medo, meu pai sem dúvida alguma era essa pessoa. Principalmente se estivesse sorrindo... Algo na presença dele fazia qualquer um se sentir fraco e vulnerável. Em segundos eu e meu pai estávamos sozinhos na minha sala, minha intuição gritava que ele não trazia consigo boas noticias.

– O que você quer pai? – Perguntei irritado.

– Primeiro, me sentar – Ele disse após fechar a porta, enquanto adentrava em minha sala de estar – Não importa quantas vezes venha aqui, me encanto com a beleza do lugar. Você tem muito bom gosto, meu filho.

– Corta essa! – Eu respondi irritado – Suas visitas sempre têm um motivo, e eu sempre acabo odiando eles.

– Acho melhor você se sentar. – Ele sugeriu sorrindo – O que eu tenho a falar é importante.

– Eu prefiro ficar... – Eu comecei.

– Senta agora, Theodoro! – Ele ordenou e eu não me atrevi a contestar.

– Satisfeito? – Eu perguntei extremamente irônico, enquanto lutava contra minha raiva extrema.

– Muito melhor. – Ele respondeu com o sorriso voltando ao seu rosto.

– O que você quer pai? – Eu perguntei me dando por vencido.

– Primeiro vim lhe desejar um feliz natal – Ele começou – Você não aparece para comemorar com sua família desde... – Ele fez uma pausa – Muito tempo. E por mais que não o culpe, sinto sua falta. Quer você acredite ou não.

– E? – Eu perguntei, sem me afetar nem por um segundo pelo que ele tinha acabado e dizer.

– Bom, em segundo lugar... – Ele fez uma pausa – Temo que eu esteja mal de saúde.

– O que você tem, pai? – Eu perguntei e instantaneamente me senti mal pelo modo como o havia tratado.

– Meu coração, meu filho... – Ele respondeu – Sinto em dizer que ele já está velho e cansado.

– Eu posso ajudar, papai – Qualquer barreira que eu tinha não importava naquele momento.

– Você me chamou de "papai". – Ele observou com um sorriso doce.

– Pai... – Eu chamei, me despindo de toda resistência– Eu posso usar magia, posso salvar sua vida.

– Eu sei que pode, meu filho – Ele respondeu – Mas eu não quero e não espero que você faça isso. Minha hora está chegando, é o ciclo da vida. Já estou velho, mas tenho poder mais que o suficiente para me curar caso assim deseja-se.

– Você não pode ir agora! – Eu gritei em desespero.

– E eu não vou. – Ele respondeu calmo – Ainda tenho algumas coisas a resolver, coisas de extrema importância, e você é uma delas.

Eu permaneci em silêncio, confuso. Recostei minha cabeça no sofá fechei meus olhos, esperando que meu pai retornasse a falar. Não iria chorar ali... Eu não chorava há anos. Não desde que aquela mulher...

– Bom... Eu acredito no arrependimento de sua mãe. – Ele rompeu com o silêncio.

– Ela não é minha mãe. – Eu o corrigi num tom indiferente.

– Eu acredito que ela tenha se arrependido, mas não vou te desamparar. – Ele prosseguiu ignorando meu comentário – Além de tudo o que você já tem em seu nome, você é meu herdeiro e como tal, com minha morte recebe metade de tudo que for meu.

– Eu não quero. – Eu o cortei – Tenho mais que o suficiente.

– Não importa. – Ele respondeu – É seu, é seu direito e é direito dos netos que um dia você vai me dar – Eu sorri com a ideia que ele tinha de que um dia eu teria filhos.

– Só isso? – Eu perguntei.

– Não... – Ele respondeu – Seja um pouco mais paciente, preciso que você me prometa duas coisas.

– Se eu puder... – Tentei não deixar transparecer a tensão que aquilo me causava.

– Você negaria uma promessa a um homem que está morrendo? – Ele perguntou.

– Sim. – Eu disse dando de ombros.

– Mesmo que esse homem tenha te salvado da morte? – Ele insistiu.

– Sim. – Eu repeti.

– Você realmente é uma pessoa difícil... – Ele observou – Quero que me prometa que vai cuidar de seu irmão... Tenho notado coisas e gostaria que você fosse mais presente na vida dele, acho que pode fazer bem a ele.

– Eu não sou uma boa influencia, pai! – Eu gargalhei.

– Você é leal, ou não teria o mesmo ciclo de amigos há tantos anos – Ele começou – Você é bondoso, do seu jeito, mas eu sei que é. Por mais "louco" que seja, sei que é responsável... Sempre usou magia com cuidado e ainda assim chegou a níveis que nem eu alcancei. Você é um garoto muito inteligente e apesar do jeito apático é muito carinhoso, muito sensível... E bom, por mais que você não conheça o amor, sei que um dia irá encontrar a garota certa... Ou o cara. – Ele completou após alguns segundos.

– Você REALMENTE não me conhece! – Eu gargalhei.

– Sim, eu conheço.! – Ele continuou – Conheço melhor que você mesmo, e me orgulho de te ter como filho. Independente de qualquer coisa. – Ele enfatizou.

– Tudo bem, pai. – Eu me dei por vencido – Posso me esforçar e me aproximar mais do Pietro.

– Ótimo! – Ele respondeu – O segundo pedido é mais simples.

– E qual é!? – Eu perguntei, agora olhando nos olhos dele.

– Por favor, não morra. – Ele disse – Quero que você envelheça, tenha filhos, ame muito... Mas antes disso, não morra. Me promete?

– Eu prometo. – Eu respondi, estranhado o pedido – Mas porque disso tudo?

– Já está tarde! – Ele respondeu olhando o relógio – Prometi pegar sua mãe e seu irmão no hotel, vamos a uma festa em alto mar...

– O que me leva a perguntar... – Eu comecei – Por que vocês estão no Rio? Vocês nunca abrem mão do Natal europeu.

– Bom... – Ele disse num sorriso amarelo enquanto se levantava e ia em direção à porta – Não quero que sua mãe e seu irmão se atrasem para a festa em sua ilha.

– Eles não foram convidados! – Eu gritei enquanto me levantava. – Eles não vão para lá!

– Não foi um pedido. – Ele respondeu já saindo porta a fora – Eles estarão lá, mas eu prometo que nenhum deles causará problemas.

– Pai! – Eu gritei, enquanto tentava impedi-lo de fechar a porta.

– Eu te amo, meu filho! – Ele gritou atrás da porta – Nunca se esqueça disso!

– Pai! – Eu gritei abrindo a porta e me deparando com nada além de um corredor completamente vazio.

Eu apertei meus punhos, e entrei possuído pela raiva que a última notícia me causou. Mateus estava na sala, me olhando com uma cara curiosa. Passei por ele e fui direto para o banho, esperando que a água fria me acalmasse ou, pelo menos, me desse um plano para me livrar da presença daqueles dois na ilha. Aquele era o primeiro sinal gritando que tudo poderia dar errado. Aquela mulher era problema! Dos grandes!!

Já passava da meia-noite. Eu estava no terraço da cobertura, olhando para a imensidão da noite carioca. Os prédios acesos iluminavam o Rio, enquanto o Cristo Redentor brilhava em todo o seu esplendor, fazendo eu me sentir um pequeno mortal diante de toda a sua grandeza. Eu já não estava com tanta raiva, mas ainda me gerava uma ligeira irritação ter aquela mulher por perto. Estava há horas afundado dentro dos meus pensamentos, sem encontrar qualquer saída para aquela situação. Sentia que enlouqueceria a qualquer momento.

– É bonito, não é!? – Mateus perguntou aparecendo ao meu lado – Não trocaria o Rio por nenhum outro lugar no mundo.

– Tenha essa mesma sensação, às vezes – Eu respondi.

Champagne? – Ele me ofereceu, estendendo uma taça – Afinal, já é Natal.

– O quanto você ouviu? – Eu perguntei, pegando a taça e ainda olhando pro nada.

– Tudo? – Ele respondeu em uma voz de arrependimento.

– Eu deveria te jogar daqui de cima! – Eu retruquei – Mas tenho problemas maiores.

– Porque essa birra toda com sua mãe? – Ele perguntou.

– Ela não é minha mãe! – Eu respondi entre dentes.

– Não? – Ele perguntou.

– Ela perdeu esse título há muito tempo...

– O que ela fez de tão ruim, Theo? – Ele insistiu.

– Não é da sua conta. – Eu respondi irritado.

– Por favor, me conta. – Ele pediu.

– Não!

– Theo... – Ele insistiu.

Deixei que o cansaço invadisse minha expressão e por longos minutos permaneci em silêncio observando a vasta imensidão da noite.

– Digamos apenas que a palavra desnaturada seja muito pouco para descrever aquela vaca. – Eu expliquei – Mas não pretendo estragar meu natal falando sobre isso. Essa história é mais obscura do que você imagina... E está além do que você pode aguentar.

– Foi tão ruim assim? – Ele perguntou muito sério.

– Depende do ponto de vista. – Fingi dar de ombros – Mas o que aconteceu me levou a convencer meu pai a me emancipar, logo depois que eu completei dezesseis anos. Ele aceitou meu pedido quando percebeu que era inviável me manter na mesma casa que aquela mulher.

– E porque escolheu o Brasil? – Ele perguntou.

– Sempre gostei daqui... – Dei de ombros – O Brasil tem algo... Mágico.

– Você realmente acha isso? – Ele perguntou como quem discordava.

– Quando você conhecer o mundo vai perceber o quão maravilhoso é o Brasil. – Eu expliquei – Tem muita coisa errada aqui, mas eu te garanto que não é só aqui.

– E como você fez para se manter? – Ele perguntou.

– Meu pai me deu dinheiro, a ilha e nossa cobertura no Rio. Me tornei o que sou hoje, esqueci minha família e os meus sentimentos, me foquei no que é bom. E agora sou um filho da puta, que não liga para porra nenhuma, mas um muito feliz.

– E os outros? – Ele perguntou.

– A Alice eu conheci ainda criança, em uma viajem que fiz com meu pai a Inglaterra, de cara ficamos amigos. O Klaus eu conheci dois anos depois, em um internato alemão. – Eu expliquei – Cassidy é irlandesa e Emma canadense. Conheci as duas em um bar Irlandês, elas já namoravam na época. O Andrew, eu conheci na Escócia. Alice foi quem me apresentou Carlos em uma viajem que fizemos à Espanha. O Javier eu conheci na Argentina...

– Então você escolheu seus amigos ao redor do mundo? – Ele riu.

– Aconteceu... – Eu dei de ombros – Mágica atrai mágica.

– E você? – Ele perguntou – De onde vem?

– Portugal. – Eu respondi. – Um autêntico Salvattori.

– Eu sou o único brasileiro... – Ele riu.

– Você nasceu em um lugar incrível... – Eu respondi.

– O que me leva a perguntar... – Ele começou – Como vocês se comunicam? Como eu consigo entender todos vocês?

– Da mesma forma que na ilha... – Eu sorri – Mágica.

– Mágica? – Ele riu – Eu deveria ter adivinhado.

– É um feitiço simples na verdade... – Eu dei de ombros – Ele traduz a sua língua natal o que você escuta e faz com que as pessoas te ouvindo te escutem na língua delas. Qualquer dia eu te ensino...

– Foda! – Juro que os olhos dele brilharam.

– E vocês se veem sempre? – Ele perguntou.

– Não. – Eu respondi – Todos temos vida e família... Embora amemos o Brasil, sou o único com residência aqui. Sem falar que eles frequentam a Europa muito mais que eu... Nesse exato momento, por exemplo, eles estão com a família. – Entendi... – Ele deixou no ar – E você os escolheu como amigos, por serem bruxos? – Ele perguntou.

– Não... – Eu respondi sincero – Os escolhi por serem excepcionais... Mas sim, desde o inicio eu soube que eles eram bruxos... Bastou um aperto de mão. No nosso mundo, humanos sem poder não sobrevivem.

Após isso um longo silêncio se estendeu entre nós, ainda que não fosse nada desconfortável. Era, na verdade, estranhamente agradável, como se começássemos a finalmente a nos acostumar com a presença um do outro.

– Acho que vou me deitar. – Senti que era minha deixa. – Está começando a ventar frio.

– Não vai à festa na boate? – Ele perguntou.

– Não. – Eu respondi – E nem você, amanhã cedo iremos lhe comprar um apartamento...

– Eu não posso... – Ele começou.

– Aceitar? Claro que pode! – Eu gargalhei – E corta essa, sei que você quer esse apartamento... Considere meu presente de Natal.

– Boa noite! – Ele disse sorrindo enquanto eu me retirava. – Obrigado, Theo. Por tudo.

– Tenha doces pesadelos, Mateus, e acorde suado pensando em mim! – Eu respondi com um sorriso no rosto.


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