"Rastejando em minha pele
Estas feridas que não irão se curar.
O medo é o que me derruba, confundindo o que é real.
Há algo dentro de mim, que me puxa abaixo da superfície,
consumindo, confundindo.
Temo que esta falta de auto-controle, nunca acabe.
Controlando
Eu não pareço me encontrar de novo
Sem um senso de confiança.
E estou convencido de que há muita pressão para eu aguentar
Eu já me senti desse jeito antes, tão inseguro".
Crawling, Linkin Park
Fonte: Google
Minhas pálpebras estavam pesadas, como se os meus cílios fossem de chumbo; lutei durante o que me pareceu uma eternidade antes de poder abrir os olhos completamente. Eu estava sozinho nesse momento, e com frio porque a bata que eu usava era muito pequena e eu conseguia sentir que o meu traseiro estava exposto; era uma dessas roupas horríveis que te dão nos hospitais quando te internam.
E tudo nesse lugar era como um hospital sinistro. Senti medo, mas acima disso estava muito irritado com aquele filho da puta. Não bastava ele ter assassinado a minha família anos atrás e me deixar órfão, agora também queria me atacar.
Se ele me mantivesse mais tempo ali, ia acabar enfiando um pinguim na minha barriga (onde ele havia estado explorando) e me transformaria em uma quimera. Eu tinha que fugir!
Fiz um esforço sobre-humano para me pôr de pé, tudo ao redor deu voltas e me perguntei se eu não estava alucinando. Acho que eu estava nesse lugar em torno de dois meses e não havia comido e nem bebido nada desde então.
Arranquei as intravenosas que estavam conectadas em cada um dos meus braços, porque o idiota havia me aplicado duas. Do lado direito, fui menos cuidadoso e por isso saiu muito sangue, foi irritante. Despreguei algumas almofadinhas de eletrodos que tinha em meu peito e barriga e percebi que eu tinha sido operado porque tinha uma cicatriz em meu estômago. Eu achei que tinha sido um sonho, mas não... Possivelmente ele tinha tirado algum dos meus órgãos e o leiloado no mercado negro.
Então esse era o plano? O mal nascido, ia me vender em pedacinhos?
Apalpei o resto do meu corpo, e quando considerei que tudo estava no seu lugar, me senti um pouco mais tranquilo... até que escutei um barulho.
Ele tinha voltado.
Apressei-me em deitar na cama mais uma vez e escondi embaixo dos lençóis meus braços livres das vias com soro. Fechei os olhos e me concentrei em escutar os seus movimentos.
Esqueci de algo. Os aparelhos que estavam conectados em minha barriga emitiam um som, como se amplificassem as ondas que os meus intestinos faziam ao moverem-se. Agora, fazia-se muito silêncio no quarto, o que pareceu preocupá-lo. Ele se aproximou rapidamente com uma injeção em sua mão, reuni todas as minhas forças e dei um certeiro chute em seu nariz que o fez cair de costas. Fiquei de pé para chutá-lo novamente, mas ele foi mais rápido e se levantou antes; me jogou em cima de uma mesa cheia de aparelhos de operação e meu estômago doeu quando ele se jogou contra mim. Sorri, o idiota praticamente me fez alcançar armas que eu podia usar contra ele, e assim o fiz.
Atirei um bisturi em seu olho, mas não acertei, embora tenha cortado um pouco o seu nariz.
Bom, alguma coisa é alguma coisa.
Aproveitei a distração para empurrá-lo de volta na mesinha, e ele perdeu o equilíbrio. Ele caiu no chão e bateu a sua cabeça na borda de uma mesa; começou a sair muito sangue, e eu, a única coisa que eu queria era recuperar o bisturi e arrancar um órgão após o outro sem anestesiá-lo, para que ele sofresse o suficiente. Mas o filho da puta tirou o celular da sua bata branca e chamou Park Choong Jae.
Eu tinha duas opções: me aproximar dele para tentar assassiná-lo e arriscar perder a minha única oportunidade de escapar, porque eu já estava bastante fraco, ou podia fugir dali antes que Choong Jae chegasse e assassinasse a mim também.
Escolhi a segunda opção, mas, mais do que tudo por medo. Eu não tinha confiança em minhas próprias forças.
Atirei um microscópio na única janela que havia visto naquele quarto, a qual era extremamente pequena e tinha vidros polarizados, e graças à herança genética da minha mãe, eu nasci pequeno e pude deslizar através dela. Cortei uma perna e uma mão, mas nada grave. Em seguida corri como louco, com a bunda ao ar, sem me atrever a olhar para trás. Era noite, e a brisa gelada batia em mim com toda a sua força, fazendo-me sentir vivo.
Eu tinha me esgueirado de canto em canto durante várias quadras, tentando me esconder de todos. Finalmente me encontrei longe o suficiente de onde haviam me raptado, e me permiti parar e respirar. Apertei a ferida em meu ventre que pulsava dolorida. Sorri largo antes de olhar ao redor, não tinha nenhum telefone ou minha moto; eu não reconhecia o lugar em que eu me encontrava, não porque não o conhecia, mas sim porque eu estava muito aturdido.
O chão estava úmido e meus pés machucados. Eu me debatia entre a felicidade de estar vivo e a fúria por não estar morto quando uma voz captou a minha atenção... Alguém se aproximava, me agachei no canto mais escuro do beco. Eu o vi caminhar enquanto falava no celular.
— Sim, Lay, estou a caminho de lá... Um táxi?... Mas não sou inválido! Posso andar!... Não se preocupe, chegarei logo. — tratava-se de um homem que parecia do meu tamanho e de compleição física similar. Ele usava uns jeans azuis apertados, uma camiseta com a logo do falecido mandachuva do grupo Nirvana; tênis amarelos e uma jaqueta jeans azul. Eu gostei do seu look, gosto de Kurt Cobain, e eu gostava da oportunidade que a vida me dava de me fazer parar de andar com a bunda ao ar livre.
O elemento chave do meu ataque devia ser uma surpresa, porque eu não tinha forças para me envolver em uma luta justa. Então eu o deixei passar, em seguida me joguei contra as suas costas e bati com toda a minha pouca energia em sua cabeça grande. O cara caiu de bruços no chão e acho que foi de nariz, porque quando ele se virou para mim, estava sangrando. Acertei um de seus olhos com o meu dedo, sem muita força para não arrancá-lo, eu só queria desorientá-lo um pouco, e ele gritou de dor e surpresa.
— MAS, QUE DEMÔNIOS?!
Não dei à ele muito tempo antes de chutá-lo entre as pernas e fazê-lo se retorcer na rua molhada e suja. Era o ataque mais baixo da minha vida, mas eu me encontrava em uma situação desesperada. Então peguei a sua roupa o mais rápido possível; ele lutou um pouco, com certeza pensando que um louco fugitivo do manicômio queria violá-lo. Voltei a chutar-lhe os ovos, e ele se acalmou.
Quando o vi nu, descobri que ele tinha algumas tatuagens realmente bonitas, e foi quando tive esse momento de distração. Atirei a bata que antes eu usava nele e me vesti com as suas roupas e fugi sem roubar o seu celular; eu só o atirei do outro lado da rua para me dar tempo suficiente para fugir.
Caminhei e corri apoiando-me nas paredes. Minha cabeça pulsava, meu estômago e meus pulmões doíam. Sem dúvida alguma eu estava vivo, mas eu sentia como se estivesse morrendo.
Eu precisava de um cigarro, uma arma, ou melhor, um banco antes de ter um colapso no meio da rua. Eu precisava chegar a algum lugar, lembrar o número de Baekhyun e deixar que ele fosse o meu herói, o príncipe azul que vinha ao meu resgate, porém, a minha mente se recusava a clarear. Eu estava tendo uma crise nervosa, e ainda assim era consciente de que estava tendo uma crise, e por isso, eu não funcionava para merda nenhuma.
Sem perceber, cheguei em frente a um bar que reconheci, e finalmente me situei no espaço... Hard Rock Beer. Fazia quanto tempo que eu tinha visitado esse lugar? Um, dois ou três meses?
Entrei direto para o bar e tirei a carteira que encontrei na calça roubada. Descobri que havia algo eficaz ali. Pedi uma vodca e cigarros. E enquanto eu fumava, eu tentava desanuviar a minha cabeça.
Eu estava vivo? Eu realmente havia escapado daquele lugar, ou era outro pesadelo?
Eu tinha tido muitos enquanto estava ali dentro, e com a maioria deles experimentei dores físicas extremas.
A vodca queimava o meu esôfago e torturava o meu estômago, mas me dava alívio psicológico. Eu estava tentando entender quando escutei...
— É você? Olá! — disse o idiota que se sentou ao meu lado. Se não era Baekhyun, Kris ou ao menos Chanyeol, eu não queria nem saber.
Ao virar, eu o reconheci. O moreno lindo; aquele que tinha me chupado no beco na última vez que eu estive neste lugar. Sorri ao ver que a minha memória estava começando a funcionar. Lentamente, eu saía do choque e me afundava na embriaguez.
— Você se lembra de mim! — voltou a dizer, interpretando o meu sorriso como um sinal de amizade.
— Sim — respondi aliviado ao ver que não se tratava do meu captor ou do cara que eu tinha assaltado há pouco tempo, era só um moreno sexy e inofensivo.
— Eu voltei a esse bar desde então, mas eu não conseguia te encontrar... Como você tem estado? Meu nome é Kim Jongin — disse oferecendo-me a sua mão. Deixei o meu copo com vodca para cumprimentá-lo. Ele estava quente e eu gelado; quase hipotérmico.
— Eu queria mesmo voltar a te ver, Kim Jongin — menti. Bom, menti um pouco, a verdade era que, sim, eu tinha pensado nele algumas vezes (quando eu brincava sozinho).
— É sério? — perguntou esperançoso. Iludido!
Coloquei-me de pé para sussurrar em seu ouvido.
— Estou entediado aqui, por que você não me leva para a sua casa?
Eu precisava urgentemente de um lugar para descansar; um local seguro, e notava-se de longe que esse idiota não matava nem a uma mosca. Lembro-me da cara de pânico que ele fez quando pedi a ele que me chupasse no beco, e quase senti pena. Ele parecia um bom garoto, e me custa acreditar que existe gente assim atualmente.
O bom garoto não me respondeu, mas mais uma vez, ele parecia perplexo com o meu descaro, mas eu não estava disposto a perder tempo. As luzes do bar estavam me deixando tonto, a ponto de me dar náuseas.
— Percebi que você não gosta muito de brincar ao ar livre, — eu disse com o rosto em seu pescoço, enquanto acariciava o seu peito com falsa inocência — pensei que você preferiria uma sessão muito mais particular, em um ambiente que você comande.
— Por que você iria comigo? — perguntou inseguro. Eu ri, mas na verdade, eu queria chutar a sua bunda.
— Porque você é o moreno mais sexy de todo esse lugar... — respondi antes de beijá-lo. Graças aos céus por eu ter bebido vodca porque não lembro da última vez que escovei os dentes.
— Sinto muito, mas não costumo levar desconhecidos para a minha casa. Você se importa se a gente deixar para outro dia?
Revirei os olhos.
Claro que eu me importava, idiota!
— Vou transar com ou sem você. Então, se você não me levar para a sua casa, se afaste para que eu possa procurar outra pessoa.
O tal Jongin bufou.
— Como se fosse tão fácil! — ele disse.
Esse cara era um grão de areia na bunda, definitivamente.
Olhei ao redor e reconheci em uma das mesas, um homem com o qual eu havia dormido algumas vezes, Ryeowook. Ele tinha começado a chorar para termos algo sério, e por isso, eu tive que parar de vê-lo. Wookie era muito manipulável, me atraía, talvez eu pudesse usá-lo uma última vez.
Caminhei até ele.
— D.O! Que bom te ver! — cumprimentou me abraçando, e deixando de lado a mulher com quem falava. — Onde você se meteu?
— Por aqui e por ali...
— Você é horrível! Eu nem sequer deveria falar com você! Da última vez, você não me deu uma resposta — já começou com as reclamações. Ele era um verdadeiro chato, então o beijei para que ele se calasse. De canto de olho observei Jongin encarando-me com a boca aberta.
Ele deveria estar pensando que eu sou incrível por conseguir outro cara, assim, tão rápido.
Ryeowook me abraçou sem quase me dar espaço para respirar, e machucou o meu estômago ferido, então me separei dele.
— Também é bom te ver bem — eu disse, levantando a minha voz para que ele pudesse me escutar sobre essa música que soava mais forte do que nunca... Ou talvez, os meus ouvidos estivessem muito sensíveis. Então, senti a mão de Jongin segurar o meu pulso. Ele se inclinou para falar ao meu ouvido, porque ele me ultrapassava bastantes centímetros de altura.
— Se você ainda quiser ir para a minha casa, vou te esperar lá fora — me avisou antes de sair.
— Desculpe, Wookie... Meu namorado ficou com ciúmes, preciso ir embora.
Eu sabia que eu havia partido o seu coração, porque ele era assim, ridículo; mas ele tinha me procurado por insistência própria.
Quando saí, o moreno estava apoiado contra um carro vermelho muito velho, ele girava as chaves entre os seus dedos. Sorriu ao me ver e abriu a porta para mim, e quando sentei, acho que desmaiei.